29 - Estratégia

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Alguns dias se passaram e as coisas se ajeitaram no lugar certo, depois que finalmente recebi o teste e, incrivelmente, eu era compatível com Hanna. Logo, todo o procedimento foi realizado no dia seguinte. Dizer que eu fiquei feliz com isso é pouco, porque isso ajudaria muito Hanna a se recuperar e se curar, que é o que todos esperamos. Vai levar um tempo para o resultado vir, Hanna ainda vai ter que fazer muitas quimioterapias, mas, de alguma forma, eu sinto que ela vai vencer essa luta. Quando acordei, a vi ao meu lado, deitada naquela cama de hospital. Apesar do cansaço dela, deu para a gente ter uma conversa de irmãs. Hanna é uma garota legal, apesar da mãe que tem. Não posso negar que Tânia ama a filha e ficou radiante por ela ter uma nova chance. Depois de alguns dias recuperando na casa de Devon, agora eu finalmente podia ir com ele para a empresa como funcionária oficial e colocar meu plano em ação o quanto antes.

— Então, o Ricky vai ajudar você a se ajustar — diz Devon assim que entramos na sala. Assinto, encarando Ricky, que está sentado na cadeira, mexendo no laptop sobre a mesa. Ele se vira para mim e se levanta, vindo até mim com um sorriso.  

— Seja bem-vinda, Nicole — sua mão se estende na minha direção, e eu aperto-a.  

— Obrigada.  

— Bom, então é… você pode se ajustar naquele lugar ali — ele mostra um espaço com uma mesa e cadeira do lado oposto da de Devon.

Iremos ficar na mesma sala; acho que isso é bom.  

Devon vai para o seu lugar e, de algum jeito, parece mesmo interessado no seu trabalho, porque nem me dá mais a sua atenção, se concentrando no computador à sua frente.

Ele foi extremamente gentil esses dias e não perguntou mais sobre o "meu colega". Falando em colega, isso me lembra que, daquela conversa com Álvaro, não o vi desde então. Tenho evitado mandar mensagens por causa dessa situação de Devon saber como hackear celular; não confio muito nisso. Quando conversamos, é só por ligação mesmo, assim fica mais fácil. 

Me ajustei no meu lugar, e Ricky me ajudou a me estabelecer e a ficar por dentro de tudo, com atribuições normais, como qualquer secretária faz: agendas, organização de arquivos, correspondências nos e-mails, planilhas infinitas. Ter acesso a tanta informação vai me ajudar muito; espero que seja fácil, mas como aparenta ser.

                             ◇

— Então é verdade que você está trabalhando aqui? — A pergunta é do idiota do primo de Devon.  

Me viro para ele enquanto seguro um copo de café para levar para Devon. Ele está com um sorriso de desdém no rosto, se aproxima e eu recuo um passo. Ele coloca café para ele, ainda me analisando.
 
— Sim — respondo ríspida, deixando claro que não quero nenhuma conversa com ele.  

— E como vai o casório? Está indo bem?  

Eu solto um risinho debochado.  

— Isso é problema seu, por acaso?
 
Ele sorri como se algo em mim tivesse muita graça.  

Aperto um pouco a xícara entre os meus dedos.  

— Sabe? Eu não devia ter me atrevido a tocar em você aquele dia. Eu sinto muito — franzo o rosto.

O que esse cara quer agora, pedindo desculpas?  

Encaro-o em busca das suas verdadeiras intenções, seja lá qual for. Eu sei que não é porque ele sente muito por ter me encurralado em um elevador e quase ter tentado me enforcar.

— Então é melhor você continuar sentindo muito, porque eu não aceito as suas desculpas — ele ergue as sobrancelhas e faz que sim, como soubesse que eu diria isso.  

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora