020. TALVEZ.

4K 389 281
                                    

Meta: 190 comentários

𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀

Caraca, essa garota não estava viajando? Ela sempre me mandou mensagem quando já estava voltando, a clássica notificação: "estou morrendo de saudades, já volto."

Mas dessa vez, nada. Nenhum aviso, nenhuma pista de que ela estava prestes a aparecer. E agora, aqui está ela, parada na porta, me encarando como se tivesse acabado de pegar a última peça de um quebra-cabeça que nunca deveria ter existido.

Meu coração dá um salto desconfortável no peito. Sinto Anita ao meu lado, mas não me atrevo a olhar para ela agora. Minhas mãos ainda estão tensas, os dedos formigando com o toque que acabei de dar nos cabelos dela. Tudo parece ter acontecido em câmera lenta, e ao mesmo tempo, rápido demais para que eu pudesse evitar.

Bruna não desvia o olhar, e eu sei que ela está tentando juntar as peças na cabeça. Mas o que posso dizer agora? Qualquer coisa que eu diga só vai piorar a situação.

– Bruna, o que você está fazendo aqui? — minha voz sai mais áspera do que eu gostaria, mas eu não consigo evitar.

Ela cruza os braços, o olhar dela é tão afiado quanto uma lâmina.

– Achei que você ia gostar de uma surpresa. Mas parece que a surpresa foi minha. — o tom dela é calmo, mas eu conheço Bruna o suficiente para saber que há uma tempestade se formando atrás dos olhos dela.

Bruna me encara por um longo momento, o rosto dela expressando uma mistura de confusão e suspeita. Mas, como sempre, ela sabe como esconder suas verdadeiras intenções. Eu vejo aquele sorriso pequeno, quase imperceptível, que ela dá quando está prestes a se fingir de sonsa, como se nada estivesse realmente acontecendo.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa para tentar controlar a situação, Anita intervém. A irritação no tom dela é palpável, e eu sei que Bruna também percebe.

– Foi um mal-entendido. — Anita interrompe, revirando os olhos com uma expressão de impaciência. – Ele fez uma brincadeira comigo mais cedo que eu não gostei, e eu disse que só aceitaria suas desculpas se ele ajoelhasse...

Bruna cruza os braços, fingindo prestar atenção, mas sei que ela já está desconfiada. Anita continua, como se quisesse acabar logo com essa situação ridícula.

– Falei em tom de brincadeira, mas ele levou a sério. Foi só isso, pode levar seu noivo de volta. — ela diz, simples, se afastando de mim e voltando a sentar na cadeira, como se a conversa tivesse terminado para ela.

Bruna me observa por mais um segundo, seus olhos tentando decifrar se há mais algo por trás das palavras de Anita. Mas, ao mesmo tempo, parece que ela está com preguiça de prolongar a discussão. Talvez seja a surpresa de me ver ajoelhado, ou talvez ela esteja cansada demais da viagem para querer discutir.

– Te espero lá fora, Cavalcante. — diz Bruna, finalmente, a voz dela é tão calma que quase me deixa mais preocupado do que se ela estivesse gritando.

Ela se vira e sai da sala, me deixando com Anita, que agora evita olhar diretamente para mim. Sinto o ar pesado ao redor de nós, a tensão que ainda está presente, mesmo que Bruna tenha deixado o espaço.

– Você não precisava...

– Some da minha frente, Raphael. — Anita me corta, os olhos dela praticamente me empurrando porta afora, como se ela quisesse me expulsar só com o olhar.

Obedeço inicialmente, me virando para sair. Mas algo em mim se revolta contra a ideia de deixar as coisas assim. Quando minha mão toca na maçaneta, uma chavinha dentro de mim muda. O estalo é quase audível na minha mente. Em vez de abrir a porta, eu a fecho com firmeza e tranco, o som do trinco ecoando na sala.

𝐀𝐃𝐔𝐋𝐓É𝐑𝐈𝐎. - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora