038. INSEGURANÇA.

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𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀

Entrei em casa cheio de energia, ainda sentindo o efeito da adrenalina depois do jogo.

Três gols, como prometi.

Tudo parecia perfeito, e eu estou empolgado pra ver a Anita, contar tudo em detalhes, aproveitar esse momento com ela. Mas, assim que atravesso a porta, alguma coisa não parece certa.

O silêncio me pega de jeito. Deixo minha mochila no sofá, e, quando chego na cozinha, lá está ela. De costas pra mim, mexendo em alguma coisa no balcão, mas sem aquela energia de sempre. Algo parece errado.

– Cheguei! Três gols, hein! — falo com um sorriso que não foi correspondido.

Ela se vira devagar, me olhando com um sorriso fraco. Eu não entendo, esperava mais animação. O clima está... estranho.

Franzi a testa, a empolgação diminuindo aos poucos. Sinto algo no ar, uma tensão que eu não sei de onde vem.

– Parabéns. Você foi incrível. — ela diz, mas não com o mesmo entusiasmo de outras vezes. É como se a cabeça dela estivesse em outro lugar.

Caminho até ela, tentando puxá-la pra perto, mas ela se afasta um pouco, pegando um copo d'água como desculpa. O nó na minha garganta começa a apertar. Eu sei que tem algo acontecendo.

– Aconteceu alguma coisa? — perguntei, tentando parecer calmo, mas já sentindo a preocupação crescendo.

Ela me olha, suspirando, e deixa o copo sobre a pia. Isso me deixa ainda mais nervoso. Toda a alegria que eu tinha sentido por causa do jogo está evaporando.

– A gente precisa conversar, Rapha — ela fala, num tom suave, mas firme.

Essas palavras. Odeio ouvir isso. Meu estômago dá um nó na hora.

– Conversar? Sobre o quê? — pergunto, já sabendo que não é coisa boa.

Anita cruza os braços e me olha com uma expressão séria, o tipo de olhar que diz que ela está remoendo aquilo há um tempo.

Eu sinto o peso das palavras dela antes mesmo de entender o que está acontecendo. O jeito que ela cruza os braços, a maneira como evita meu olhar direto... isso me diz mais do que ela está disposta a admitir.

Respiro fundo, tentando manter a calma, mas sinto uma irritação leve crescendo no fundo da minha mente, e tenho quase certeza de que a Bruna tem algo a ver com isso.

– Sobre o quê? — pergunto de novo, mais suave dessa vez, me aproximando devagar. Ela fica em silêncio por um segundo, mordendo o lábio como faz quando está nervosa. Meu peito aperta. Odeio ver ela assim.

Anita finalmente me encara, mas o olhar dela não tem a mesma intensidade de antes. Tem algo a mais ali, algo que não sei se é medo, dúvida, insegurança... Talvez seja tudo isso junto.

– Eu... — ela começa, mas a voz falha. – Eu só... Fico pensando. Pensando em nós. No que vai ser daqui pra frente. Nas coisas que mudaram.

Eu sei que isso não vem do nada. E por mais que ela não diga diretamente, a presença invisível da Bruna está entre nós dois, bagunçando tudo.

Eu me aproximo mais, ignorando a distância que ela tentou criar, e coloco minhas mãos nos ombros dela, sentindo sua pele quente sob meus dedos. Ela relaxa um pouco, mas ainda não se rende completamente.

– Anita — minha voz sai baixa, quase como um sussurro. – O que foi que te deixou assim? Fala pra mim.

Ela balança a cabeça, desviando o olhar, como se não quisesse admitir o que está passando pela mente. Isso me mata. A proximidade que eu sempre senti com ela parece ameaçada por uma barreira invisível que não estava aqui antes.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora