029. 6 DE OUTUBRO.

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𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀

Conforme o elevador se aproxima do andar dela, sinto o peso das decisões que me trouxeram até aqui. O barulho dos andares passando soa distante, abafado pela confusão na minha mente. Sei que essa é a hora de encarar a verdade.

Não é culpa da Anita, repito pra mim mesmo. A escolha foi minha, e eu que deixei as coisas saírem do controle.

O elevador finalmente para, e as portas se abrem. Respiro fundo antes de dar o primeiro passo para fora.

A ideia de pedir perdão a Bruna é mais dolorosa do que eu imaginei que seria. Ela não merece isso. Nunca mereceu.

Enquanto caminho pelo corredor até o apartamento dela, minha cabeça gira entre o que dizer e como ela vai reagir.

O que você tá fazendo, Raphael?

Ouço minha consciência me questionar, mas já é tarde demais pra voltar atrás.

Paro em frente à porta, o peso do momento se tornando quase insuportável. Minha mão hesita antes de bater, e meu coração acelera. Respiro fundo, tentando encontrar a coragem de continuar.

Bato na porta mais uma vez, o som ecoa pelo corredor como uma batida pesada dentro do meu peito. Estou suando. Meus pés balançam de leve, como se meu corpo quisesse correr dali, mas não posso. Não mais.

A porta finalmente se abre e Bruna está ali, de pijama e com o cabelo preso de qualquer jeito, parecendo surpresa por me ver àquela hora.

– Raphael? — pergunta, confusa, como se tentasse entender o que eu estou fazendo ali. O silêncio entre nós é estranho, quase incômodo.

Por um segundo, eu hesito. As palavras travam na garganta, mas então, como se algo tomasse conta de mim, eu solto.

– 6 de outubro.

– O quê? — ela franze o cenho.

– 6 de outubro — repito, agora com um sorriso nervoso que nem eu consigo controlar. – Essa vai ser a data do nosso casamento, Bruna.

Ela me encara, completamente confusa, sem entender nada do que estou falando. Mas eu continuo, como se as palavras estivessem saindo sozinhas.

– É isso que você quer, não é? Um casamento. Planejado do jeito que você sempre sonhou. Vamos fazer isso. Vai ser em 6 de outubro. A igreja, o vestido, a festa... tudo. — rio, mas o nervosismo me consome por dentro, e cada palavra soa forçada. – Vamos casar, Bruna. Você vai ter o que sempre quis.

O olhar dela permanece perdido, os olhos fixos em mim, mas parece que ela não está ali de verdade. Eu vejo a descrença estampada no rosto dela, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo. Ela não diz nada. Apenas me observa em silêncio.

Meu riso morre aos poucos, dando lugar a um nó na garganta.

– Você bebeu? — ela se aproxima, inclinando o rosto pra perto do meu, como se tentasse farejar qualquer traço de álcool. Seus olhos estreitos, suspeitos, vasculham o meu rosto em busca de alguma explicação.

– Não. Estou bem, 100% puro. — a resposta sai rápida demais, como uma defesa automática.

Ela continua me analisando, dos pés à cabeça, sem disfarçar a dúvida. Seus braços cruzados reforçam o distanciamento.

Bruna é boa nisso, em guardar o que sente, em tentar entender as coisas por fora, mas no fundo... sei que ela nunca vai entender a bagunça que está dentro de mim. Talvez nem eu consiga entender.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora