48 - O Ultrassom

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— Hoje vai ter a ultrassom pra descobrir o sexo do bebê. Eu esqueci de falar ontem — comento enquanto penteio o meu cabelo de frente ao espelho.  

Devon aparece de dentro da porta do seu closet, arrumando a manga da camisa social, e me olha através do espelho.  

— Vai ser agora? — pergunta. Faço que sim com a cabeça.  

— Daqui a uma hora, na verdade.  

Agora que ontem fizemos as pazes, é como se eu finalmente pudesse tirar um peso das minhas costas. Tenho que confiar que ele vai mesmo renunciar a tudo quando resolver, seja lá o que for que tenha que resolver. Não quero pensar muito nisso; quero focar em nós e nesse bebê que, de alguma forma, sempre vai nos manter ligados, independente de estarmos juntos ou não.

Eu tenho noção de que ele está se esforçando muito por mim e pelo nosso bebê ao renunciar a tudo. Sei que não deve ser fácil, mas nós estamos tentando; isso já é alguma coisa. Eu espero que possamos recomeçar em outro lugar o quanto antes.

Mas, nesse momento, a minha atenção tem que ser para esse serzinho dentro de mim, que parecia empolgar-se ontem com os chutinhos na minha barriga. Parecia que o mundo iria parar, pela primeira vez eu senti que realmente ia ser mãe. Sentir-lo pela primeira vez foi fascinante; não pensei que ia ficar tão, sei lá, feliz? Acho que estar com Devon naquele momento me fez ver que podemos superar qualquer coisa, porque sabemos que vamos fazer de tudo por ele. Eu vi nos olhos de Devon que ele o ama assim como eu, e essa é a única coisa da qual tenho que me apegar.

— Então eu posso ir com você? — pergunta, hesitando. Eu termino de arrumar o meu cabelo e me viro para ele com um sorriso discreto.  

— Claro, eu não quero ir sozinha. É um dia importante, eu quero você comigo — respondo, me aproximando e abotoando o botão da sua camisa.

Ele me observa com os seus olhos intensos, que me fazem perder a compostura. É bom finalmente termos um momento de paz, sem brigas e hesitações, como duas pessoas maduras.

— E o que você acha que é? — fala, encontrando o meu olhar. Penso por um momento; às vezes, eu acho que o meu instinto materno não é tão bom, mas toda vez que eu imagino segurando-o, na minha mente está um menino com os olhos e os cabelos bem pretos como os de Devon.  

— Eu gostaria que fosse um menino, mas é claro que eu não me importaria se fosse uma menina. Vindo com saúde, é o que importa — dou de ombros. — E você, o que acha que é? — repasso a pergunta.

Ele se senta na cama e me puxa para sentar em seu colo. O braço direito passa ao meu redor; nossos corpos tão juntos é muito perigoso, me faz sentir como se eu estivesse voltando à adolescência, com os hormônios à flor da pele.  

Uma menina? Sempre me imaginei pai de uma menina, mas não me importaria se fosse um menino, obviamente.  

Abri um sorriso.  

— Então você quer que seja uma menina e eu um menino? Só falta vir gêmeos — zombo.  

Ele ri, achando graça.

— O que? Não seria tão ruim — fala com tanta naturalidade que acredito que esteja realmente falando sério.  
Solto um riso, franzindo o rosto.  

— Um já está muito bom, imagina só a gente indo atrás de dois bebês da mesma idade e enlouquecendo? — fico nervosa só de pensar.  

— Então podemos ter outro filho depois — diz. Eu quase engasgo com certa incredulidade, ele me olha como se não tivesse dito nada demais.  

— Você quer mais filhos?  

A gente tá mesmo pensando no futuro? Isso é novo.  

— Sim, tipo mais quatro.  

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora