20 - A visita

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Já ouvi aquele ditado que quanto mais estamos perto da morte, mais os nossos pesadelos nos assombram? Talvez fosse o universo querendo dizer que a minha morte seria em breve e, por isso, a minha amada mãe voltou dos mortos. (Bom, ela nunca esteve morta, mas sempre pareceu que sim, já que nunca deu um sinal de vida para a sua filha.) Será que posso ser considerada filha dela? Mãe não, uma senhora que apenas me colocou no mundo e me largou para viver a sua digníssima vida.

Mas aqui, na minha frente, cara a cara com a mulher que me largou nesse mundo, eu continuo em choque, em transe, enquanto essa mulher me olha com curiosidade, mas nada de surpresa.

O que me leva a outra questão: ela não deve reconhecer que eu sou filha dela. De uma menina de 8 anos para uma mulher de 22 anos, é uma diferença enorme. Não tenho cara de criança e não sou tão parecida quanto a Nicole criança, mas dizem que mães sempre reconhecem seus filhos. No entanto, eu não sou uma filha para ela de qualquer forma.

— Nicole? — parece que ela tem um senso materno.

Seu olhar se aguça em mim, a mão dela segura a mão da garota a quem entreguei a bola agora há pouco e vem até mim.

Eu não sei por que fico parada como um poste; eu simplesmente deveria sair daqui. Não importa, ela não é nada para mim. Ela é uma mulherzinha que foi embora, não deveria significar nada para, mas ainda assim eu fico e observo que continua igual, mas mais velha, é claro, como uma mulher de seus 40 e poucos anos. Os cabelos castanhos escuro estão soltos, mas agradeço por ter puxado somente isso dela e mais nada além disso. Ela usa roupas como se estivesse pronta para concorrer à presidência. Ela sempre foi uma mulher elegante; quando digo "sempre", resumo a um dia somente que passei com ela, mas fiz de tudo para gravar cada parte dela como uma criança faria, só porque eu sabia que nunca mais a veria. No entanto, aqui está ela em carne e osso com a sua filha… a que não abandonou, é claro.

— É você mesmo! Eu estive te procurando em todos os lugares! — O que é esse tom, empolgação, animação? Ela está feliz em me ver? Estava me procurando? Por quê?

Minha cabeça começa a abrir várias abas, fuçando todas abertas sem respostas.  

E ela me abraça, sim, a minha mãe, que nunca nem me tocou, acabou de me abraçar. Eu não sei o que fazer com as mãos; eu quero muito afastá-la porque não parece certo, parece que tudo está errado.  

— Filha, sou eu, sua mãe. Não está me reconhecendo? — pergunta, desvincilhando os braços do meu corpo, e agora suas mãos vão para o meu rosto, me tocando e sorrindo.

Quantas vezes sonhei com isso? Mas por que sinto que isso não é verdadeiro?  

— Sim, eu sei quem você é — falo, e fico surpresa por conseguir dizer algo além de ficar encarando-a.  

— Eu senti saudades de você — muita empolgação.  

Sentiu?  

— Por que estava me procurando? — indaguei, me afastando um pouco do seu toque.

— Eu queria te ver. Olha, essa é a Hanna — ela puxa a garota delicadamente para frente. Ela sorri para mim um pouco surpresa. — Vocês duas são irmãs.  

Irmãs.

Forço um sorriso para Hanna, porque sei que ela provavelmente não deve nem saber o que sua mãe fez com a sua irmã.  

— Ela é minha irmã? — questiona a garota. Minha mãe assente com a cabeça, olhando de mim para ela com um sorriso.  

— Prazer em conhecer você, Hanna. Eu sou a Nicole — me apresento.  

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora