04 - Anomalia

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Kate Warren

13 anos antes

Eu podia ouvi-lo por horas.

Para mim, não havia um único assunto no mundo que Declan não dominasse. A explicação de uma supernova, satélites naturais, força da gravidade... não havia uma só pergunta que ele não soubesse me responder. Eu não era tão quântica, portanto, preferia ouvi-lo falar do que tentar explicar alguma fórmula matemática.

A beleza dos números não era assim tão fascinante, mas a sensação de resolver um cálculo era uma experiência prazerosa. Eu gostava de estar no controle.

— Minha Vó fala que todas as respostas da criação estão lá em cima — eu disse, com meus olhos presos na imensidão do céu sob nossas cabeças.

Declan riu.

— Meu pai também diz isso, mas ele está se referindo ao Criador e não ao estudo astrofísico.

Lembrei de tudo o que Declan dizia sobre não poder falar desses assuntos em sua família.

— O que ele acha de você se tornar um cientista? — Nós dois seríamos, isto era tão certo quanto o ar que respiro.

— Profano — respondeu com uma risadinha. — Mas eu não penso muito nisso. Vou ser livre, vou tomar minhas próprias decisões e nós dois vamos estar bem longe, tipo... Houston.

Gargalhei baixinho.

— Houston? Isso não é longe.

— Mas seu pai fala muito do trabalho dele. Meu sonho é ir junto, imagine só, NRO para Nasa deve ser um pulo.

— Declan, você gosta de olhar para o universo. A NRO é uma inteligência de vigilância e satélites de espionagem. Ou seja, eles olham para a Terra.

— Você que pensa. A Rocket Lab lançou uma missão chamada NROL-123, transportando cargas misteriosas para o espaço. Eu venderia a minha alma para saber que missão é essa.

Uma lâmpada do poste estourou na rua.

Nós pulamos e arfamos com o susto. Meu coração disparou e minha pele se arrepiou por inteiro.

O zumbido da eletricidade ainda estalava quando nos entreolhamos.

— Acho melhor a gente descer — ele disse, seus olhos imóveis e a boca semiaberta, tremendo.

— Está com medo?

Ele tentou dar ombros, mas não pareceu tão confiante.

— Não, você está? — Balancei a cabeça, de fato não sentia nada além da adrenalina do susto. — Vamos, meu pai vai me procurar se tiver acordado com isso.

Assenti, ele estava certo. O poste agora estava escuro em frente a nossas casas, os mais próximos piscavam.

A neblina era ainda mais intensa ao longo da rua. Declan ficou de pé, mas eu preferi engatinhar até o beiral por onde desceríamos.

Olhei uma única vez para baixo, percebendo então, que meu pai havia fechado a janela do corredor no andar de cima.

Droga!

Eu teria que descer com Declan pelos fundos. Um passo apenas separava o galho de um pinheiro, do telhado em sua parte mais íngreme.

— Acho que não vou conseguir — admiti.

— Desse jeito, não mesmo, tem que ficar de pé.

— Mas eu não consigo.

— Arya, pelo amor de Deus, nós subimos aqui há um tempão, não deveria mais ter medo de altura.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora