023. NOJENTO.

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𝐀𝐍𝐈𝐓𝐀 𝐂𝐀𝐌𝐏𝐎𝐒

Tem uma garrafa de vinho quase vazia na mesinha de centro da sala, e não a nada mais cobrindo meu corpo do que um hobby largo ao redor.

Não estou me sentindo bem. Acho que essa é a primeira vez depois de meses vivendo a vida como uma maluca que eu não me sinta tão confortável como antes.

Toda essa situação de ser amante, vivendo uma vida dupla entre o trabalho no only e minha boa reputação como fotógrafa... Tudo tem me feito pensar bastante se está valendo a pena.

Já tenho 27 anos, quase 28 que faço no meio do mês que vem, e não me sinto nem 50% realizada. E digo em relação ao meu pessoal, porque sou feliz com oque tenho, minha casa, minha moto quitada, a vida de classe média que eu mesma consigo sustentar. Mas em compensação, minha vida pessoal está um desastre.

– ALEXA! — grito. – Tocar, Marília Mendonça.

- Ok, abrindo a playlist Marília Mendonça no Spotify.

E então ela dá play, na pior música pro momento que estou vivendo.

"Bem pior que eu."

O ritmo dela é animado, mas a letra... A letra parece uma indireta pra mim, bem específica.

– Alexa, filha da puta. — murmurro, levando a última taça de vinho até a boca.

O vinho não me deixa bêbada, pra ser sincera, parece nem fazer mais efeito depois de tantas taças. A música baixinha e o cheiro da vela perfumada pela casa deixa meu estado ainda mais melancólico.

Meu Deus! Eu não consigo entender porque me sinto assim. Tão vazia, tão errada, tão solitária... Às vezes eu queria ser um pouco como minha prima Isabel, rezar mais, viver mais quieta, esperando que o destino jogue nos meus pés um homem tranquilo, que me respeite e que cuide de mim.

E o Raphael com certeza não é essa tranquilidade.

Fico olhando pra taça quase vazia na minha mão, a luz fraca da sala refletindo no vidro. A ligação de mais cedo com o Raphael ainda ecoa na minha cabeça, e a ideia de que eu possa ter interrompido ele com a Bruna me deixa desconfortável.

Sabe, quando liguei, eu realmente estava com aquela sensação de que precisávamos conversar, que algo estava fora do lugar. Mas nunca imaginei que fosse interromper o "momento" deles. E, por mais que eu brinque, isso me atingiu de um jeito estranho, me forçando a pensar ainda mais na situação em que me meti.

Eu aceito ser a outra. Eu aceito viver na sombra, na clandestinidade, me contentando com migalhas de tempo e afeto. Mas por quê? O que me faz aceitar isso?

E a Bruna... Eu não consigo acreditar que ela não saiba de nada. É impossível. Na minha cabeça, ela já sabe, só não quer enxergar. Talvez ela aceite por medo, por insegurança, ou talvez porque, assim como eu, ela também está perdida. A diferença é que ela está presa em uma relação que deveria ser estável, enquanto eu... Eu estou presa a dias de 20 minutos de pura adrenalina.

Está tudo tão errado, tão fora de controle, que nem o vinho, nem a música conseguem me anestesiar mais.

As batidas na porta me despertam dos pensamentos sombrios e da melancolia que se instalou. Meu coração acelera, e por um instante, fico ali, parada, tentando decifrar se foi apenas a minha imaginação ou se realmente há alguém do outro lado.

– Quem é? — pergunto, a voz saindo meio rouca, e recebo apenas o silêncio como resposta.

Me levanto, meio cambaleante, sentindo o efeito das taças de vinho que não deveriam me atingir, mas que agora parecem fazer a sala girar um pouco. Caminho até a porta, hesitante, e a abro lentamente, esperando qualquer coisa menos o que vejo à minha frente.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora