01 - Incisão

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3 meses antes do apagão.

A Nêmesis-47 foi comprometida. Há um traidor entre nós.

Alguém será enviado para restabelecer a ordem e garantir o sucesso da operação. 

Até segunda ordem. 

Diretor Maior da UFEM: Scott Daniels. 


Kate Warren 

Eu podia morrer a qualquer momento.

Não era exagero, e tudo bem, eu tinha aceitado. O que realmente me incomodava era que eu não sabia absolutamente nada sobre a morte.

Diziam que ela era silenciosa. Mas, pra quem?

Sempre que fiquei cara a cara com ela, eu estava gritando. Mas, eu também sempre achei que cemitérios tinham algum cheiro específico, e estava errada. Quer dizer, tantos corpos ali, se decompondo, não era de se esperar que o lugar fedesse a gente morta? Mas não. A única coisa que senti naquele dia foi uma energia profunda, solitária. Uma vontade estranha de correr e, ao mesmo tempo, de ficar. Não queria deixar minha avó ali sozinha. 

Eu estava sentindo a mesma coisa agora, enquanto secava a pedra do balcão do bar onde estava trabalhando, uma vontade imensa de fugir, e assim como naquele cemitério, mesmo rodeada de pessoas, estava mais sozinha do que jamais pensei que estaria em toda minha vida.

— Kate, consegue cobrir meu turno até mais tarde hoje? — Rue apareceu ao meu lado, com uma expressão aflita. — O síndico ligou. Parece que um cano estourou no meu apartamento, e o vizinho de baixo tá em pânico.

Ela empilhou alguns copos no balcão, e eu rapidamente os transferi para a pia.

— Consigo! — respondi. — Isso me garante a folga no domingo?

O sorriso de Rue murchou na hora.

— Você é bem espertinha, não é? — Seu olhar estreitou antes de sair com sua bandeja abastecida com garrafas de cerveja.

Esperta? Ah, eu era.

Sorte nunca foi o meu jogo, mas eu me garantia em um tabuleiro de xadrez. Além de estratégica, conseguia fazer cálculos de probabilidade em segundos. E "ser esperta" acabava sendo uma questão de sobrevivência. Com Rue, era só uma negociação amigável. No domingo, eu precisava da minha folga.

Um calafrio me fez perceber que estava sendo observada. Meus olhos vasculharam o bar, mas todos pareciam ocupados, imersos em suas conversas e brindes sem motivo. Até que encontrei um homem sentado discretamente na mesa dos fundos.

Sujeito estranho, mas quem ali não era? 

Trabalhar no bar para o Doc tinha suas vantagens. As gorjetas eram boas, e ele próprio me ensinou a arrancá-las de seus clientes. As bandas eram legais, e a clientela... basicamente caminhoneiros que cruzavam Beeville Ridge a caminho do porto de Refúgio.

Ainda me acostumava com os rostos e as figuras que apareciam por ali. Como o caminhoneiro da mesa dois, Mark, que apagava depois de uma única garrafa. Ou o Hermann, o sujeito da carreta gigante, que sempre aparecia com duas acompanhantes diferentes.

Meus olhos voltaram para o canto escuro onde o homem misterioso estava. Erika agora o atendia, e ele murmurou algo em resposta. Eu não o reconhecia, mas, afinal, fazia só duas semanas que trabalhava ali. Gente estranha era quase rotina.

— Ei, Kate. — Levantei o olhar do balcão que estava limpando quando Maxuel, ou simplesmente Max, apoiou uma garrafa de vinho ainda lacrada ali, com um sorriso meio torto. — Olha só o que veio por engano na caixa de cerveja.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora