25 - Entropia

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Kate Warren

Estacionei o carro no local combinado, o motor desligando com um ronco abafado. O endereço rabiscado no pedaço de papel que Caleb me entregou levava até uma construção abandonada, perto do armazém de Refúgio. Ruínas de concreto e ferro enferrujado sem nenhuma iluminação no meio da noite. Fiquei dentro do carro enquanto eles não chegavam, o tempo todo eu conferia no espelho retrovisor. 

O vazio e o silêncio me davam espaço para pensar. Em tudo. 

Em como tinha ido longe demais. E do quão perto eu estava de voltar para casa. 

Nahila não demorou a invadir meus pensamentos. Bastava pensar nela para uma dor familiar se instalar no peito, aguda, como uma faca que me atravessava bem devagar. Suspirei, puxando um cigarro do bolso e acendendo. Traguei fundo, até sentir meu pulmão completamente preenchido, e encostei a cabeça no banco. Deixei o cigarro queimar entre os dedos enquanto o passado fazia o mesmo dentro de mim. 

Outras memórias começaram a me invadir, aquelas que eu preferia manter enterradas. A busca de Magnus por seu sobrinho desaparecido, o rosto daquele garoto estampado em fotos que eu fui obrigada a apagar enquanto estava presa. E a maldita negociação, usando o mesmo sistema que Nahi criou. Aquele que me forçavam a manter ativo enquanto eu trabalhava no observatório. 

Queimar o armazém seria apenas para intimidá-los, mandar um recado. Estou perto. Eles serão obrigados a mover as pessoas do covil. Se comunicavam pelo sistema. Eu saberia quando e para onde todas as pessoas que permaneceram na fábrica seriam levadas. 

Riv tinha razão, fui forçada a fazer muita coisa que não queria. Mas ceder àquele prazer momentâneo... isso, eu quis. Meu corpo quis. Foi uma necessidade crua, instintiva. E teria sido só isso, se ele não tivesse jurado vingança logo depois. Vingança contra alguém que eu vivia acreditando que me observava, mesmo quando eu dormia. Mas não era o Axel me observando, era ele.

Quando Riv viu as cicatrizes... a morte apareceu em seus olhos, e eu tive a impressão de já ter ficado de frente para aquele olhar antes. Aquele mesmo medo cresceu. O primeiro. Familiar e perturbador, tão... parecidos.

O ronco grave de motos me trouxe de volta de volta. Apaguei o cigarro no chão de concreto enquanto descia do carro, meus olhos se estreitando por conta dos faróis ao ver o grupo se aproximando. Um a um, os caveiras chegaram, seguidos pelo som mais pesado de uma caminhonete.

Hart estava ao volante, Zahara ao seu lado. E então algo me atingiu. Eu já tinha visto aquela caminhonete antes, entrando na rua de terra perto da minha casa, há algumas semanas. Naquela noite, pensei que fosse Axel, e dei meia-volta. Mas não era ele. Eram eles. O que diabos estavam fazendo na minha casa?

O Ceifeiro estacionou no centro da formação, o último a chegar, fechando o círculo.

Contei catorze membros. Oito deles já usavam máscaras como o Ceifeiro, enquanto os outros estavam expostos. Entre eles estavam Zahara, Kessie, Hart, o restante eu não conhecia, mas decorei os rostos. Tentei reconhecer Nikolai entre os mascarados, mas nenhum deles se parecia com ele.

Zahara se aproximou, seus olhos estavam no meu carro e não em mim. O cabelo estava impecavelmente preso em um coque baixo, com origem em finas tranças enraizadas, e vestia o mesmo traje que os outros, preto sobre preto, das luvas até as botas, uma farda sem lei e sem insígnia. 

— Não quis bagunçar o cabelo hoje? — perguntou com um sorriso malicioso.

Dei de ombros, jogando um sorriso falso de volta.

— Emprestei minha moto — respondi com indiferença.

Ela lançou um olhar significativo para Kessie, que ainda estava distante, ao lado de sua moto, mas me observava de canto.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora