- Capítulo XXXVII

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Esse capítulo também contém cenas um pouco explícitas de automutilação, aconselho parar por aqui caso seja sensível a esse tema.

Sophia Rossi

Era de noite, por volta das 23h05, e a casa estava uma completa bagunça, provavelmente por ser apenas o primeiro dia. Eu estava no meu quarto, com as luzes apagadas e quase caindo no sono, até que a porta bate com força e eu ouço as vozes dos amigos de Mack e a dele.

— Que porra é essa? — me assusto ao ver cinco homens entrando de uma vez no quarto.

— Eu vou ficar aqui. — Mack diz, com a voz arrastada por causa das drogas, o que não era surpresa.

— Não, você não vai. Estou tentando dormir, e você não pode entrar do jeito que quiser com quinze ou sabe-se lá quantas pessoas, e se eu estivesse pelada? — digo, irritada, a raiva evidente na minha voz.

Mackned segura meu braço com força e aperta "delicadamente". Não me surpreendo; era normal ele ficar agressivo quando usava drogas, especialmente quando bebia, e, sinceramente, pouco me importo. Se ele algum dia me batesse, eu retrucaria mil vezes pior. — Ou talvez só chorasse e me cortasse, como sempre faço. —

— Ah, eu vou, vou sim, porque o quarto não é só seu, e quem iria se importar de ver uma tábua dessa pelada? Sinceramente, já vi coisa bem melhor do que esse seu corpo sem sal. Agora, se puder dar licença. — Ele me empurra em direção à porta.

Os amigos dele seguraram o riso, e alguns até olharam surpresos, mas ninguém fez nada. Eu apenas revirei os olhos diante da ignorância dele, não dando importância para o comentário desnecessário, e mostrei o dedo do meio antes de sair para o extenso e escuro corredor. Olhei para a cozinha e pude ouvir os gritos das garotas na piscina e as risadas dos rappers.

Andei um pouco pelo corredor e entrei no banheiro, que, graças a Deus, estava vazio. Me olhei no espelho e vi o rosto cansado à minha frente; quase me assustei. O Halloween nem chegou e eu já estou fantasiada para assustar as crianças. Eu havia perdido totalmente o sono, mas ainda estava tão cansada quanto uma mãe de recém-nascido. Abri o espelho e procurei por algo. Não encontrei e comecei a vasculhar o banheiro inteiro, até finalmente achar.

Faço meu truque, que aprendi há muito tempo, e finalmente consigo tirar a lâmina da gilete. Tranco bem a porta do banheiro para que ninguém me interrompa no meu momento conturbado, me sento no vaso e começo o meu "pesadelo". Fiz dois cortes no braço, não muito grandes, mas bem profundos. Tive que usar a toalha de rosto para estancar o sangue e segurar por um bom tempo até que finalmente parasse de sangrar. Nessa hora, a porta bateu, e eu me assustei, pulando do vaso e gritando que já estava saindo.

Joguei a toalha no lixo e lavei bem o rosto. Abri a porta, e uma pessoa, que nem percebi quem era, entrou apressadamente. Ignorei e tentei achar um lugar para ficar. Já tinham se passado uns 30 minutos desde que tinha entrando no banheiro, mas a bagunça na mansão parecia a mesma, com a mesma gritaria e o mesmo barulho de antes. Tentei entrar no quarto, mas Mackned ainda estava lá com seus amigos.

Suspirei e zumbi, frustrada, ao ver que a porta do quarto estava trancada. Me encostei na porta e olhei ao redor. Todos os quartos pareciam ocupados, menos o que estava em frente ao meu; ele parecia silencioso e escuro. Entrei lentamente e, ao não ver ninguém à frente, rapidamente entrei e fechei a porta, suspirando aliviada por finalmente poder ficar sozinha.

— Posso ajudar em alguma coisa? — diz uma voz familiar.

  Tomo um grande susto e olho rapidamente para o lado, vendo a figura loira deitada na cama enquanto fumava um baseado.

— Desculpa, pensei que o quarto estava vazio. Eu já estou saindo. — digo, com uma expressão constrangida.

— Pode ficar, se quiser. Lá fora está uma barulheira. — ele diz, antes de tragar o baseado.
 
  Suspiro, por ele me deixar ficar, embora eu não soubesse se era de alívio ou de nervosismo por estar ao lado dele depois de tanto tempo.

— Senta aí. — ele me convida a sentar ao seu lado na cama.

  Vou até ele, parecendo tímida e envergonhada, e me sento ao seu lado, na mesma posição — encostada na cabeceira da cama. — Ele inclina o baseado para mim, me oferecendo, solta uma baforada de fumaça, e eu, obviamente, aceito. Maconha de graça, quem não aceitaria?

— Então, como está seu relacionamento com o Mack? — ele pergunta, esperando que eu termine de tragar para lhe devolver o beck.

— Um inferno total, ele é um completo drogado. — digo logo depois de soprar toda a fumaça da erva e devolver o baseado para ele.

— Eu também sou um drogado. — ele diz, rindo.

— Mas não como ele. Você se droga para tentar fugir de uma dor que sente quando está sóbrio; ele se droga porque acha legal e engraçado. Na verdade, acho que ele só se droga por não ter nada pra fazer e por ser um completo vagabundo. — finalmente digo tudo o que queria.

— Se você o odeia tanto assim, por que continua com ele? Não faz sentido ficar com alguém que você não ama. — ele diz, tentando olhar em meus olhos, mas eu desvio o olhar.

— Você ama a Arzaylea? — finalmente o olho com um olhar direto.

  Ele pensa um pouco, ainda olhando nos meus olhos, e traga o baseado, voltando a olhar para o quarto, ignorando completamente minha pergunta. Eu rio, sabendo que estou certa.

  Passamos um tempo conversando, o suficiente para ficar chapados a ponto de nem saber onde estávamos. Bom, pelo menos eu, né.

— Tá, tá, vamos lá. Qual foi a maior burrada que você já fez na vida? — digo, com a voz arrastada e hálito de maconha.

— Ter deixado você escapar dos meus braços tão facilmente. — ele diz, também com a voz arrastada. Por mais que a frase parecesse séria, ele a disse com tanta leveza que eu quase duvidei de sua sinceridade.

— Estou falando sério, Gustav... — digo, empurrando levemente seu ombro com o meu.

— Eu também estou, Sophia. — ele diz, com um sorriso divertido no rosto, e eu começo a rir. — Por que está rindo? —

— Porque eu não acredito em você. — digo, rindo e olhando para meus pés enquanto os balanço.

  Então Gustav coloca delicadamente a mão em meu queixo e me inclina para olhar em seus olhos. Fico um pouco confusa no início, mas logo começo a me perder em cada detalhe dele. Seus olhos estavam divididos entre meus lábios e meus olhos, alternando rapidamente entre um e outro, até que finalmente nossos "quebra-cabeças" — nossos lábios — se juntam em um beijo sintonizado.

  Me surpreendo de início, mas logo retribuo sem medo e sem hesitação. Ele pede espaço para que possamos entrelaçar nossas línguas, e eu aceito, começando um beijo profundo e suave. O beijo estava tão bom que precisamos fazer pequenas pausas para recuperar o fôlego rapidamente.

— E se Arzaylea ver? Ela pode entrar a qualquer momento... — sussurro durante uma das pausas, mas volto a beijá-lo logo em seguida para não perder tempo.

— Foda-se essa piranha, ela deve estar transando com outro agora mesmo. — ele diz na outra pausa do beijo e, logo depois, pula em cima de mim como um leão faminto.

...

Sem ideia do que por aqui...

De volta ao Passado 💫 - lil peepOnde histórias criam vida. Descubra agora