⛧╾──╼⛧
SAMJá era meio de novembro e, todo dia, a grama reluzia com a geada. Fiquei agradecida pelos suéteres arrumadinhos e sobretudos que o Benfeitor botara no meu armário.
Pensei que o tempo ajudaria, mas os dias passados desde o beijo — o beijo — não tinham ajudado em nada para atenuar minha memória. Eu mal conseguia olhar para Billie sem pensar em beijá-la. No dia em que ela me puxara para o banheiro, depois da assembleia, eu achara que ia entrar em combustão apenas por estar tão perto dela. A última coisa que eu queria era falar de Nathan.
Infelizmente, os últimos dias também não tinham mudado o que Billie sentia. Ela ainda estava irritada pelo que eu dissera na assembleia — o que me enfurecia, porque ela sabia que eu não acreditava naquilo — e por eu não ter informado que estava namorando Nathan — o que também me enfurecia, porque ela não me contara que estava com Chloe , que era pior do que ele literalmente de todos os modos.
Na aula, eu começara a notar Chloe olhando para Billie, como se não estivesse apenas sonhando em despi-la, mas em desmontá-la completamente. Provavelmente era muito sexy ter um relacionamento secreto. Apesar de eu não entender bem por que precisava ser secreto. Esperava que fosse por Chloe ainda não estar pronta para sair do armário, porque se um pingo daquilo fosse por ela ter vergonha de Billie, eu enfiaria uma estaca no coração de Chloe pessoalmente.
Ultimamente, Billie passava todo o tempo livre na produção técnica da peça de Chloe, que estava sendo ensaiada em preparação para o Dia dos Descendentes. Uma voz no fundo da minha mente insistia em perguntar se era mesmo ensaio, ou se estavam fazendo outra coisa juntas, mas não era da minha conta. Billie era demais — sentimentos demais, encrenca demais, distração demais.
Eu tinha que me concentrar em outras coisas. Como em Nathan. Que eu ainda estava namorando.
⛧╾──╼⛧
Nathan e eu nos encontramos na biblioteca. No instante em que entramos na Coleção Estendida, antes mesmo de chegarmos ao cubo de gelo bizarro da Estante, ele me girou e me beijou.
Ele me pegou inteiramente de surpresa, o que me fez perder o fôlego. Inspirei o cheiro dele, um perfume bem de adulto e um toque de Hema no hálito. Ao retribuir o beijo, tentei me perder no ato, mas pensamentos de pânico me surgiram.
Gosto disso o bastante? Como exatamente é um beijo? É para eu relaxar mais ou já estou parecendo excitada? E por que estou pensando tanto nisso? Quando vai começar a ser bom? Por que não me sinto bem?
As mãos de Nathan me tocavam inteira, e as minhas estavam só caídas que nem peso morto na ponta dos braços. Eu devia tocá-lo também, mas fazer isso me parecia impossivelmente estranho — como era para tocá-lo? De repente, meus olhos arderam com lágrimas traidoras. Eu me afastei. Foi a primeira coisa certa que fiz na vida inteira que se passara desde que ele grudara a boca na minha segundos antes.
Ele me fitava com seus olhos cinzentos, através de cílios tão densos que pareciam roubados de uma boneca. Eu tinha certeza que ele notaria, pela minha postura tensa, que havia algo errado ali.
Mas aí ele curvou a boca em satisfação.
— Passei o dia querendo fazer isso — falou, rouco.
Senti o peito afundar, de alívio, ou talvez decepção, e me desvencilhei de onde ele me pressionara contra a porta.
— É para a gente trabalhar.
Eu gostava dele. Gostava mesmo. Mais ou menos. O problema era que eu queria gostar mais dele, ou gostar de um jeito diferente, ou... eu não sabia bem. As afetações dele — a sobrancelha arqueada, a voz grave — tinham parado de me irritar há semanas. Eu as entendia agora como uma espécie de armadura, mesmo que ele não tivesse me mostrado exatamente o que estava protegendo. O rosto impecável, os ângulos perfeitos, como se a luz e as sombras tivessem sido inventadas para delinear perfeitamente o herdeiro da Vampiria. Ele tinha tanto, mas, ainda assim, nunca conseguira aquilo de que precisava, e estava feliz comigo. Ele merecia isso, não?
VOCÊ ESTÁ LENDO
SANGUE FRESCO, billie eilish
ParanormalSam Clarke e sua mãe são duas vampiras vivendo entre os humanos que precisam se esforçar para pagar as contas e comprar Hema, o sangue sintético caríssimo de que todos os vampiros necessitam para sobreviver, desde que a humanidade foi quase inteiram...