24 - Um passo em falso e tudo desmorona

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Estou fazendo alguns exames adicionais que a minha mãe pediu antes de eu vir fazer o teste de compatibilidade amanhã; não foram apenas alguns, foram vários.  

— Vai ser só uma fisgadinha — diz o enfermeiro, quando enfia uma agulha em uma veia para um exame de sangue.  

Fecho os olhos por um instante, morrendo de medo de agulha…  

Aí, tudo bem... só foi uma picada de nada...

— Pode abrir os olhos — faço isso, vendo o seu sorriso amigável no rosto, como se eu fosse uma criança.  

Meus olhos capturam minha mãe do outro lado, através da janela de vidro. Hanna está fazendo o tratamento da leucemia aqui no mesmo hospital em que meu pai está. Me admiro por não a ter visto antes, já que venho aqui todos os dias, e, de acordo com ela, tem quase um mês que veio pra cá para tratar a Hanna e, de quebra, me encontrar.

— Os resultados vão ficar prontos amanhã mesmo — avisa o médico a nós duas.  

Álvaro chegou bem a tempo; parando na minha frente, parece que correu uma maratona para chegar até aqui. Pensei que nem viria mais. Ele disse que também faria os exames para ver se estava tudo ok com ele, para também fazer o teste amanhã. Uma atitude legal da parte dele, e claro que eu não rejeitei a ideia dele. Qualquer chance de salvar a Hanna é uma boa opção.  

— Atrasado? — pergunta, a respiração um pouco irregular, a mão passando sobre o cabelo loiro e ajeitando alguns fios para trás.  

— Na hora certa — digo, dando um tapinha em seu ombro.

Vejo que, ao meu lado, minha mãe analisa o homem à minha frente com cautela e curiosidade.  

— Esse Álvaro também se ofereceu para fazer o teste.  

— Ah sim — a boca se eleva em um sorriso de canto para ele — Eu sou a Tânia, mãe da Nicole.  

Ela estende a mão na direção dele, que aperta a mão dela.

— É, eu sei — resposta curta e seca; seus olhos se voltam para o enfermeiro e o médico que o aguardam.
 
— Melhor eu ir.  

Dou um aceno de cabeça, deixando-o sair. Percebi que ele está um pouco nervoso; talvez ele tenha medo de agulha, assim como eu. Ele entra com o médico e o enfermeiro, e eu fico sozinha com a minha mãe.  

— A Hanna vai ficar muito agradecida pelo seu esforço — sinto a sua mão tocar o meu ombro. Eu me encolho, me afastando, mas a mulher não se abala.  

— Você está conseguindo pagar as despesas do seu pai? Como compensação, eu poderia retribuir pagando o tratamento dele e te dar algum dinheiro.  

Viro-me para ela, indignada.  

— Eu não sou uma interesseira como você. Estou fazendo isso para ajudar a Hanna porque eu quero, e meu pai… pode deixar que dele eu cuido; eu não preciso da sua esmola.  

— Você é igualzinho ao seu pai — há um tom rancoroso na sua voz.  

— Olha, não precisamos fazer isso; sabe interagir — falo ríspida.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora