030. FLOR SILVESTRE.

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𝐀𝐍𝐈𝐓𝐀 𝐂𝐀𝐌𝐏𝐎𝐒

– Que cheiro é esse? — Luísa pergunta assim que passa pela porta do meu apartamento.

O som alto de Wildflower tocando no fundo quase não me deixa ouvir oque ela diz.

"And I know that you love me, you don't need to remind me. I should put it all behind me, shouldn't I?" (E eu sei que você me ama, você não precisa me lembrar. Eu deveria deixar tudo para trás, não deveria?) — cantarolo.

– Meu Deus amiga, não. — pega o controle em cima da mesa e desliga a tv. – Você tá brincadeira comigo? Você tá assim por causa do Veiga?

– Ai Luísa, sem tempo pra ouvir você dizer o quão ele é babaca e que eu não deveria ficar assim. Eu sei disso tá!? Eu vivi todos os momentos mais do que todo mundo que me julga. — aperto a almofada contra mim.

Luísa me olha com um misto de pena e irritação, como se estivesse prestes a me dar um sermão, mas ao mesmo tempo entendesse que esse é o último lugar em que eu quero estar: ouvindo verdades que já sei de cor.

– Não tô te julgando, Anita — ela solta um suspiro, largando o controle na mesa e se sentando ao meu lado. – Só não entendo como você ainda consegue dar tanto poder pra ele.

Eu fecho os olhos e respiro fundo, me afundando na almofada. A música de antes ainda ressoa na minha cabeça, a letra ecoando o que sinto, me agarrando a cada palavra como se fosse um reflexo das minhas emoções.

Sim, eu sei que ele é um babaca. Sei que tô me destruindo, mas é mais fácil falar do que fazer quando se trata do Raphael.

– Luísa, eu tentei... — começo, minha voz um fio. – Tentei de verdade não me importar, manter a coisa no superficial, como sempre foi. Mas... — mordo o lábio, tentando segurar as lágrimas. – Eu caí, sabe? Não queria, mas caí de cabeça.

– Ah, amiga... — ela passa a mão no meu cabelo – Você sabe que esse cara nunca vai te dar o que você quer, né?

Eu sei. Mas, ao mesmo tempo, parte de mim ainda se agarra àquela versão dele que vejo nos momentos em que estamos sozinhos. Aquele cara que me faz sentir como se fosse a única coisa no mundo que importa, mesmo que por minutos.

– Não sei se quero o que eu deveria querer — admito, minha voz quebrando um pouco. – Talvez eu só queira o que ele me dá, mesmo que seja incompleto, errado...

– Você merece mais que migalhas, Anita —Luísa diz, com firmeza, como se quisesse cravar essa ideia em mim. – Você merece ser inteira pra alguém.

Eu sei que ela está certa. Mas como se explica pra alguém que, às vezes, migalhas parecem o suficiente quando você se sente perdida?

Eu sei também que ele deve estar mal. Provavelmente está agora tentando se ajeitar naquele relacionamento desgastado, fingindo que nada aconteceu, como ele sempre faz. É o jeito dele, evitar os confrontos, fazer de conta que tá tudo bem. E eu o conheço o suficiente pra saber que ele vai tentar manter essa fachada até o fim.

Mas não dá pra fingir que ele mentiu o tempo todo. Não pode ser. Eu sentia. Nas poucas vezes em que ele se declarou, eu senti que foi sincero.

Ele pode ser confuso, egoísta e indeciso, mas... havia momentos em que era só a gente, sem máscaras, e ele se abria de uma forma que me fazia acreditar que, por mais errado que fosse, havia algo ali. Algo real.

Fecho os olhos e vejo o rosto dele na minha mente. A expressão que ele fazia quando estávamos a sós, o jeito que seus olhos brilhavam de um jeito diferente. Não foi tudo mentira. Não pode ter sido. Eu sei disso porque eu senti. Senti na pele, no olhar, nas palavras ditas baixinho no meu ouvido.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora