Kate Warren
13 anos antes...
Meus olhos estavam fixos na cadeira vazia ao meu lado. Declan deveria estar ali, ansioso pelas semifinais da competição de matemática. Se ele não estivesse no hospital, não seria eu na final, seria ele.
— Arya Cross? — o auditor chamou, me arrancando dos pensamentos. Minhas pernas tremiam como se fossem feitas de gelatina. Respirei fundo, tentando acalmar o pânico, e me aproximei do microfone. Segurei a caneta de lousa branca como se fosse a única coisa que me mantinha ancorada à realidade.
Olhei para o auditório, e o nervosismo retorceu minhas entranhas. Estava lotado, e o burburinho que preenchia o ambiente se dissipou de repente. Todos os olhares estavam presos em mim. Comentários sussurrados, que eu já conhecia de cor, surgiram ao redor.
— "É a menina que caiu do telhado."
— "Ela saiu de um arbusto completamente rasgada."
— "O reverendo disse que os pais venderam a alma dela para uma entidade."
— "O garoto não sofreu um arranhão e está acamado, ela é quem deveria estar morta..."
Meus olhos se encontraram com os do meu pai na plateia. Ele acenou para mim, e quase pude ouvir sua voz em minha mente, dizendo para ignorar, para ser forte, porque aquelas pessoas eram prisioneiras de um lunático. Mas como eu poderia dizer a ele que minha vida tinha se tornado um inferno? Que voltar à escola sozinha foi um dos piores dias da minha vida? As pessoas me viam como uma aberração, um monstro. Se afastavam, desviavam, fugiam.
Na maior parte do tempo, eu concordava com a velha da primeira fileira, eu deveria estar no lugar dele.
Números. Ciências exatas. Eram as únicas coisas que eu podia controlar, e talvez, a única coisa que me tirava da cama todos os dias. Estava fazendo isso por mim, mas principalmente por ele.
Ganhei a competição naquela noite. Mas não houve tantos aplausos. Certamente imaginavam que foi graças a outro pacto.
— Você foi brilhante! — meu pai exclamou, apertando meu ombro enquanto descíamos do carro. Ele estava radiante e orgulhoso, mas o troféu em meu colo pesava tanto quanto a medalha em meu pescoço. Eu não sentia que merecia.
Olhei para trás, para a casa de Declan, completamente escura. Não devia ter ninguém ali, todos estavam no hospital, praticamente moravam lá agora.
— Amor, ela foi brilhante! Eu já disse isso quantas vezes? — meu pai continuou, falando ao telefone enquanto procurava as chaves da porta. — Você precisava ver, ela nem hesitava. Foi um massacre, o reitor da NRO veio falar comigo, tem uma proposta de bolsa de estudos...
Ele entrou, ainda contando a novidade, e eu forcei o meu sorriso mais fraco, o único que consegui naquele dia.
Nossa casa estava escura. Papai tentou ligar a luz, mas estava sem energia. Ele franziu a testa, testando o interruptor várias vezes.
— Que estranho, a babá não avisou que faltou energia. Ah... sim, amor, onde estávamos? Arya tem uma bolsa garantida no programa de estudos da NRO. Eu contei a ele que você é oficial da força aérea... Grace? — chamou ao pé da escada, procurando por J.C, meu irmão mais novo. — Grace, já estamos em casa. Ela é um amor de pessoa...
Eu mesma não sabia dizer como meus pais se entendiam, mas era engraçado de ver.
Meu pai sumiu ao subir as escadas, e eu fiquei no meio da sala, observando nossa casa escura, iluminada apenas pela luz que vinha da rua.
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My Nemesis - Dark Romance
RomanceDark Romance - Enemies to Lovers O mundo quer heróis, mas heróis morrem. Eu sou a exceção... sou quem sobrevive. Kate Warren se esconde sob uma nova identidade após uma prisão. Agora, ela vive uma vida dupla como hacker e balconista de um bar; o co...