51 - A conversa

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Devon 

Eu ando pela mansão onde morei por 23 anos. É tão estranho entrar nela e não encontrar o meu avô, o que era um costume. Mas agora só me restam lembranças. Tentei não pensar muito nele e na falta que sinto, apesar de tudo. Às vezes, sinto que falhei como neto; não sou nada do que ele queria que eu fosse: forte e poderoso. Ele via algum potencial em mim que nem mesmo os meus pais viam, mas eu nem posso ter o direito de sentir falta quando não fiz nada para evitar a morte dele. Quando omiti tudo e fingi que nada estava acontecendo, apenas para ter um pouco de poder, o seu reconhecimento, e no fim, isso não levou a nada. Tudo está em ruínas, caído em pedaços.

Encontro a minha mãe no escritório do meu pai. Sua raiva ainda não deve ter se esvaziado depois que saí daqui sem nem ao menos dizer tchau. Ela pode ser muito dramática quando quer.

— Olha só quem resolveu aparecer — diz ela em tom de deboche.

— Não começa, mãe. Eu vim em paz — digo, andando pelo escritório.

Ela bufa.

— A paz é o que não temos mais nessa casa, nem sei se um dia teremos ela de volta.

Suspiro, sabendo que nossa conversa vai ser longa, até demais.

— Você foi embora, Devon, e nem se despediu da sua mãe. Que tipo de filho você é? 

— Eu tô morando na casa de praia, tá? Não é como se eu tivesse mudado de país. Não dava para ficar nessa casa com você e o meu pai me apunhalando pelas costas — meu tom sai um pouco sarcástico. 

— É sério isso, Devon? Nós fazemos o que é melhor pra você, é sempre assim.

Eu solto um riso, não acreditando muito nisso.

— Mas nem sempre, não é? Eu não vim pra brigar, tá?

— Veio pra quê, então? — pergunta, colocando as mãos na cintura.
Respiro fundo, tomando coragem pra dizer, desviando o olhar.

— Vim dizer que você vai ser avó — solto as palavras no ar.

— Que? — há incredulidade em sua voz.

Volto a olhá-la.

— Isso que ouviu, eu vou ser pai.

— É de Adelina?

Franzo as sobrancelhas e passo a mão na testa, farto desse nome que não sai da boca dela. Não entendo por que dessa obsessão por essa mulher. Tá, ela é filha de um senador, mas e daí?

— Que Adelina, supere. Eu não tenho nada com Adelina. Nicole é a minha esposa, que está grávida.

Sua expressão muda rapidamente para furiosa.

— Não acredito nisso! Você acha mesmo que esse filho pode ser seu?!

— É claro que é meu, mãe.

— Esse filho deve ser um bastardo, até porque você estava na prisão e vai saber onde ela andou por aí enquanto isso.

Minha respiração fica pesada e a fúria cresce dentro de mim.

— Mãe, chega! Esse filho é meu e você tem que aceitar.

— Não aceito esse bastardo — diz, ácida.

Uma expressão de dor se desaponta em meu rosto. Solto um suspiro cansado.

— Então eu sou um bastardo também? Porque eu não sou seu filho de verdade — retruco no mesmo tom, esperando a sua reação. O seu rosto fica em choque na mesma hora, como se tivesse ouvido a maior ofensa da sua vida.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora