40 - A verdade tem um preço

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Precisamos conversar — diz ele com a voz impenetrável.

Eu ainda permaneço encarando-o, parada no mesmo lugar, como uma estátua, com o coração na boca, sem saber o que realmente tenho que fazer: fugir ou ficar? Ele está aqui na minha frente como um poste. Eu não sei o que mais ele quer com uma pessoa que fez o que fez com ele. Como ele consegue me achar tão facilmente? Não queria encontrar com ele.  

Eu me obrigo a voltar a mim e me acalmo.  

— Não temos nada pra conversar — digo, controlando todas as minhas emoções que querem sair de mim quando o encaro, mas não consigo manter por muito tempo; a culpa me queima e me consome como um verme, um maldito verme me corroendo por dentro.  

Eu volto a caminhar, pronta para evitá-lo a qualquer custo, sentindo as minhas pernas pesadas no processo.

Ver o Devon é muito para mim. Não era algo que eu esperava hoje.

Sinto aqueles dedos fortes se apertarem na minha pele; o contato é direto e me faz sentir tudo o que sempre quis ignorar quando estava com ele. Sua mão puxa o meu braço, me fazendo virar para ele. Eu só quero fugir dele.

— Você querendo ou não, vamos conversar agora — seu tom de voz é autoritário e nada delicado, um alerta severo para não o contrariar.

Eu puxo o meu braço, mordendo os lábios, eu não consigo ficar perto dele depois do que fiz, eu não posso. Uma parte de mim sabe que ele nunca se atreveria a me machucar, porque sei que, apesar de todas as mentiras que vivemos, ele me ama de verdade. A outra parte ainda é receosa e desconfiada; essa parte é a que mais me domina no momento.  

— Eu não quero conversar com você, não tenho nada pra dizer — digo em tom rude.

Noto que ele respira fundo, tentando manter a calma. Os dedos se enlaçam nos fios de cabelo e, quando fixa os olhos em mim de forma dura, sei que não será tão fácil me livrar dele. Não importa o quanto eu fuja, ele sempre me encontrará.  

— Então você vai forçada mesmo? — questiona de forma sugestiva, deixando um "quê" no ar.

Me vejo encurralada quando ele dá um passo à minha frente, acabando com os poucos centímetros de dignidade que me restavam. De repente, seus braços se envolvem em mim, me levantando do chão e segurando-me em seu colo. Eu franzo o rosto, irritada, enquanto ele me carrega, sei lá pra onde, como se eu fosse um saco de batata.  

— O que você está fazendo? Me solta!
 
Ele me ignora, atravessando a rua. Então, ali avisto o carro dele e, encostado no capô, está Ricky, com os braços cruzados. Mas logo que nos nota, ele passa a mão pelo rosto, parecendo em descrença. Acho que não estou diferente.

— Que isso agora? — indaga Ricky enquanto eu tento me desvencilhar de Devon, que me agarra mais a ele; seus braços são fortes pra caramba.  

— Abre a porta do carro — ordena.

Suspirando, Ricky faz o que ele manda, abrindo a porta do banco dos fundos.  

Minha mão se posiciona contra o seu peitoral firme na tentativa fracassada de me afastar dele. Será que ele não entende que está engolindo todo o meu ar?  

— Se você não me solta, eu juro que vou gritar — ameaço.  

Enfiando-me dentro do carro, a porta se fecha e ficamos confinados no pequeno espaço do veículo, aposto que ele pode escutar o som do meu coração acelerado contra o meu peito.
 
— Não, você não vai — sibila. Nossos olhares se cruzam, e noto a frieza nos dele; eu me encolho como uma criança irritada.  

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora