28 - Feioso

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Reave


Ela ainda dormia, finalmente entregue ao sono, deitada ao meu lado.

O cabelo preto estava espalhado pelo travesseiro, uma bagunça linda destacando aquela única mecha branca que eu acreditava ser um presente aos meus olhos. Cada vez que eu me pegava pensando em Kate Warren, era aquela mecha que me lembrava que um dia ela já foi Arya.

A melhor amiga do meu irmão, e sua paixão de infância. Arya era dele. Kate é minha, e só por isso eu não me incomodava que ela tivesse resgatado seu primeiro nome do passado. O que me pegava pensando, às vezes, era... por que ela o preferia agora?

Jake se envolveu com os caras do Hidden, roubando carros para o desmanche do Doc, e, até um pouco antes dela chegar, se metia com drogas. E agora Kate, negando até o próprio nome.

O que deu errado naquela família?

A filha do general estava desaparecida... 

Fazia tanto sentido que a Cúpula estivesse em silêncio esse tempo todo. O general comandava todos os territórios militares aos arredores da minha cidade. É claro que ele iria procurá-la. É claro, também, que jamais permitiria que eu soubesse disso, porque se eu a encontrasse, eu teria o que eu quisesse.

E eles sabem muito bem o que eu quero. Por isso se esconderam como covardes que eram, apenas para que eu não os entregasse ao general em troca da sua filha de volta.

Uma troca bem justa. 

Eu estou com sua filha, quero minha cidade, nós dois queremos nos livrar da Cúpula.

Mas então, ela iria para longe de mim e Alexandr, muito provavelmente, iria atrás dela.

Não que eu não esperasse por isso. Eu quero. Mas quero que ele venha até mim. Da mesma forma que Nik me levou até meu pai, eu o levaria até o pai dele.

Um sorriso torto repuxou meus lábios enquanto meus dedos traçavam o contorno de seu rosto, leves o suficiente para não acordá-la.

Pela luz da manhã que invadia o quarto sua pele parecia ainda mais pálida, e ela mantinha aquela expressão tranquila. A cicatriz que mais parecia o rastro de uma lágrima, era como uma rachadura para avisar que por trás daquele rosto delicado, havia uma mente tão manipuladora que eu mesmo já não subestimava.

Mas olhe agora... tão frágil. Eu poderia acabar com ela aqui mesmo, ninguém nunca saberia.

Meus olhos vagaram pelo seu corpo, o lençol cobrindo apenas o quadril, o restante era pele nua pincelada por cicatrizes.

Passei a ponta dos dedos por uma cicatriz que serpenteava sua costela, pegando um pouco da barriga, uma linha fina e irregular. Um pouco mais acima, a mais recente. Os pontos praticamente sumiram, e eu fiz um trabalho tão bom, que mesmo ainda avermelhada, não passava de um risco fino em sua pele.

Ela me mataria se soubesse. 

Mas eu não conseguia parar de olhar. Não conseguia para de me perguntar que piada desgraçada era essa, em que eu, depois de treze anos, substituiria meus pesadelos em uma pedra de ritual com meu próprio pai me usando como sacrifício, para o momento em que eu vi aquela sala explodindo e achei que nunca mais a veria.

Meu peito afundava só de pensar nisso.

E minha boca amargava só de lembrar, o estado em que ela ficou sem ter noticias do Jake ainda.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora