42 - A escolha

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Eu me levanto da cama e, em seguida, vou direto para o banheiro. Depois que termino de usá-lo, caminho na direção do quarto novamente, mas percebo que Álvaro está na cozinha, cozinhando. Desde que cheguei à casa, praticamente sou eu quem faz a comida, como forma de agradecimento por me deixar ficar; é o mínimo que posso fazer.

Eu caminho até ele, ciente de que a minha aparência não deve ser das melhores, com o cabelo enrolado em um coque e um pijama amassado. Não sou uma das mulheres mais apresentáveis no momento, mas o tempo que passamos juntos dá até para esquecer isso. Ele já me viu em estado pior, como nas manhãs de vômitos e tudo mais.

— Bom dia — digo, receosa.

Tudo o que aconteceu ontem deixou um clima estranho. Ele chegou tarde da noite, entrou para o quarto e eu nem soube o que fazer ou como deveria agir. 

Eu sei que ele está chateado, e com razão. A questão é que isso vai piorar quando eu disser a ele que beijei o Devon. Mas ele parece de bom humor quando sorri pra mim, segurando uma frigideira sobre o fogão. Eu forço um sorriso.  

Honestidade é… eu já estou sentindo os efeitos colaterais dela.  

— Bom dia — ele desliga o fogo, deixa a frigideira em cima do balcão e vem na minha direção — dormiu bem? — pergunta, deslizando a mão no meu rosto.

Eu assinto com a cabeça e um sorriso que estilhaça a minha alma de tão forçado que é.  

Ele não precisa saber que passei as últimas horas entre a cruz e a espada, que me sinto horrível e parece que estou afundada em uma área movediça cada vez que faço algo. Deixo os detalhes sórdidos pra mim, embora eu tenha certeza de que ele vai me odiar também. 

— Sim, eu dormi e você chegou tarde ontem, eu fiquei preocupada.

— Eu pensei muito ontem e sei que você disse que está preparada para nada sério, mas eu gosto muito de você, Nicole, e eu gosto desse bebê. Eu não me importo se é filho do Devon, eu acho que a gente pode fazer isso dar certo entre a gente. — Seus olhos me encontram, cheios de brilho esperançoso, que me fazem vacilar. Sua mão afunda na minha cintura. — Eu não quero te pressionar; que seja no tempo que você quiser. — Eu encolho os ombros, sem saber o que responder. Posso começar com: desculpa, acaba com suas esperanças. Então, sua cabeça se inclina e seus lábios tocam a minha testa em um beijo, e no momento seguinte, se afasta, me olhando novamente, esperança de novo… Eu sinto uma pontada de dor atravessar o meu estômago, embrulhada de tão nervosa e tensa que estou. — Eu tirei o dia de folga e pensei que, sei lá, podíamos passar o dia juntos, já que hoje você também não trabalha.

Que ótimo, além de tudo, ainda tirou folga pra ficar comigo.

Seja sincera… o pensamento martela a minha mente.

Ele continua a me encarar. Aperto os meus dedos na barra do balcão, desviando o olhar; os meus dedos ficam brancos com a pressão que faço.
 
— Álvaro, eu preciso contar uma coisa — comento, mordendo os lábios. Respiro fundo e volto a olhá-lo. Seu rosto demonstra confusão, e a hesitação em meu rosto deve ser evidente. Sou forçada a engolir um enorme nó que se forma na minha garganta. — Devon me beijou ontem e eu retribuí. Eu não devia, mas eu sinto muito. Eu sei, eu sou uma babaca e… — as palavras jorram como água, sem controle algum. Sinto a minha voz ficar desesperada.  

— Você está falando sério? — ele me interrompe, com as sobrancelhas franzidas; a incredulidade é visível.  

— Me desculpa — ele passa a mão na boca, soltando um suspiro demorado. Seus olhos se estreitam na minha direção. Eu abaixo o olhar, tão envergonhada, sentindo um aperto no peito.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora