034. INSACIÁVEL.

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𝐀𝐍𝐈𝐓𝐀 𝐂𝐀𝐌𝐏𝐎𝐒

Fico deitada sobre o peito de Raphael, na verdade, estou aqui a um bom tempo já. Escutar o coração dele levemente acelerado e a respiração descompassada é estranhamente reconfortante.

Ele parece meio deslumbrado ainda, os olhos fixos nos pingos finos da tempestade que parece ter dado uma trégua lá fora.

Seus dedos traçando linhas suaves nas minhas costas, como se ele tentasse acalmar algo dentro de mim. O toque é leve, mas o efeito que provoca é profundo. Não sei se ele faz isso de propósito ou se é só um reflexo, mas cada carícia parece uma tentativa de prolongar o que acabou de acontecer entre nós.

O silêncio continua. Não é um daqueles silêncios pesados, desconfortáveis. Pelo contrário, é um silêncio de compreensão, de quem já sabe o que o outro está pensando sem precisar perguntar. Eu não quero falar, e pelo jeito ele também não. Estamos juntos, mas presos dentro de nossas próprias cabeças, tentando entender o que diabos aconteceu.

Eu continuo ali, sentindo o ritmo da respiração dele, ainda descompassada, mas começando a se acalmar. Meu rosto encostado no peito dele, escutando o batimento irregular do coração de Raphael. Parece que ele ainda está processando tudo, e eu também.

Mas nada precisa ser dito agora.

Pelo menos, era isso que eu achava...

– Me desculpa — ele diz, a voz mais suave agora, quase como um sussurro. – Desculpa por ter demorado tanto pra tomar uma atitude, pra colocar tudo em ordem... Desculpa por ter te colocado nessa situação, onde você teve que se sentir culpada, que teve que carregar o peso de tudo isso sozinha, enquanto eu só enrolava.

Ergo minha cabeça um pouco mais, deixando meu queixo apoiar nas minhas mãos enquanto o encaro. Raphael está completamente entregue, a expressão de arrependimento sincero no rosto, os olhos procurando os meus como se implorassem pelo perdão que ele sente que não merece.

– Você não devia ter passado por isso — ele continua, quase apressado agora, como se precisasse despejar tudo o que está sentindo. – Eu nunca deveria ter feito você se sentir como se fosse a culpada. Como se o que a gente tem fosse errado. Porque não é, nunca foi... O errado fui eu. Eu te escondi, te mantive nas sombras, e ainda esperava que você estivesse sempre lá pra mim, sem questionar. Eu fui egoísta. Eu fui um idiota.

Cada palavra dele carrega um peso emocional que eu nunca tinha visto antes. Raphael sempre foi o cara controlado, confiante, que sabia o que estava fazendo. Mas agora, ele está vulnerável, despido de qualquer máscara que ele usava antes, sendo completamente sincero. E pela primeira vez, vejo o Raphael Veiga que talvez ninguém nunca tenha visto.

– Eu... eu não posso mudar o que fiz — ele continua, a voz quebrando um pouco. – Mas posso te prometer que não vou mais te deixar sentir como se você fosse a outra, como se fosse menos. Você é tudo. Sempre foi.

Raphael abaixa os olhos, como se estivesse buscando a coragem pra continuar. E quando volta a me encarar, há um brilho de emoção.

– Eu te amo — ele diz, sem hesitação. – Eu sei que demorei pra dizer, pra admitir pra mim mesmo, mas eu te amo. E eu sinto muito, de verdade... Eu faço qualquer coisa pra te provar isso.

Enquanto ele fala, percebo que, pela primeira vez, ele está realmente se abrindo pra mim, sem as barreiras que sempre colocou entre nós. Ele está se entregando de uma maneira que eu nunca imaginei que ele faria. E ver Raphael assim, tão... vulnerável, tão "meu", faz algo dentro de mim se aquecer.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora