Acordo Perigoso

32 - Sentimentos

                         Devon

— Ele está com infecção generalizada por causa do câncer — diz o médico. Ao meu lado, minha mãe solta uma arfada de surpresa.  

Pelo jeito, meu avô nem estava se cuidando, apesar de saber do câncer. Ao menos pensei que ele se cuidava ou algo assim. Ele está bem mal, do tipo que não sei como ficou tão ruim assim. Até pouco tempo, estava bem, considerando tudo, e agora está com uma infecção generalizada? 

— Câncer? Ele está com câncer? — minha mãe murmura, incrédula.  

— E ele vai sobreviver? — pergunto.

Não posso mentir que estou com medo do meu avô morrer. Eu sei que uma hora isso iria acontecer, mas não sou de pedra e, claro, tenho afeto por ele. Acho que não estou pronto para perdê-lo ainda.  

O médico nos dá um olhar de pena e não sei o que ele quer dizer com isso: sim ou não? Estou nervoso.  

— O câncer evolui rápido e a infecção também. E, por causa da pneumonia que desenvolveu, diria que ele tem apenas pouco mais de um mês, semanas, dias talvez. Ele não tem cura. Eu sinto muito.

Então, o meu avô vai morrer não em meses, mas sim em dias? Não sei como processar essa informação.

O médico saiu, nos deixando sozinhos, com a minha mãe. Nem sei onde diabos o meu pai está, já liguei não sei quantas vezes e ele não me atendeu.

Suspiro, esfregando a têmpora.

— Você sabia sobre o câncer do seu avô? Por que não parece nem um pouco surpreso? — vejo acusação no tom da voz da minha mãe. Não adianta esconder nada, abro o jogo.

— Sim, eu descobri.

Minha mãe ergue as sobrancelhas.

— E por que não me disse? Por que escondeu isso?

— Eu descobri por acaso, não foi ele que me contou. Você acha que ele me contaria uma coisa dessas?

Ela assente respirando fundo, afastando o cabelo para trás.

— Eu só sei de uma coisa, Devon: antes do seu avô morrer, as coisas têm que andar, e você ser o herdeiro. Então, faça o possível para esse velho deixar isso no testamento dele.

Que minha mãe não goste do meu avô, isso não é nenhuma novidade para mim.

— Onde está a Nicole? — pergunto, ignorando suas últimas palavras.
 
Seu rosto se fecha completamente.  

— Eu sei lá, não faço ideia de onde essa garota está, mas deve estar no hospital, né?  

Ignoro-a e vou procurar Nicole pelo hospital.

A encontro sentada no sofá, e ela ergue o olhar assim que me vê. Aproximo-me e sento ao seu lado.  

— E aí, ele está melhor? — pergunta.
 
— Não, ele vai morrer, Nicole, mas não em meses, e sim em dias — respondo, encarando minhas próprias mãos.  

— Eu sinto muito, Devon — sua voz faz-me sentir um milhão de coisas que não faço ideia.  

Respiro fundo, enfiando a mão pelos fios do cabelo, sentindo-me estressado no momento.

— Sabe aquela vez que eu disse que não tinha tanto carinho pelo meu avô? — Encaro seu rosto, seus olhos estão fixos em mim, atentos. Isso me dá coragem de dizer em voz alta uma confissão que minha família acharia ridícula se falasse. — Era mentira. Agora, vendo de perto que ele realmente está mal, eu me sinto péssimo por isso. Eu não acho que estou pronto pra isso — falo, sendo sincero.

Demonstrar emoções não foi algo que foi ensinado pela minha família, mas, quando se trata dela, de Nicole, uma parte parece se abrir facilmente. Eu confio nela.

— Acho que todos nós só nos damos conta do que temos quando perdemos, mas reconhecer isso é importante — diz, com certa profundidade.

Um sorriso suave se abre nos seus lábios vermelhos. Sinto algo em mim se contorcer assim que Nicole passa o braço ao redor do meu e entrelaça nossas mãos. Gosto do calor e do contato da sua pele com a minha, que me aquece. Eu a olho nos olhos, sentindo a intensidade das suas íris castanhas me consumir. Passo o meu polegar no seu queixo, com delicadeza, tocando no canto dos seus lábios. Percebo que ela estremece. De repente, eu acho que sou eu quem precisa de um médico; acho que estou ferrado porque estou me apaixonando por essa mulher.