18 ‐ Limiar

2.4K 220 139
                                    


Kate Warren

Eu estava de frente para a parede pixada daquele beco. O cigarro entre os dedos, a fumaça subindo e carregando parte do peso que eu sentia no peito. O fim de tarde estava cinzento, e o bar fechado em seu segundo dia de luto.

Max morreu ali, exatamente onde eu fui esfaqueada. Do mesmo jeito, colocando o lixo para fora. O ataque foi rápido, pelo que Doc disse, não teve tempo de defesa.

Não tinha vigia naquela noite. 

A mensageira não tinha aparecido no bar, o piloto não foi rápido o suficiente. 

Ninguém por perto.

Traguei uma última vez, os olhos fixos na parede. O gosto adocicado de menta quente desfigurado na minha boca,  Ouvi a porta se abrir, o som das dobradiças de ferro rangeram o pelo beco vazio. 

Não precisei me virar para saber quem era. A moto estava no estacionamento quando parei meu carro. Ele não precisava dizer nada, e eu não precisava de mais ninguém ali. 

Principalmente Riv.

Movi apenas os olhos, suficiente para vê-lo descendo os degraus do deck. Ele olhava para a mesma parede com a caveira pixada. Minha raiva por ele conseguia ser maior do que a que eu sentia pelas pessoas que fizeram aquilo.

Ele inspirou profundamente, passando a língua pelos lábios evitando me encarar. E eu também não conseguia olhar para ele sem querer arrancar da minha mente que nos beijamos. Não, ele me beijou, e tudo isso foi apenas para ganhar mais alguns minutos até que alguém chegasse aqui.

E encontrasse Max sozinho.

— O que você ouviu...

— Não contei pra ninguém! — cortei antes que ele pudesse terminar. — Não precisa me ameaçar se era isso que ia fazer agora.

O silêncio entre nós ficou mais intenso, Riv manteve os olhos longe de mim, seu perfil endurecendo. 

Eu era um teste de paciência para ele, mas que se dane. Ele também era um teste de paciência pra mim, e isso estava crescendo... de uma maneira que me transformava em uma pessoa irreconhecível. Ele me obrigava a ser eu mesma, quando eu estava tentando ser só a Kate. A insonsa e chata...

— Kate...

— Por que? — interrompi, com minha própria voz arranhando minha garganta.

Riv finalmente me encarou, os olhos tão escuros quanto suas intenções, mas manteve a distância. E não o agradeci por isso. Ele sabia, devia saber, que eu estava tão puta que faltava muito pouco para eu perder totalmente o controle. Eu mesma cravaria meus dedos em seu pescoço, depois de incendiar um cômodo inteiro.

Ah, eu tive tempo demais para pensar em como me vingaria, e não me importaria de me queimar junto com ele, desde que eu visse seu sofrimento. 

Dois dias.

Passei dois dias o evitando, me segurando, porque sabia que se chegasse perto eu explodiria. E agora era exatamente isso que eu queria. Eu precisava encará-lo, precisava do confronto. Forçá-lo a admitir o que eu já sabia. Max morreu porque Riv quis. 

— Então é isso? — desafiei, sem desviar o olhar dele. — Suponho que você vai embora agora. Se a Cúpula desistiu das pessoas a quem prometeu uma vida diferente... então você não tem mais que estar aqui, não é? Seu trabalho já acabou, Riv? Ou você é a ratoeira da qual estava falando?

Vi a mandíbula dele travar, os músculos do maxilar saltando, tensionados. Riv não era de reagir impulsivamente, mas suas mentiras eram uma ferida exposta, e eu sabia exatamente onde apertar. Eu queria ver isso. Queria arrancar dele a verdade. 

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora