24 - Jake

2.5K 221 158
                                    

Jake Daniels 


Tateei o bolso da jaqueta, sentindo se ainda estava ali. Alívio. Tudo sob controle.

Abri a porta do quarto da minha irmã e a encontrei no flagra, enfiando uma fatia de bolo na boca com uma mão, enquanto tentava dobrar roupas com a outra. Um bom sinal. Quando Kate come é porque está de bom humor. E eu que nem a reconheci quando chegou, já podia ver as bochechas não tão fundas de novo. 

— Posso pegar sua moto? — perguntei, segurando a porta. Ela ergueu um dedo, pedindo um segundo, só pra poder continuar mastigando.

— Vai sair? — murmurou com a boca cheia, nem terminou de engolir e já mordeu de novo.

— Vou me encontrar com uma pessoa, não demoro. — E só então percebi que ela também estava pronta. — E você, vai sair?

Mais uma pausa enquanto ela engolia. 

— Eu vou dormir em casa hoje — respondeu tranquilamente, voltando a dobrar suas roupas dentro da bolsa.

— Ah, legal. Tudo bem pra você ir de carro? Fiquei sem moto.

Ela deu de ombros, como se fosse nada.

— Sem problemas.

Sorri de orelha a orelha. O humor estava bom pra caralho. Kate estava aqui, comigo, sob meus cuidados. Um peso enorme saía dos meus ombros.

Olha só, Pai, pensei, quase como se estivesse conversando com ele. Talvez eu não seja tão merda assim. Se não fosse pelas minhas escolhas, pelos contatos, Kate ainda estaria desaparecida.

— Aí! — voltei, parando na porta. Ela me olhou, meio surpresa, meio desconfiada. Eu te amo pra caralho, coisinha. — Passa um pente nesse cabelo! 

— Some daqui! — Ela jogou um travesseiro que atingiu a porta, porque eu já estava caminhando no corredor em direção a escada. 

Ainda rindo, deixei o galpão dos Filhos da Noite com o ronco potente da moto da Kate.

Era menor e mais compacta do que eu estava acostumado, mas era uma coisinha robusta que combinava muito com ela.

Desde que bati meus olhos naquela moto, não pude deixar de pensar na Kate. Tinha a frente agressiva e faróis intimidadores. Uma das mais rápidas. Não que isso influenciasse em muita coisa. Nas mãos da Kate, aquela máquina parecia só uma arma empunhada por quem não sabia o que fazer com ela. Agora... nas mãos do Piloto, a moto criava vida própria. 

Eu conseguia me ver, um borrão cortando a cidade, rasgando o asfalto. Liberdade completa, pra mim, velocidade era vida. O vento rugindo, os prédios se tornando vultos distantes, eu amo isso. 

Deixei a moto perto do pier, mas o asfalto parecia me chamar de volta a cada passo que eu dava sobre a calçada. Senti aquele formigamento familiar correndo por minha espinha. Olhei por cima do ombro várias vezes, as sombras dos barcos e lanchas ancoradas criando uma paranoia incômoda, como se alguém estivesse me seguindo. Mas o mar me causava mesmo essa sensação de desconforto. Nunca gostei de água, de sua calmaria traiçoeira. Adoraria surfar, talvez, mas meu coração pertencia ao chão firme.  

Continuei andando até o ponto de encontro combinado, como todas as noites. Sempre no pier, sempre perto da água, apenas para me lembrar de que, no fim, meu maior medo era morrer afogado.

Meu corpo tensionou assim que a vi de costas. A silhueta dela, com o mar calmo ao fundo, me acordava na hora. Respirei fundo, passando a mão no cabelo baixo, e sacudindo os ombros para não parecer tão ansioso. Não podia dar esse gostinho a ela.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora