43 - O bebê

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                           Devon

— Esse é o seu quarto — digo a Nicole, mostrando o quarto onde vai ficar.  

Depois de passar meses dormindo juntos, é até estranho pensar em dormir separada dela, se tirar os meses na prisão, melhor dizendo.  

— É...bem grande… — comenta, observando o lugar e evitando me olhar. Ela não parece feliz em estar aqui, e isso me deixa inquieto, frustrado.  

Ela me encara sem jeito, tão constrangida quanto eu nessa situação bizarra, mas fui eu que comecei, né? Eu prefiro ela aqui comigo do que ficar louco imaginando ela em outro lugar com outro cara. Fiquei até surpreso quando me ligou para buscá-la; pensei que ela iria ser mais resistente, mas não me engano por ela ter abaixado a guarda. Não confio nela e, com certeza, ela deve até estar arquitetando algo para sumir daqui.  

Meus olhos descem para a sua barriga; de algum jeito, parece maior. É estranho saber que um ser cabe ali. Eu queria tocar, mas não sei se ela vai deixar.

— Eu posso tocar? — pergunto hesitante. Nicole franze o rosto e seus olhos vão para a barriga.

O pequeno movimento de segurar a barra da blusa demonstra receio, como se eu fosse, sei lá, enfiar uma faca na barriga dela. Ela age como se eu fosse um monstro que quer matar o meu próprio filho, e isso me deixa puto da vida.

— Acho que não é uma boa ideia — isso é como uma faca enfiando no meu peito. Tento manter minha raiva controlada, mas é difícil quando cada palavra que ela fala desperta um gatilho em mim.  

— Qual é, Nicole? O Álvaro pode tocar a sua barriga e eu não posso? Eu sou pai, e você age como se eu fosse um completo estranho, como se eu fosse machucar ele — denoto irritado — porque você sempre só pensa o pior de mim?  

— Vamos começar pelo fato de que você me ameaçou tirar o meu bebê de mim.  

Suspiro exagerado.  

— E por que falei isso? Você lembra? Me escondeu que estava grávida e iria fugir com ele se não tivesse aparecido.  
Ela franze as sobrancelhas.

— Eu só quero que ele não passe por coisas ruins, eu só quero protegê-lo — grunhi.  

Eu me sinto muito pior agora. Proteger de mim? Isso é um absurdo; ela não vê que me magoar desse jeito.
 
— E você acha que eu não quero? Eu nunca faria nenhum mal para ele, eu seria incapaz. Eu só quero ser um pai presente e cuidar dele. Você não entende isso?  

Noto que ela parece vacilar, como se as minhas palavras tivessem surtido efeito. Ela suspira, cedendo; os olhos castanhos se detêm em mim.  

— Eu sou… — se interrompe, esfregando a têmpora, então continua — tá, você pode tocar — diz, mas ainda parece em dúvida. Chego perto, ficando em sua frente; apesar da nossa proximidade, a distância e o vazio entre nós dois são notáveis.
Nós olhamos, mas ainda há essa tensão entre nós. Eu queria tanto beijá-la que chega a ser assustador, mas a odeio tanto pelo que ela acha de mim que chega a doer. Eu queria que essa boca não fosse usada para contar mentiras em uma noite e me fazer acordar sozinho no dia seguinte procurando por ela. Queria que esses olhos me olhassem com adoração e não com raiva, não como se eu fosse seu inimigo. Queria que esse corpo ainda pudesse ser tocado por mim porque estaríamos juntos, e eu queria com toda a força que ela não fosse uma porra de uma mentirosa.

Observo o seu gesto de levantar a blusa, deixando a pele exposta. Sua barriga redonda está tão visível. Sua mão me toca e sinto uma eletricidade percorrer o meu corpo, mas ignoro, no que sou péssimo, na verdade. Nicole guia a minha mão até a sua barriga; ela parece prender o ar, mas me concentro apenas em acariciar sua barriga, sem saber muito o que fazer. Mas não consigo conter um sorriso discreto na minha boca. Acho que talvez eu já ame esse bebezinho.
Esse é o primeiro gesto de afeto que tenho com ele.  

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora