Cicatrizes do Passado

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Estou me secando após o banho, passando a toalha pelo corpo enquanto observo Ran pelo reflexo do espelho. Ele está sentado na beirada da cama, em silêncio, penteando o cabelo com movimentos lentos. Seu olhar está fixo em algum ponto distante, quase como se ele estivesse vendo algo que eu não consigo enxergar. Eu conheço bem esse olhar, o modo como seus olhos perdem o foco, se fixando em lembranças que ele tenta, mas nunca consegue apagar completamente.

Ran parece distante, preso em algum lugar do passado, onde eu sei que ele não quer estar. Continuo me secando, mas meus olhos não deixam de acompanhar cada movimento dele, atento ao que ele pode dizer ou fazer.

De repente, ele para de pentear o cabelo, suas mãos descansando no colo, e seu olhar se volta para mim. Há uma vulnerabilidade em seus olhos que me faz parar também. Quando ele finalmente fala, sua voz é baixa, quase como um sussurro, mas carrega um peso que me atinge profundamente.

— Você me ama de verdade, Mochi? — ele pergunta, e eu vejo as lágrimas começando a se formar em seus olhos. — Você me trairia?

Meu coração aperta no peito ao ouvir essas palavras. Sem pensar duas vezes, me aproximo do Ran e me ajoelho na frente dele, segurando suas mãos. A dor que vejo em seus olhos me lembra de algo que nunca desapareceu completamente, um trauma que ele carrega há tanto tempo. Eu sei o que isso significa, o peso das ações do Smiley ainda assombrando ele, criando cicatrizes que, por mais que eu tente, não consigo curar completamente.

— Ran, minha princesa. — digo com firmeza, olhando diretamente nos seus olhos. — Eu te amo mais do que tudo. Nunca, nunca faria algo para te machucar. Nunca te trairia.

Eu aperto suas mãos, tentando passar toda a segurança que posso.

— Você é tudo para mim. Não importa o que aconteça, eu estou aqui, com você. Sempre.

Ele fecha os olhos, e uma lágrima escorre pelo seu rosto. Eu a limpo delicadamente, sentindo a urgência de fazer com que ele acredite em cada palavra que eu digo. Porque eu sei que, por mais que o ame, por mais que esteja ao lado dele, as feridas do passado ainda estão lá, escondidas sob a superfície.

— Eu sei que o que aconteceu antes te machucou profundamente, meu amor. — continuo, com a voz suave, mas cheia de convicção. — E eu entendo o porquê de você sentir medo. Mas eu estou aqui para te provar, todos os dias, que você pode confiar em mim. Que eu nunca vou fazer você passar por aquilo de novo.

Ele abre os olhos, me olhando de uma forma que quebra meu coração, e eu sei que essas feridas vão levar tempo para cicatrizar. Mas não importa o tempo que leve, eu estou aqui para ele, para ajudar a carregar esse peso, para amá-lo de um jeito que ninguém mais amou antes.

Ran não diz nada, mas vejo em seu olhar que minhas palavras estão começando a surtir efeito. Eu o puxo para mais perto, envolvendo ele em meus braços, sentindo a tensão em seu corpo aos poucos se dissipando.

— Eu estou aqui, Ran. — sussurro em seu ouvido. —E sempre vou estar. Eu te amo. Nada, nem ninguém, vai mudar isso.

Ele encosta a cabeça em meu ombro, e nós ficamos assim por um tempo, em silêncio, enquanto o peso do passado se mistura com a segurança do presente. E eu faço uma promessa a mim mesmo: farei o que for preciso para garantir que Ran nunca duvide do meu amor por ele.

Ran começa a chorar, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto ele se afasta ligeiramente, olhando para mim com olhos cheios de arrependimento. Ele tenta falar, mas a voz falha no início, como se as palavras estivessem presas em sua garganta. Finalmente, ele consegue dizer algo, e o som da sua voz quebrada me atinge como um golpe.

— Me desculpa, Mochi. — ele diz, com um soluço escapando. — Me desculpa por ficar me lembrando do passado, por trazer isso à tona de novo.

Meu coração aperta ao ouvir isso. Ver Ran assim, tão vulnerável e sofrendo, é algo que me destrói por dentro. Ele está lutando com fantasmas que eu queria poder apagar, mas que, infelizmente, continuam a assombrá-lo.

Eu o puxo de volta para meus braços, envolvendo ele em um abraço apertado, como se meu toque pudesse, de alguma forma, afastar toda a dor que ele está sentindo. Com uma das mãos, acaricio suavemente seu cabelo, tentando transmitir toda a calma e segurança que ele precisa.

— Ei, não precisa se desculpar. — murmuro contra o seu cabelo, mantendo minha voz suave e reconfortante. — Não é culpa sua, Ran. É natural que o passado às vezes volte à sua mente. Você passou por muita coisa. Eu entendo isso.

Ele continua a chorar, o rosto escondido em meu peito, e eu sinto sua dor como se fosse minha.

— Eu estou aqui para você. — continuo, minha voz firme, mas cheia de carinho. — Eu te amo e estou aqui para te apoiar, para enfrentar qualquer coisa com você, inclusive esses momentos difíceis.

Ran não diz nada, mas o sinto apertando os braços ao meu redor com mais força, como se precisasse de algo tangível para se segurar. E é isso que eu quero ser para ele: a âncora que o mantém seguro, a pessoa em quem ele pode confiar completamente, mesmo nos momentos em que ele sente que está se afogando em suas próprias emoções.

— Você é forte, Ran, muito mais forte do que pensa. — digo, ainda acariciando seu cabelo. — Mas, mesmo os mais fortes têm momentos de fraqueza, e está tudo bem. Eu estou aqui para você, e sempre vou estar.

Aos poucos, os soluços começam a diminuir, mas ele não se afasta de mim. E eu não quero que ele se afaste. Vou segurá-lo o tempo que for necessário, até que ele sinta que pode soltar um pouco do peso que está carregando.

— Não importa o que tenha acontecido antes, meu amor. — continuo, minha voz um pouco mais baixa agora, como um sussurro reconfortante. — O que importa é que estamos aqui, juntos. E nada vai mudar isso. Eu te amo exatamente como você é, com todas as suas forças e todas as suas cicatrizes.

Ele finalmente ergue o rosto para me olhar, seus olhos ainda brilham com lágrimas, mas há algo diferente agora, uma aceitação que começa a emergir em meio à dor. Eu limpo suavemente as lágrimas do seu rosto, sentindo um alívio ao ver que, mesmo que pouco a pouco, ele está começando a se acalmar.

Ran balança a cabeça lentamente, como se estivesse tentando acreditar nas minhas palavras. E eu sei que, com o tempo, ele vai conseguir. Mas até lá, vou continuar ao seu lado, lembrando ele todos os dias do quanto ele é amado, do quanto é importante para mim.

— Vamos superar isso juntos, Ran. — digo, com toda a convicção que consigo reunir. — Sempre juntos, princesa.

Doce Tentação (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora