32 - Nemesis

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Kate Warren

"Ela nunca saiu de lá."

A frase ecoava na minha mente, uma maldição repetida a cada pessoa retirada daquele caminhão, levada para as ambulâncias. A chuva começou a cair pesada, o céu se desmoronando sobre nós. Fechei os olhos por um momento, deixando as gotas lavarem o sangue que respingou no meu rosto, o sangue do motorista ainda fresco na minha pele.

Mentirosa. Manipuladora. Assassina.

E a lista só crescia. 

— Kate?

A voz de Zahara me trouxe de volta, firme, mas com algo mais nos olhos manchados de tinta preta. Mesmo sem o capacete e a balaclava, seu rosto ainda era forte e implacável, a pele escura molhada pela chuva que agora caía impiedosa.

— Onde ele está? — perguntei, varrendo o entorno, esperando encontrar Riv entre os rostos.

Ela balançou a cabeça. 

— Ele teve que voltar. Invadiram o galpão. E você é minha responsabilidade agora.

Um frio se espalhou pelo meu corpo, lento, sombrio.

— Alguém se feriu?

— Mamute foi atingido, mas está bem.

— E o Jake?

— Jake está bem também. Riv já deve estar lá. Os militares recuaram, não tentaram evacuar a cidade. Tudo isso... era só uma distração.

Engoli em seco, contendo a tempestade dentro de mim, forçando minha expressão a um vazio que eu nem sabia que ainda podia alcançar. Minha mente capturou a imagem da ambulância sendo fechada, levando a última mulher ferida para longe. 

— Para onde estão indo?

— Para o hospital de Refúgio. — Zahara parou, o olhar carregado. — Não é seguro. Mas é o que temos, e eles já estão acostumados a nos atender.

Suspirei, endireitando meu corpo, os músculos gritando de dor.

Ela me olhou por um instante, como se avaliasse se era o momento certo, e francamente nunca seria, eu não queria que sentissem pena de mim. Já estava bastante arrependida de ter permitido que Riv me visse daquela maneira, mas eu só não consegui... conter. Foi demais pra mim. 

— Sinto muito pela sua amiga. Vamos continuar procurando.

O silêncio caiu entre nós. Eu só pude assentir e caminhar até a moto que um dos caveiras trouxe, o mesmo que me viu mancando ao descer da carreta. Quando montei, Kessie apareceu, ao lado da irmã.

— Eu deveria levar você comigo — Zahara disse.

Eu soltei uma risada seca, sem humor. 

— Mas não vai. Entrei nisso sozinha e vou sair sozinha.

— Vai pilotar desse jeito? — Kessie estreitou os olhos. — Você está machucada.

— Estou bem, porra! — rosnei, tirando as luvas completamente destruídas. Se não fosse isso, seria a palma da minha mão em carne viva agora, mas estavam apenas raladas.

— Consegue fechar os dedos? — Kessie fez o movimento e eu repeti, dobrando-os. Levantei a mão para Kessie, mostrando que nada estava quebrado.

Mas então, ao virar minha mão, Kessie parou. Seu olhar se fixou em algo que eu demorei a perceber que não era um osso exposto, mas sim o anel. Um brilho momentâneo de surpresa atravessou seu rosto, suas linhas expressivas se desfizeram.

My Nemesis - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora