Acordo Perigoso

44 - Briguinha de "casal"

Minha cabeça está latejando de dor que mal estou suportando; parece que não passa nunca. Estou praticamente a semana inteira com essa dor enjoativa. Fui atrás de Devon, engolindo o meu orgulho, porque o meu remédio acabou e já procurei na casa inteira algo para acabar com isso, mas não encontrei. Ele não está em lugar nenhum, por isso resolvi sentar na bancada da cozinha, com os cotovelos apoiados contra o mármore e as minhas mãos no meu rosto, em uma tentativa fracassada de afastar essa dor enquanto tento respirar normalmente.

Tento ligar mais uma vez para ele e nada. Onde ele está a essa hora? Já é 23:15. Será que está me ignorando? O que não seria uma grande novidade. Tem uma semana que estou aqui e o diálogo entre nós é quase inexistente. Cada dia que passa parece que piora. Morar na mesma casa do "ex" não é nada fácil; é constrangimento puro. Sinto-me mais estressada. Os poucos momentos em que ficamos no mesmo ambiente quase não nos falamos e, se falamos, é só para discutir.

A maior parte dessa nossa interação assim é porque sabemos que, lá no fundo, ainda nos sentimos atraídos um pelo outro. E o melhor jeito é se afastar. Nos mantermos longe um do outro tem sido o melhor remédio para evitar discussões desnecessárias, como, por exemplo, o fato de que ele odeia que eu trabalhe perto de onde está o Álvaro. Segundo ele, o Álvaro vai me sequestrar e levar para a casa dele, basicamente fazendo a mesma coisa que ele fez, né?

Mas enfim, as coisas com o Álvaro ficaram estranhas do jeito que eu esperava, depois de literalmente fazer a mesma coisa que fiz com o Devon. Mas ao menos eu deixei um bilhete.

Depois, naquela noite que vim para a casa do Devon, na manhã seguinte, o Álvaro me ligou, mas eu não atendi. Resolvi que ia colocar um ponto final nisso. Não posso estar nesse fogo cruzado entre dois irmãos que se odeiam por um único motivo: eu. Uma hora isso vai acabar mal, e a responsável vai ser eu. Já tenho muita culpa a carregar nessa vida, e ter mais uma entre essas não é algo que quero carregar.

No fundo, eu quero que um dia eles possam se dar bem. É impossível, minha mente grita, porque eu sei que isso nunca vai acontecer. Álvaro e Devon se odeiam, e eu só instigo esse ódio cada vez que dou um passo em direção a um dos dois.

Cortar laços é difícil, mas é uma coisa da qual já estou acostumada: perder pessoas e todas essas coisas. Quanto mais penso no que fazer, mais a minha mente mergulha em um mar profundo que não parece ter saída. Eu nado e nado, porém meus pés nunca tocam o chão.

Contudo, aqui estou eu, sentindo-me um pouco irritada, porque Devon queria tanto que eu estivesse aqui para cuidar do filho dele, mas quando eu preciso, quando estou aqui sentindo uma dor horrível, justo nesse momento ele não está. E por que exatamente? Sim, porque com certeza está nessa merda de organização. No fim, ele se importa mais com isso, e então eu sou mesmo egoísta por querer ir embora e deixá-lo longe do bebê?

Como vou explicar para o meu filho que o pai dele, um dia, por se envolver em coisas erradas, é capaz de nos deixar com a notícia de que está morto? Ou pior, que algum inimigo dele pode entrar aqui e matar todos nós por causa de um erro dele? Eu tenho medo disso, do perigo que isso nos oferece, e não do conforto que eu deveria ter. Ele acha que me dar uma casa à beira-mar, móveis luxuosos e pessoas para trabalhar na casa para fazer a minha vontade é o meu conforto. Ele só está amenizando a culpa, porque isso nunca vai ser confortável para mim.

Eu não me importo com riqueza se, para isso, eu tiver que viver com medo. Não quero luxos se um dia o preço para isso for ele ir para a cadeia pelo resto da vida. Eu não quero que o meu filho ache que isso é certo, que a vida é assim tão fácil. Não quero que ele cometa os erros do pai. E se for uma garotinha, ele vai quebrar o coração dela?

Ouço passos vindo na direção da cozinha. Decido me direcionar para eles, avistando Devon. Só pelo seu semblante, eu posso adivinhar que ele quer dar meia-volta e sair daqui de novo.