23 - Algo no Ar

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                         Devon

Meu pai e eu estamos no escritório do meu avô, da empresa de hotelaria, em uma reunião sobre negócios que de repente se transformou em um assunto sobre a Nicole.  

— Ela sabe das coisas que você faz? Ela tem ideia disso? — meu pai pergunta em tom seco, me olhando com desdém.  

Desde que anunciei a ele que casei com uma mulher da qual ele não queria, ele tem evitado falar comigo ou ficar perto de mim. Eu entendo que ele está furioso porque, aos poucos, está perdendo o controle que usufrua sobre mim, e ele odeia isso; odeia que eu tome minhas próprias decisões.  

Mas estou cansado de sempre fazer tudo o que ele quer.  

— Não — digo.  

Meu pai solta um riso, mas não há nada de humor nele.  

— Então você se casou com uma mulher que nem faz ideia da sua vida?  

Me seguro e não solto um suspiro.  
Às vezes, ele me cansa.  

— Eu prefiro que ela não saiba de nada — respondo.  

— Você acha mesmo que vai conseguir esconder isso dela? — é a vez do meu avô.

Esfrego a têmpora, fechando os olhos por um momento.

— Nicole só vê o que eu deixo que veja; ela não desconfia de nada. Eu não quero que ela se envolva em nada disso.  

— Você não devia casar com alguém como ela. Ela não tem ideia das coisas que você faz; isso pode ser perigoso para todos nós.  

— Ela não é perigo nenhum. Contanto que ela não saiba de nada.

— Pelo amor de Deus, Devon! Você está cego, está sendo irresponsável, pode colocar tudo a perder! — esbraveja meu pai.  

Encaro-o com frieza.  

— Eu já disse que ela não é um problema.  

— Mas é melhor você saber que, se ela for uma ameaça, por menor que seja, você sabe que não hesitaremos em matá-la.  

Meus punhos se fecham, meu corpo fica rígido.  

— Ela não é uma ameaça. Você não pode respeitar a minha decisão, pelo menos uma vez? Vocês adoram me controlar, mas estou cansado disso — sibilo raivoso.
 
— Cansado? Você ainda acha que pode ter poder sobre a sua vida? Você sabe que, na verdade, não tem nenhum poder sobre ela. — Meu pai se levanta da cadeira e me lança um olhar severo antes de sair.

Solto uma respiração profunda, virando-me para o meu avô.  

— Como você pode ter um filho como ele?  

Meu avô ri.  

— Vocês dois são iguais, muito iguais, mas ele está certo: o nosso único dever é nos proteger para que nada interfira nos nossos planos, e você tem que sempre usar a cabeça de cima e não a de baixo — ele aperta meu ombro levemente.  

Solto um riso.

Em parte, eles têm razão, eu tenho que saber bem quem são meus aliados e quais são as ameaças, embora eu não ache que Nicole seja uma. Mas admito que ultimamente tenho pensado muito com a cabeça de baixo quando se trata de Nicole.

— Você é casado agora e terá muitas responsabilidades futuramente — diz, por fim. — Você gosta dela. No começo, pensei que você só tivesse feito isso por capricho ou despeito, você se casou por amor, igual eu e a sua avó, que descanse em paz.  

Me casei por amor? Se eles soubessem que tudo isso foi planejado...  

— A minha avó sempre te apoiou, e eu tenho certeza de que Nicole não vai ser diferente comigo.  

— Eu espero que sim. Preciso ir agora — anuncia, levanto-me, pronto para sair do seu escritório e ir para o meu.

— Te vejo mais tarde, então — digo.
 
— E você cuidou daquele problema, Miller? — pergunta.  

— Ainda não o encontrei, mas eu juro que vou encontrar.  

Ele assente e, de repente, ele se escora em uma das cadeiras, cambaleando para trás. Me aproximo, segurando o seu braço.  

— Está bem? — pergunto, preocupado.

Ele passa a mão no rosto e balança a cabeça.  

— Tô sim, só foi uma queda de pressão.  

Ele ainda insiste em esconder que está com câncer, ele só faz isso porque não quer que o vejam como fraco, um homem poderoso como ele sendo derrubado por uma doença, mas isso não vai durar muito tempo.  

— É melhor você ir para o hospital.
 
— Não, eu tô bem — resmunga, como um velho que é.  

— Você é teimoso pra caramba, eu acho que puxei isso de você e não do meu pai.  

— Tenho certeza que sim.

Eu sigo até o elevador e o deixo ir embora. Volto para o meu escritório pensando muito sobre o que falamos hoje sobre Nicole, principalmente sobre a mulher que, de repente, está tomando toda a minha mente. Não sei o que fazer com isso que estou sentindo, porque eu sei que, se deixar isso se apoderar de mim, não vai parar. Obcecado, é isso que estou.

Quero sair do trabalho mais cedo para vê-la. Vejo-a em todos os lugares que olho. Tenho ciúmes que não consigo controlar e esse senso de sempre querer protegê-la de tudo. Nunca senti algo assim por ninguém e acho que vou ficar maluco.

Enfio a mão pelos fios do cabelo, andando de um lado para o outro, e meus olhos se fixam no quadro da parede na minha frente, quadro esse que comprei no dia em que vi Nicole pela primeira vez. Estou dizendo que ela está em todos os lugares.

Algo me chama a atenção nele; me aproximo, passando pela mesa e afastando um pouco a cadeira para o lado, e vejo um pontinho preto no canto do quadro. Aquilo não é nada menos que uma mini câmera.

Puxo o dispositivo sem acreditar, olhando minuciosamente. Alguém colocou essa merda aqui, alguém estava me espiando, sabe lá há quanto tempo. Pego algo para quebrar a câmera, deixando-a em pedaços. Ricky entra no meu escritório e seus olhos pousam na mesa com os estilhaços da câmera.  

— Temos um problema; parece que estamos sendo espionados.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora