42 - Umbra

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Os dias seguintes não foram muito diferentes

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Os dias seguintes não foram muito diferentes. Kate acordava cedo, era arrastada para o treino com o Mamute, voltava exausta, e lá pela tarde nós treinávamos tiro.

No começo, ela reclamava de tudo, do corpo que não acompanhava, dos tiros que não acertavam, até do próprio limite.

Só que, depois do ataque no meio da madrugada, percebi que algo mudou. Não era medo, nem fragilidade. Era como se ela tivesse decidido que nunca mais seria pega desprevenida. E via isso toda vez que ela ia comigo treinar nos arredores da casa e voltava com um sorrisinho orgulhoso por ter melhorado na pontaria.

À noite, enquanto ela desmontava e remontava armas na mesa da sala, absolutamente concentrada e dedicada em saber até o menor sistema de funcionalidade, eu sempre a observava.

O jeito que ela olhava discretamente para a direita e mordia o canto inferior do lábio, indicava que estava fazendo alguma conta, e isso me hipnotizava. Eu sabia que, assim que ela terminasse, acabaria no meu colo, e eu podia dizer que éramos loucos nessa parte. Viciados um no outro de um jeito doentio.

Bastava um olhar mais demorado, um sorriso torto, uma conversa silenciosa, e pronto. Eu já estava arrastando ela para o quarto. Ou, dependendo da situação, nem isso, especialmente quando Mamute saía com Bela para o bar do Doc, deixando a casa livre para nós. Sala, cozinha, a porra do corredor, não fazia diferença. Qualquer lugar virava cenário. 

Nós só não sabíamos como parar.

Nosso tempo livre era todo gasto assim. Não existia Zahara, Nik, nem Hart. Não existia busca por Axel ou Cúpula. Só existíamos nós dois, presos em uma bolha de desejo enquanto eu a escondia do resto do mundo naquela casa no meio do nada. 

Nesse momento, a luz do dia invadia o quarto, batendo direto em mim na poltrona perto da janela. O telefone colado na orelha, e Nik do outro lado falando alguma merda que eu devia estar ouvindo, mas minha cabeça estava em outro lugar.

Kate dormia na cama, o rosto relaxado, a respiração lenta. Porra, era como se o mundo inteiro parasse. Ela parecia tão tranquila, tão fora do meu alcance, que por um segundo me bateu a ideia de que talvez eu fosse o problema aqui. Porque agora, mais do que nunca, eu não tinha certeza se merecia tanto. Se merecia ela.

Kate era minha droga. Minha maior fraqueza e ao mesmo tempo minha força. Ela me salvou, caralho. Literalmente colocou a vida dela em risco por mim, como se eu fosse algo mais do que um desgraçado fodido que só sabe manipular e destruir. E ainda teve a coragem de me olhar nos olhos e dizer que não queria me perder. Foi como se aquelas palavras detonassem algo em mim, algo que eu já sabia que existia, mas que nunca imaginei ser tão brutal, tão insano. 

E o pior de tudo? Eu estava começando a aceitar que ela era exatamente o que todos diziam — falsa, manipuladora, egoísta.

Eu estava me acostumando com a ideia de que talvez os outros estivessem certos. Talvez eu tivesse sido um otário por acreditar que algo bom podia sair daquele casamento. Aquela conversa com o Mamute foi um soco na cara. E eu fiquei fodido, destruído. Cada dia depois daquilo foi um inferno. 

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora