41 - Apoteose

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Eu não me surpreendi quando olhei pela janela do quarto, e avistei Riv recolhendo madeira para alimentar a fogueira onde os corpos seriam cremados

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Eu não me surpreendi quando olhei pela janela do quarto, e avistei Riv recolhendo madeira para alimentar a fogueira onde os corpos seriam cremados.

Fiquei ali, observando o vai e vem dele e de Mamute, que queimavam também todo o resto de madeira inutilizável tiradas de dentro de casa. 

A fogueira ardia, devorando os cadáveres, e eu não conseguia desviar os olhos das chamas altas. Poderia ser o corpo de Riv ali, enquanto eu estaria sendo arrastada para a caminhonete preta que Mamute tirou da estrada de terra. Talvez, se as coisas tivessem corrido de outro jeito, aqueles corpos ali queimando, estariam contando a recompensa depois de me entregarem para Axel.

Mas eu não sabia disso quando puxei o gatilho.

Eu não pensei em mim, nem mesmo em consequências. O pânico me tomou ao ver Riv encurralado, ensanguentado. Foi algo totalmente instintivo. Antes que eu percebesse, estava me atirando neles, movida por uma raiva cega e desesperada. Não posso dizer que foi um ato de coragem; foi puro desespero, uma necessidade de parar o que estava acontecendo, de impedir que o machucassem mais.

Agora, com a cena diante de mim, eu me perguntava o que isso dizia sobre mim. Talvez fosse mais fácil pensar que eu fiz o que qualquer um faria. Mas, no fundo, eu sabia que não era verdade. Eu não atirei por moralidade ou justiça. Eu atirei porque Riv era meu. E ninguém toca no que é meu sem sangrar por isso.

Tinham quatro corpos queimando porque eu o defendi por puro instinto de sobrevivência. Ou porque se eu não fizesse nada, eles o matariam, e eu não conseguia... suportar a ideia na minha mente.

Não saí da janela até a fogueira começar a baixar. As chamas, antes violentas, agora eram apenas fogo em um monte de lixo. Quando a fumaça virou um rastro no ar, fui para o chuveiro.

A água escorria quente, tingida de vermelho. Fiquei observando o líquido girar no ralo, levando embora o sangue que, ironicamente, nunca pertenceram a mim. Não dessa vez. Riv não deixou que eles chegassem até mim. E eu não deixei que eles terminassem com ele.

Meus dedos encontraram a aliança no meu dedo. Girei. Tirei. Coloquei de novo. Um círculo incessante, como os pensamentos na minha cabeça. 

Saí do banho com a pele ainda úmida, enrolada na toalha branca que escorregava um pouco, presa apenas por minhas mãos. Só não esperava dar de cara com Riv sentado na beira da minha cama, o corpo inclinado para frente, as mãos apoiadas nos joelhos.

Seu cabelo estava úmido, a luz amarelada do quarto acentuava os ângulos de seu rosto. A mandíbula marcada, e os olhos escuros ainda mais profundos. Intensos, fixos, me queimando como se pudesse ver através da toalha, através da minha pele. E, talvez, através das minhas mentiras.

Ele vestia apenas uma calça de moletom, deixando os músculos do peito e o abdômen expostos. Cada linha parecia desenhada à mão, mas o ombro direito estava enfaixado, e eu podia ver agora todos os machucados limpos em seu rosto, no entanto, ele não mostrava dor. Apenas aquele olhar de mistério metade intrigado, metade orgulhoso. Talvez confuso. 

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora