- Capítulo II

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Gustav Elijah

  Eu disse que estava cansado, sim, eu sei. Mas depois de responder algumas mensagens fui verificar minhas redes sociais e acabei de distraindo um pouco. Mas logo fui tirado a atenção quando uma garota, não muito alta e de longos cabelos rosas se sentou a minha frente.

— Tem alguém sentado aqui? - a garota diz com um sorriso sem mostrar os dentes, como se tivesse fazendo suspense.

  Demorei alguns segundos para raciocinar, no começo pensei que fosse uma fã ou algo assim, mas quando observei atentamente seu cabelo, um sorriso e uma expressão surpresa se fez em meu rosto ao descobrir finalmente quem era.

  Sophia Rossi, uma de minhas melhores amigas (e única) da escola.

  Nós estudávamos juntos no fundamental um e dois, porém, Sophia teve que se mudar para seu país natal, a Itália. E isso complicou bastante nossa amizade. A gente era inseparável na escola, aonde eu ia ela ia atrás e vice versa. Lembro das diversas vezes que fomos para diretoria por cabular aula ou xingar o professor. O problema foi que eu comecei a gostar dela, mas não podia pois era minha única companhia na escola e eu não queria de jeito nenhum me afastar dela. Eu odiava a escola com todas as minhas forças, tanto é que larguei logo no ensino médio, e as vezes eu apenas ia para vê-la. Nos identificamos muito naquela época, ela tinha problemas com os pais, eu também... Quer dizer, nunca tive algum problema com minha mãe, mas minha relação com meu pai era horrível. Isso também foi outro motivo para termos nos afastado um do outro, mas a gente não ligava muito, sempre que havia algum problema sabia que podia contar com ela para qualquer coisa.

  A reconheci pelo cabelo rosa, pois quando tinha 14 anos, ela decidiu tacar o "foda-se" e pintar seu cabelo escondido, eu lembro da gente atrás da escola e uma hora ela chorava se arrependendo e falando que agora seus pais a odiavam, e outra hora ela estava chutando a lixeira da escola de felicidade por finalmente completar um de seus maiores sonhos. Sophia era muito bipolar e tinha alguns problemas mentais, e ela era muito fechada e só conversava de seus problemas comigo, mas eu não era a melhor pessoa para ajudá-la, já que na época que ela desenvolveu eles eu também havia me envolvido com drogas. Sophia sempre me admirava muito, tanto quanto eu a admirava, quer dizer, eu sempre gostei de seu jeito revoltado, ela nunca deixava de ficar calada em questão a nada e sempre falava sua opinião independente de qualquer coisa, e eu adorava isso nela. Agora eu nunca entendi o porquê de sua admiração por mim, as vezes ela falava que eu era muito guerreiro e que não me importava com oque as pessoas pensavam sobre mim, a se ela soubesse a verdade...

Após perceber que estava há alguns minutos a encarando com um olhar pensativo e com o mesmo sorriso, eu percebo que ela estava esperando alguma coisa sair de minha boca e finalmente decido dizer algo.

— Sophia? - eu tinha que ter certeza para saber se estava delirando e falando sozinho.

— A mesma. - seu sorriso agora se estende, mostrando seus dentes brancos e sua covinha na bochecha.

  Pude sentir um leve arrepio ao ouvir sua fala claramente divertida com o jeito que eu estava. E isso me lembrou do quanto gostávamos de provocar um ao outro, fazendo parecer que éramos quase inimigos.

— Meu deus... Você... Está linda. - eu digo com dificuldade, embalando as palavras enquanto a observava de cima a baixo.

— Agradeço. Você também está... Diferente. - ela diz me analisando também de cima a baixo, mas com um olhar não tão surpreso quanto o meu.

  Não querendo me gabar ou algo do tipo, mas ela com certeza já deve ter me visto em algum canto, por isso não estava tão chocada como eu. Já eu, parecia que havia a visto pela primeira vez, e foi, a primeira vez em anos.

— Seu cabelo continua o mesmo. Quer dizer, não mudou muita coisa durante esses quatro anos. - eu digo voltando meu olhar para seus fios levemente desgrenhados. Minha expressão se suavizou um pouco, mas ainda não deixa de ser surpresa.

Sophia Rossi

  Eu agradecia pelo barulho desconfortável do ar-condicionado ter disfarçado o som evidente do meu coração que batia tão rápido e forte, que se eu fechasse os olhos, certeza que iriam achar que estava tendo um AVC.

  Estava tão feliz e animada por ver Gustav novamente, depois de tantos anos fico feliz por ele ainda se lembrar de mim, jurei que não iria fazer muita falta. Eu tentava disfarçar minha alegria e ansiedade com um tom confiante e brincalhão.

  Eu já havia visto ele nas redes sociais, mas vê-lo assim de perto novamente parecia estranho. Bem, da ultima vez que o vi pessoalmente, ele era bem mais novo e não tinha tantas tatuagens. Hoje ele parece bem mais velho, tem barba e parecia bem mais alto do que a ultima vez. Não que eu não tenha gostado, aliás seu novo cabelo colorido ficava lindo nele, e rosa combinou bem mais com ele do que comigo, e isso me deixou com uma leve inveja, ou talvez ciúmes.

— Se inspirou em mim? - eu disse inclinando a cabeça em direção ao seu cabelo, o observando com atenção enquanto havia um sorriso confiante e divertido nos lábios.

— Um pouco, mas coloquei preto para ser um pouco mais original - ele diz rindo e inclinando levemente a cabeça. Meu deus, nem acredito que estou ouvindo sua risada de novo, parece até um sonho.

— Sempre achei que rosa combinava comigo, mas parabéns, conseguiu me provar o ao contrário. - eu apoio meu queixo em uma de minhas mãos.

— Eu não concordo, rosa combina bem mais com você, talvez seja porquê eu já estou acostumado. - ele diz se encostando no banco e soltando um longo suspiro.

— Uau, achei que nunca te veria novamente e agora você está aqui, na Califórnia... - ele cruzou os braços e encarou a mesa de uma forma pensativa e desacreditada.

— Nem eu. Na verdade vim aqui por causa dos estudos, quero ser fotografa e recebi um anuncio legal de um curso de fotografia e não pude resistir. Não muito por causa do curso e sim por finalmente me livrar de meus pais. - eu digo fazendo uma pequena careta no final ao falar de meus pais, e percebo seu olhar subir para o meu.

Bem, depois disso a conversa foi fluindo, estava um pouco sonolenta por causa do calmante mas ele também parecia estar, então tentei não dar muita importância. Achei surpreendente como mesmo depois de anos sem se falar, a gente ainda consegue conversar normalmente sem sentir nenhum desconforto.

Durante uma de nossas risadas, o vidro ao nosso lado bateu e olhamos juntos, claramente assustados com o susto do vidro batendo, mas era apenas o motorista do uber. Ele fez um sinal me chamando, eu assenti e pedi licença para Gus. Quando eu saí do estabelecimento, claramente confusa com seu toque, percebi que sua expressão não era nada boa, o cara parecia estar com raiva e havia fundas olheiras em seu rosto, as quais não havia prestado atenção antes, se é que tinha antes.

— Olha, não vou poder ficar aqui por nem mais um minuto! Eu estou cansado e quando chegar em casa minha mulher vai começar um questionário ao qual não estou nem um pouco afim de responder. Me pegue metade, não me importo, eu só quero ir embora logo. - Seu tom era forte e rígido, parecia que estava levando um sermão.

Uma expressão desacreditada surgiu em meu rosto e eu franzi o cenho enquanto ele cuspia suas palavras em meu rosto. Tentei implorar para que ele ficasse mais um pouco pois era impossível arranjar outro uber a essa hora, mas ele não quis nem saber, e não tive outra opção anão ser dar seu dinheiro e o deixar ir embora.

...

De volta ao Passado 💫 - lil peepOnde histórias criam vida. Descubra agora