04 - Aceita ou não aceita?

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— Não olhe agora, mas ele não tira os olhos de você desde que chegou aqui — comenta minha colega de trabalho.

Me seguro para não olhar na direção onde Devon está. Sim. Ele. Está. Aqui.
Esse cara não me deixa em paz com essa história maluca de casarmos.

Ontem na boate, consegui fugir dele, mas hoje não tem como fazer isso na lanchonete, não tem onde me esconder. E ainda, para completar, fui demitida no primeiro dia de trabalho no cassino por causa do tumulto quando Devon quebrou a mão do homem ontem. Está vendo? Esse cara está estragando a minha vida, que já é ótima. Apesar desse começo esplêndido naquele trabalho, acho que preferia não trabalhar lá mesmo, não depois de outro cara quase me agarrar à força e por algum motivo minha amiga me ligar dizendo que hoje de manhã encontraram o mesmo cara quase morto de tanto que apanhou em frente ao cassino quando ia embora.

Eu não sei por que, quando ela disse isso, eu pensei nele. Aquele homem tem algo de perigoso e eu preciso ficar longe. Já tenho tantos problemas, e um deles no momento é como vou conseguir pagar quase os 60 mil que devo, quando mal tenho um salário? Agora que fui demitida, não sei como vou pagar mesmo. Só espero que eu consiga arrumar um trabalho em breve, e terei que implorar ao hospital para me dar mais tempo. Ah, tempo é tudo o que preciso. Nem me lembro da última vez que fiquei alguns minutos parada em casa sem fazer nada. Não tenho tempo livre.

— Ainda está olhando? — pergunto, limpando a mesa enquanto ela recolhe os copos.

— Sim, ele insistiu em ser atendido por você.

Faço uma carranca, não queria mesmo ficar perto desse cara, mas é capaz de eu ser demitida por me recusar a atender um cliente psicopata, e não posso me dar o luxo disso acontecer.

Viro-me para ir até ele e nossos olhares se cruzam por vários segundos, que parecem uma eternidade. Sinto um nó na garganta. Seria mais fácil ignorá-lo se fosse feio, mas não, ele é um cara bonito, muito mesmo. Seu jeito despreocupado, sentado ali tomando um milk-shake, o canudo entre os seus lábios, enquanto não desvia o olhar nem por um segundo, me deixa de algum modo corada. Tenho que me dar um tapa mentalmente para voltar a mim.

Ando até ele e pigarreio, como se isso fosse afastar a minha vergonha repentina.

— Bom dia, o que deseja? — me dou conta segundos depois da minha ótima escolha de pergunta, quando um sorriso malicioso aparece no seu rosto.

— Você é uma das coisas que desejo — diz com a voz rouca.

— Estou falando sério, senhor — digo em tom ríspido.

— Não sou velho para ser chamado de senhor, temos quase a mesma idade, Nicole — ele diz lentamente o meu nome, quase como se tivesse saboreado a palavra em seus lábios.

Fixo os olhos nos dele, mantendo uma postura firme.

— E como você sabe o meu nome e a minha idade?

Ele sorri dando de ombros.

— Tenho os meus métodos, sei que você tem 22 anos, sei o seu endereço, o seu pai está em coma, é a única pessoa que tem na vida, entre outras coisas que prefiro não mencionar. —  Não sei se fico surpresa ou com medo, talvez os dois? — Você provavelmente deve estar surpresa agora — denota.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora