29 - Criptogênese

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Kate Warren


A vibração insistente do celular na mesinha ao lado da cama me arrancou do sono. Com um olho entreaberto, tentei ler a mensagem, mas a claridade brutal do amanhecer entrando pela janela escancarada me cegou. Cobri a cabeça com o edredom, bufando enquanto forçava a vista para focar nas letras tremidas na tela.

"Esteja no observatório, às 09h!"

— Merda! — sussurrei, sentando em um pulo. Tinha menos de meia hora.

A primeira coisa que fiz foi puxar a cortina com força, irritada com aquela luz toda logo cedo. Rue já estava na fila do banheiro, mas assim que Eazy saiu, passei na frente, atropelando qualquer chance de protesto com a desculpa de que estava atrasada. O banho foi rápido, a água gelada ajudando a desfazer a última sombra de sono. Já pronta, sacudi o cabelo com as mãos, como se isso fosse acelerar o processo de secagem.

Desci as escadas correndo, ainda amarrando as tiras do coturno. Jake estava apagado no sofá, resmungando algo incompreensível entre sonhos, mas não perdi tempo nem para avisar que estava saindo.

Optei pela moto para chegar mais rápido. Mas me arrependi assim que senti vento gelado castigando meu peito como agulhas perfurando minha pele, pensei em xingar minha escolha de não colocar o macacão por baixo, mas era tarde demais. Quando finalmente avistei o observatório os portões ainda estavam fechados, mas simplesmente dei meu nome, e os seguranças sem mais perguntas, liberaram minha entrada.

Dentro do complexo, a maioria das salas estava ocupada por militares. Os poucos cientistas que ainda tentavam trabalhar mantinham distância dos soldados. 

Enquanto caminhava, meus olhos varriam ao redor, o estômago se revirando em ansiedade e expectativa, observando e catalogando cada rosto que eu pudesse encontrar e que fosse familiar. Até que a Tenente surgiu pelo corredor, acompanhada de um militar fardado. O olhar dela era sério, incisivo, e sem pronunciar uma única palavra, indicou com um gesto breve para que eu a acompanhasse. 

Avançar nela? A ideia era tentadora, mas me contive, mantendo as mãos ao lado do corpo enquanto a seguia.

Reuni toda a frieza que pude, mesmo sabendo que, a julgar pelos olhares que lançavam em minha direção, eu não estava exatamente disfarçando o que sentia. E não fiz questão de relaxar o olhar.

São todos intrusos. 

Passamos por uma série de portas até chegarmos a uma sala ampla, onde meu passo vacilou ao notar os oficiais de alta patente, reunidos em uma roda informal. 

Não era uma reunião, era algum tipo de... recesso. 

— Aqui está ela — anunciou a Tenente, interrompendo a conversa.

Um oficial se virou, e me olhou de cima a baixo em toda minha insignificância diante da quantidade de condecorações em sua farda. 

— Kate Warren? — Ele estendeu a mão, seu rosto inexpressivo, um bloco de pedra. Lancei um olhar rápido para a Tenente, em busca de algum indício do motivo de estar ali, mas ela manteve a compostura fria e impenetrável.

— Sim — respondi, aceitando o cumprimento com um aceno firme.

 — Sou o comandante de operações especiais. — Sua voz era um fio de gelo. — Fui informado de que está trabalhando para restaurar o sinal do nosso satélite de Beeville Ridge. 

— Sim, senhor. 

Ele trocou olhares com os demais comandantes em uma conversa muda.

— Temos três carregamentos sensíveis que precisam chegar ao porto amanhã à noite. Containers de matéria-prima para estudos de vírus de grau um, ebola, entre outros. Estão sendo removidos do laboratório Surkov por segurança e só podem chegar por terra à área de proteção militar. Queremos que isso aconteça no mais absoluto sigilo, portanto será sua função usar o sistema de monitoramento do satélite para assegurar que nada e nem ninguém possa rastrear a movimentação. 

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora