16 - Simbiose

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⚠️Contém cenas sensíveis


Kate Warren

O livro... se me lembro de ter folheado, era uma lista extensa de códigos semelhantes, um registro de todas as negociações feitas até hoje. 

Centenas de containers iguais àqueles  eram carregados num navio cargueiro. Neste exato momento, mais crianças devem estar sendo desembarcadas do porto da mesma maneira, cada uma delas possivelmente registrada naquele maldito livro. A simples ideia disso consumia minha mente.

Eu estava a caminho do observatório. Meu primeiro dia lá. Motivo? Uma fome insaciável por justiça. Mas vamos ser honestos, justiça era uma palavra bonita demais para o que eu queria. Vingança. Retaliação.

Naquela noite, não consegui dormir. Fechei os olhos e vi cada rosto. Ouvi meu próprio choro infantil, e o que eu fiz... me assombrava. Meus olhos ardiam de tanto segurar as lágrimas, e eu queria gritar de raiva. Raiva de Riv. Raiva de mim mesma, por ter permitido que aquilo acontecesse. Ele me acusou de ter emitido outro sinal, e talvez ele estivesse certo. Talvez a culpa fosse mesmo minha.

Jake tentou conversar comigo quando me deixou em casa, mas eu não soltei uma única palavra. Não porque não quisesse, mas porque, no fundo, o gosto da bile ainda estava na minha garganta desde a última vez que vomitei. O que eu sentia era fúria. Crua, incontrolável. Contra Riv, principalmente, por isso evitei seu olhar esta manhã ao sair do galpão.

Suas palavras sobre as consequências ainda ecoavam na minha cabeça. Mas naquele momento? Eu não podia me importar menos. Não com aqueles rostos inocentes tão vivos na minha mente. Eu só não estava mais furiosa porque, pra piorar, o desgraçado estava certo em desconfiar de mim.

Estacionei o carro no pátio do observatório, respirando fundo antes de soltar o volante.

O saguão inicial era imenso, com paredes de cores neutras. O chão era de um piso de mármore polido, refletindo a luz de luminárias modernas penduradas no teto alto.

Seguindo pelo corredor indicado na recepção, cheguei à área principal do observatório. As portas automáticas se abriram para um domo onde se erguia o telescópio. Caminhei ao redor dele, onde pequenos grupos de cientistas e técnicos trabalhavam. O efeito sonoro dos teclados e vozes baixas em ligações eram familiares. Passei por salas adjacentes onde havia laboratórios equipados com computadores avançados. Ah, eu estava me sentindo em casa, como um produtor de vinhos entrando em uma adega, eu não podia estar mais do que familiarizada.

Passei por um auditório e lembrei do tempo de faculdade, em que eu frequentava todas as palestras possíveis da comunidade científica. E pensar que um dia eu já tive uma vida.

— Você só pode ser a Kate — disse uma mulher de baixa estatura, com cabelos castanhos presos em um coque baixo e cerca de cinquenta anos e uma expressão amigável. Ela vestia uma saia abaixo dos joelhos e uma camisa branca com o emblema da Força Aérea Americana.

— Sou eu — respondi, estendendo a mão para apertar a dela. Tentei manter o tom cortês, mapeando os olhares dos funcionários em volta. 

— Estava te esperando. Sou a Tenente Margareth, trabalho no quadrante de proteção e monitoramento do território militar de Beeville Ridge. Você já conhece o observatório, então vou te mostrar onde será sua sala.

Assenti, e a segui com um calafrio subindo pela minha espinha. Entramos em um cômodo fechado e, assim que a porta se fechou atrás de nós, o semblante dela mudou de imediato. Lá estava ele, Axel, sentado casualmente em uma poltrona de frente para mesa, em um cenário que eu já tinha vivido outras vezes.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora