01 - Dia do Azar

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— Como assim vão desligar os aparelhos? — pergunto ao doutor.

Estou aqui com problemas e ainda tenho que me preocupar com mais isso? Passo a mão na têmpora tentando me acalmar.

— Nicole, já faz tempo que não pagou o tratamento do seu pai e se quer que ele continue o tratamento, é melhor pagar. Já fomos muito pacientes — responde.

— Você só pode estar brincando, não é? Se vocês desligarem, ele vai morrer!

— Você pode transferi-lo se quiser, mas mesmo assim terá que pagar o hospital. Seu pai já está há muitos anos nesse estado e as chances dele acordar são muito baixas. Você sabe.

Isso não pode estar acontecendo, eu sei que o meu pai um dia vai melhorar e acordar, mesmo que tenham passado quase três anos desde que ele entrou em coma depois de ser atingido por um caminhão ao voltar do trabalho. Depois disso, as nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Tenho implorado aos céus para que o meu pai acorde um dia e fique bem, que ele tenha uma chance. Ele é a única pessoa que tenho no mundo e não posso deixá-lo ir assim. Há histórias de pessoas que se recuperaram depois de anos; talvez o meu pai seja um desses milagres. Mas, infelizmente, não tenho condições de pagar outro hospital e muito menos arcar com as dívidas do tratamento do meu pai agora. Mal tenho dinheiro para sobreviver, tenho trabalhado noite e dia em restaurantes e lanchonetes somente para cumprir o tratamento do meu pai.

— Me dê mais tempo, eu vou conseguir pagar o hospital, só não desligue os aparelhos, por favor. Eu prometo que vou pagar — imploro, o médico suspira.

— Você tem uma semana e nada mais que isso, se não conseguir, vamos desligar — assinto, mordendo os lábios.

Não sei como vou arrumar tanto dinheiro, estou devendo quase uma fortuna.

Saio do hospital com o coração doendo, cheia de angústia. Um cara tromba comigo no caminho, na saída do hospital, sujando a bendita roupa da entrevista para um emprego que terei agora mesmo. Meu blazer branco está arruinado de café.

— Merda! — praguejo.

Como vou para a entrevista desse jeito? Era o melhor emprego que eu poderia conseguir como assistente e agora o que faço?

— Você não olha por onde anda não? — o idiota pergunta.

Olho para ele enfurecida, por um momento chego a vacilar minha raiva com a beleza do cara à minha frente, tão alto e forte, cabelo arrumado impecavelmente e aqueles olhos ônix.
Vejo sua postura mudar, ele pigarreou e eu volto à realidade que um babaca idiota acabou de estragar a minha chance de entrar em uma das melhores empresas deste país.

— Você que esbarrou em mim, idiota.

Eu passo por ele pisando fogo, tenho que dar um jeito nessa merda de blaze.

— Ei, você! — escuto o cara me chamar, mas não dou atenção, já estou atrasada demais para isso.

                              ……

— Não passei na entrevista de novo, eu não sei o que vou fazer Luíza, não tenho dinheiro algum para pagar o tratamento do meu pai — desabafo, segurando-me para não chorar com uma colega de trabalho que se tornou minha amiga aqui no restaurante. Fui péssima na entrevista com a roupa que não estava adequada, e não tinha as qualificações que as outras tinham, não estava à altura da empresa, as outras competidoras falavam inglês, francês, estudaram em universidades, mas eu não tenho nada disso.

— Ainda está de pé aquela oferta de emprego, você sabe que pode ganhar muito mais do que esses empregos — diz ela.

— Eu não conseguiria fazer esse tipo de coisa.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora