019. CRISE EXISTENCIAL.

4K 394 260
                                    

Meta: 200 comentários.

𝐀𝐍𝐈𝐓𝐀 𝐂𝐀𝐌𝐏𝐎𝐒

Vagabunda? Que tipo de mulher o Raphael pensa que eu sou?

Tá certo que o fato de aceitar essa nossa relação com ele me faz ser uma pessoa mais... Mais... Porra, vai se foder, eu não sou nenhuma vagabunda.

Sou!? Talvez eu seja, um pouco. Mas no bom sentido.

Quer dizer, nem no bom sentido. A palavra "vagabunda" vem de desocupada, preguiçosa, malandra, mole, mandrião. Nada a ver comigo.

– Comecei a ter uma crise existencial do nada? — murmuro pra mim mesma, olhando meu reflexo na tela do computador.

Eu realmente evitei sair dessa sala a todo custo, só pra não ter que olhar na cara do Raphael de novo. Fiquei com raiva. Muita raiva. Porque uma coisa é ele me chamar de vagabunda na cama, onde as regras são diferentes, onde os insultos viram parte da excitação. Mas aqui, fora desse contexto, o som dessa palavra me acerta de uma forma que eu não esperava. Como se ele tivesse atravessado uma linha invisível, como se tivesse me exposto de uma maneira que eu não queria.

Meu peito ainda está apertado, uma mistura de raiva e frustração que me faz querer gritar, socar alguma coisa. Mas em vez disso, fico aqui, encarando a tela, me forçando a pensar em qualquer coisa que não seja ele.

Eu queria poder me convencer de que isso não me afeta, que as palavras dele escorrem por mim como água, sem deixar marcas. Mas a verdade é que o que ele disse me atingiu fundo, me fazendo questionar coisas que eu não deveria estar questionando. Sei que sou uma mulher incrível, e isso não deveria me afetar.

Então, por que me incômodo tanto?

A verdade é que, por mais que eu tente esconder, por mais que eu queira ser imune a ele e ao que ele diz, Raphael sabe como me desestabilizar. Ele conhece meus pontos fracos, sabe onde apertar para me fazer sentir coisas que eu preferiria não sentir.

Fecho os olhos, tentando me concentrar, afastar a imagem dele da minha mente. Mas é difícil. Eu consigo sentir o calor dele perto de mim, o jeito como ele me puxou pra perto mais cedo, o gosto metálico do sangue nos lábios dele quando eu o mordi. Foi uma pequena vingança, uma maneira de mostrar que eu ainda estou no controle, que ele não pode simplesmente me jogar palavras como essa sem consequências.

Mas será que estou mesmo no controle?

Meus pensamentos são interrompidos por duas batidas na porta, firmes e decididas, que me arrancam do transe. Meu coração dá um salto no peito, e antes que eu possa sequer processar a possibilidade, a porta se abre lentamente. É ele.

Raphael fica parado na entrada, me encarando com aquele olhar que eu conheço bem demais. Um olhar que mistura arrependimento e desdém, como se ele estivesse se desculpando ao mesmo tempo em que reafirma a sua posição. Como se dissesse: "me desculpa" e ao mesmo tempo "porra, você sabe que eu tô certo."

Eu não digo nada. Não preciso. O ar na sala parece se condensar, carregado com a tensão que só ele sabe criar. Meus dedos se movem quase por instinto, fechando o computador com um clique abafado. O som ecoa na sala silenciosa, e então não há mais nada entre nós dois.

Ele dá um passo para dentro, mas não avança mais do que isso. Seus olhos estão cravados nos meus, intensos, como se estivessem me queimando de dentro para fora. Sinto o calor subindo pelo meu corpo, uma reação involuntária ao jeito que ele me olha. Meu rosto arde, e não sei se é de raiva ou de algo mais. Algo que ele consegue despertar em mim.

Cada fibra do meu ser quer responder, quer gritar ou chorar ou simplesmente sair correndo daquela sala. Mas eu fico ali, imóvel, enfrentando o olhar dele com uma coragem que a Anita que ele conhece tem. Não posso deixá-lo ver que estou abalada. Não posso deixá-lo perceber o quanto ele ainda me afeta.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora