31 - Ulceração

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Kate Warren


A cicatriz era um risco rosado na minha costela, no reflexo do espelho embaçado, enquanto eu passava os dedos por cima dela. Meu cabelo preto grudava na pele pálida, meus olhos, sem a maquiagem que eu usava diariamente para disfarçar o tom doentio, não conheciam o calor ou a misericórdia. Os cantos dos lábios crispados, a testa franzida em um ódio que parecia cravar raízes ali. Eu observava aquele reflexo predador, a sombra do lobo que meu pai sempre enxergou.

Tudo isso por causa de Riv. 

"— Se eu voltar, Kate... será para descobrir como souberam novamente onde você estaria. É a segunda vez que você passa um sinal... e a segunda vez que somos seguidos."

Cínico! 

Pedi que ele confiasse em mim, disse que daria a ele o que queria. Mas agora ele ficaria sem os dois.

Respirei fundo, enrolei a toalha no corpo e saí do banheiro descalça pelo chão de carpete do corredor. Cheguei ao quarto decidida, mas ao abrir a porta, Jake estava sentado na minha cama. Ele encarava as mochilas cheias que deixei pronta. Suspirei, a irritação subindo, mas ao invés de mandá-lo embora, só fechei a porta.

— Você não deveria estar aqui em cima — resmunguei, indo direto para a gaveta da cômoda onde deixei uma roupa separada. 

— Vai embora, é? — ele perguntou, a voz mais baixa, enquanto olhava para o chão.

Parei por um instante, então decidi.

"Vamos embora, Jake. Nós dois." 

— Assim que eu puder. 

Ele suspirou, coçando a nuca, e aquilo parecia uma tentativa desesperada de encontrar as palavras certas.

— Caramba, Kate. Que vacilo. 

Soltei uma risada seca. 

— Como se a culpa fosse minha.

Ele ergueu os olhos, aquele jeito sem jeito de quem sabe o que dizer, mas acha mais prudente guardar para si mesmo. É o Jake. Ele já estaria me infernizando se isso não fosse tão grave.

 — Você... não quer pensar mais um pouco? Deixa a raiva esfriar.

— É o que eu tenho feito desde ontem, Jake. E quanto mais eu penso, mais raiva eu tenho. — Voltei a fechar a gaveta com força.

Ele me observou puxar a bolsa do chão, os dedos inquietos.

— Tá. Mas... e se você tentasse conversar com ele, pô? Olha, eu sei que é seu corpo, mas o Riv foi bem claro sobre... sobre você não tirar porra de nada.

— Não tirar? — minha voz saiu em um sussurro sarcástico. — O que ele acha, que eu vou carregar isso dentro de mim? Quem ele pensa que é? 

Eu virei para ele, e por um segundo, Jake parecia uma criança com medo de perder um brinquedo.

— Pai do meu sobrinho?  

Eu pisquei. 

Minha mente ficou em tela branca. 

— Ficou louco?

Ele só balançou a cabeça, mexendo as mãos, nervoso.

— Eu ouvi a discussão de vocês ontem. Caralho, nem consegui dormir, pensando na reação do pai quando descobrir... mas acho que... eles iam gostar, no fim. O general ficaria puto, claro. Tentaria matar o Riv. Mas o meu pai... depois de levantar do chão, acho que ele ia até gostar. Ele adora crianças. Nossa, pensa que foda, um pirralho protegido pelo crime e pela ordem. — Ele deu de ombros, como essa loucura fosse um cenário normal. — Não tô criando expectativa, claro, o corpo é seu, mas, se decidir, eu separei alguns nomes...

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora