⛧╾──╼⛧
BILLIEEu corri.
No segundo em que o ar gelado bateu em meu rosto, mesmo antes que a porta da Hunter se fechasse, eu comecei a correr.
Se alguém me visse, me acharia uma idiota, e se alguém me pegasse, provavelmente me denunciaria por alguma violação do Código de Honra. Mas eu não ligava, porque, enquanto corresse, não podia chorar.
Ou deveria ser assim.
Eu não sabia aonde estava indo, mas, se fosse chorar, desabar ou sumir da face da terra, pelo menos o faria sozinha. Quando cheguei ao campo de lacrosse, as lágrimas escorriam pelo meu rosto — como se a única coisa que a corrida tivesse feito fosse roubar a energia da minha defesa antichoro.
Não era nem que eu estivesse pensando no beijo. Não conseguia pensar no beijo. Havia uma mancha preta no meu cérebro que apagava tudo exceto a voz que repetia: Eu sinto muito. A cada passo na grama macia: Eu sinto muito, eu sinto muito, eu sinto muito. O momento em que ela notou o erro. Eu já sabia que, quando me pedisse, depois, para manter segredo, eu aceitaria. Fingiria que nada aconteceu. Nunca mais mencionaria. Nada teria que mudar.
— Billie!
Merda.
— Fala sério, não corro rápido que nem você.
De tudo que Sam poderia dizer, não era aquilo que deveria ter me feito desacelerar, mas fez. Sam não corria rápido que nem eu, nem perto, e o fato de que ainda assim conseguira vir atrás de mim até o campo de lacrosse era surpreendente o bastante para me fazer parar. Não me virei — não me viraria com o peito ofegante e o rosto encharcado de lágrimas.
Por que ela veio atrás de mim, afinal? Como se eu já não soubesse, melhor do que ninguém, quão pouco um beijo podia significar, especialmente comigo. Esfreguei a mão no rosto, tentando secar as lágrimas.
O beijo certamente não teria importância nenhuma para ela. Se tivesse, como ela teria atravessado o quarto e me beijado, simples assim? Ela podia fazê-lo porque não passara anos sofrendo com aquilo, sonhando com uma causa perdida, como eu. Não se importava o bastante para se perguntar se tinha esperado o melhor momento, se seria exatamente como ela imaginava, se eu ficaria completamente enojada e contaria para a escola inteira. A partezinha esmigalhada da minha alma ainda viva deveria ter ficado feliz. Em vez disso, eu me sentia traída, e usada. E muito, pateticamente, triste.
— Olha para mim?
A voz dela soou mais distante do que eu esperava. Eu tinha acabado de passar do meio de campo, mas, quando me virei, devagar, ela ainda estava perto do gol.
O campo era diferente à noite, as árvores nos cercando como renda preta, cada folhinha de grama visível na luz cinzenta da lua cheia. As linhas brancas do campo pareciam brilhar no escuro. Naquela luz, Sam estava mais para fantasma do que vampiro: a pele prateada e o cabelo solto, a bermuda e os pés descalços, as mangas do moletom engolindo as mãos.
Eu queria me aproximar e beijá-la. Saber que eu não podia, que nunca poderia, me fazia querer desaparecer para sempre.
Sam avançou devagar, como se tentasse se aproximar de um animal selvagem que não queria assustar. Justo. Ela parou a poucos metros de mim com as mãos cerradas dentro das mangas do moletom.
— Você está bem?
Cruzei os braços com força no peito. O frio já entrara pela minha camisa, solta da cintura da calça, havia muito tempo.
— Foi isso que você veio até aqui perguntar? Estou só sucesso. Melhor dia da minha vida.
— Eu vim aqui porque você fugiu. Era para eu deixar você sair aí vagando pela noite, obviamente chateada?
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SANGUE FRESCO, billie eilish
ParanormalSam Clarke e sua mãe são duas vampiras vivendo entre os humanos que precisam se esforçar para pagar as contas e comprar Hema, o sangue sintético caríssimo de que todos os vampiros necessitam para sobreviver, desde que a humanidade foi quase inteiram...