26 - Eclosão

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(Nota: Sugiro que coloquem a música World Gone Mad do Bastille quando for citada. A descrição foi sincronizada com a música e um dia, quando tudo fizer sentido, vocês vão me agradecer por isso. Para quem gosta, é claro)  


Eu não estava no meu quarto quando abri os olhos

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Eu não estava no meu quarto quando abri os olhos.

Em nenhum deles.

O espaço era grande, a cama imensa, rodeada por móveis rústicos, de madeira escura e pesada. A sensação de deslocamento já estava se tornando frequente. Em um dia eu acordo em uma cela, no outro em um laboratório, em outro estou em um barco amarrada, debaixo de um caixa, no apartamento do Caleb, em uma sala de interrogatório, na casa da minha vó, no galpão e agora... em um dos quartos no Castel. 

Soube disso assim que vi as paredes revestidas com aquele papel verde escuro, antiquado. As cortinas pretas bloqueavam a luz do dia, mas pela clareza que se insinuava nas bordas, podia ver que já era manhã. 

E quando virei a cabeça para o outro lado da cama, meu coração deu uma afundada no peito.

Sentado na poltrona como se o mundo fosse dele, estava o Ceifeiro. Um cotovelo apoiado preguiçosamente no braço estofado, em um canto particularmente escuro do quarto. Ele usava a balaclava de sempre, um estampado macabro de um crânio.

Mesmo sem ver seu rosto, sentia seus olhos me queimarem. Eu só podia distinguir o crânio da caveira. Os dedos de ossos estampados na luva próximo ao rosto, e a silhueta do seu corpo grande. 

— O que aconteceu? — Minha voz saiu rouca, quebrada, como se eu não tivesse usado há horas.  — Ah, eu esqueci, você não fala.

Soltei um suspiro irritado, passando as mãos pelo rosto com força...

— Merda... — O curativo abaixo da sobrancelha repuxou minha pele. Mas que inferno! — O que deu errado?

Não esperei uma resposta. Não que fosse necessário. Seu olhar lamacento atravessava a máscara, me puxando para lembranças que retornaram em flashes. Bela Tarr, o fogo, a explosão, a fumaça sufocante... Podia ver tudo ali, como se estivesse acontecendo bem diante dos meus olhos.

Me sentei na cama, puxando o lençol marsala comigo. Peguei o copo de água na mesa ao lado e o bebi de uma só vez, tentando forçar meu corpo a aceitar que essa era a realidade. Eu estava viva. E isso, sem dúvidas, era por causa dele.

— Me diz que, pelo menos, o lugar acordou em cinzas. 

Ele fez um leve movimento com a cabeça quando o olhei. Sim.

— Alguém se machucou?

Ele negou, com a mesma calma perturbadora. 

— Ótimo. — O murmúrio saiu mais para mim do que para ele. Meus olhos desceram pelo seu corpo. Ele ainda vestia as mesmas roupas da noite anterior.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora