⛧╾──╼⛧
SAMParei na passarela fria e frágil, olhando para o cubo de vidro da Estante. Eu tinha ido sem Nathan para ver se desenterrava alguma informação sobre o passado da minha mãe. Para isso, e também para escapar dos cochichos e olhares. A semana estava sendo pesada e solitária, e, para piorar, alguém (provavelmente Chloe) espalhou aquela foto. Depois de tanto temer que a verdade sobre meu presancestral, ou sobre a morte do meu pai, ou sobre meu passado destruísse minha vida social, eu consegui o mesmo resultado do jeito clássico: passando vergonha em uma festa. Eu me sentia inteiramente sem amigos — exceto por Billie, claro, em quem eu me apoiava mais do que gostaria de admitir.
Eu não estava tão sozinha quanto esperava. Pelo vidro, vi que a mesa que tínhamos escolhido como espaço de trabalho e as prateleiras que a cercavam eram o único foco iluminado no vácuo do cubo. Nathan estava com um joelho dobrado, a calça preta justa na coxa, e a outra perna comprida esticada. Parecia perdido em pensamentos, apertando de leve o lábio inferior carnudo com o polegar, os cachos escuros descendo pelo rosto.
Apesar de querer evitá-lo, fiquei impressionada de novo com a beleza dele, mesmo na variação inteiramente preta do uniforme que ele preferia. Ele não era bonito de um jeito que gerava um anseio, como Chloe, por exemplo — tão bonita que dava vontade de tocá-la só para confirmar que era de verdade. Também não era como a beleza de Billie: os traços dela eram como um mapa impossível de aprender, por mais que se estudasse. Nathan era bonito de um jeito que me fazia querer evitar tocá-lo — me fazia querer examiná-lo de todos os ângulos e guardá-lo em uma caixa protetora. Ou seja, apesar de ser o único ser vivo dentro do cubo mal oxigenado da Estante, ele parecia pertencer ao lugar.
Passei meu cartão no leitor e o lacre da porta se abriu com um shhhh. Peguei a cadeira na frente dele.
Ele se endireitou no assento.
— Como você está? Quer dizer, está tudo...
— Uma merda? Basicamente — falei, sem conseguir soar tão leve quanto pretendia. — Você ouviu o que andam falando.
Ele abriu um sorriso suave.
— Até parece que você liga para o que andam falando.
Mas eu ligava, sim. Ligava mais do que deveria, e queria parar de ligar, mas não conseguia. Sempre que Chloe ou Jude faziam algum comentário cruel, parte de mim queria morrer. Essa parte não se consolava pelo fato de Chloe e Jude serem lixos ambulantes.
Nathan estava me olhando com certa admiração.
— Não acredito que você escreveu aquilo.
— Mas eu não escrevi.
— São todas as suas ideias.
— Devem ser as ideias de mais alguém.
Ele me deu uma piscadela conspiratória.
— Enfim, achei a coluna, que foi escrita por outra pessoa, muito boa. Fiquei pensando que a Fundação vai curar a DFaC num futuro próximo. A gente deveria falar do tipo de mundo em que queremos viver quando isso acontecer.
Mordi a língua. Eu precisava parar de ficar com raiva dele por não ter chegado àquelas conclusões mais cedo, e me concentrar em ficar feliz que tivesse chegado a elas, ponto.
— Então que tipo de mundo você quer que seja? — perguntei.
Ele franziu a testa.
— Acho que... teremos que proteger a Vampiria, em primeiro lugar.
Joguei a caneta nele. Bateu no ombro, e ele tentou pegá-la.
— Não pedi uma imitação de Victor Castel. O que você acha?
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SANGUE FRESCO, billie eilish
ParanormalSam Clarke e sua mãe são duas vampiras vivendo entre os humanos que precisam se esforçar para pagar as contas e comprar Hema, o sangue sintético caríssimo de que todos os vampiros necessitam para sobreviver, desde que a humanidade foi quase inteiram...