My Nemesis - Dark Romance

14 - Paradox

Kate Warren

Eazy me chamou depois de mais uma sessão de tortura muscular com Mamute, e ainda sustentava aquele sorriso de canto quando estacionamos de frente para uma loja de artigos.

Os prédios pareciam amontoados, sujos e cobertos de fuligem, como se tivessem desistido de existir há muito tempo. O céu, todo cinza, com aquele ar típico de um lugar que já viu dias melhores, mas o Mobclub destoava do cenário de Beeville Rigde. Na vitrine, jaquetas de couro e capacetes, todos com caveiras e símbolos de gangues.

— Alguém mandou eu vestir você com algo mais aderente ao banco — ela disse, percebendo que eu estava observando as fachadas cobertas de pichações, algumas delas proclamando revoltas, pedindo libertação e declarando lealdade a um símbolo de caveira.

"Não somos filhos do crime"

Revirei os olhos, enquanto entregava o capacete a ela. 

— Jake não quer me ver em cima de uma moto, por que eu preciso de roupas?

— Porque agora é o Riv que está fazendo o trabalho dele. — Ela entrou na loja, e eu fiquei ali, pregada ao chão como uma tonta.

Era quase cômico. Claro que Riv ia inventar uma dessas. Ele já não confiava em ninguém mesmo, devia achar que eu ia ser mais útil se me arrebentasse toda, o pouparia de muita coisa.

Eazy segurou a porta pra mim, com aquele sorrisinho ardiloso que ela nunca largava. O cheiro de couro novo misturado com metal polido me atingiu assim que cruzei a porta. A loja era um caos organizado, cheia de prateleiras abarrotadas de jaquetas de couro, botas e todo tipo de acessório pra motoqueiros. 

— O que diabos quis dizer com Riv estar fazendo o trabalho do Jake? 

Ela passou por mim com um olhar estreito, como se a resposta fosse óbvia.

— Você já devia estar em cima de uma moto. — Ela parou para dar uma olhada numa jaqueta de couro. — Já se passaram dias e você não aprendeu mais do que a ligar a esteira na academia. 

Meu cenho franziu. Segui atrás dela, os olhos vagando pelos artigos espalhados pelas prateleiras.

— Eu sei pilotar! Jake está me condicionando pra isso.

Quer dizer... Mamute está. 

— Sim... ele está tão empenhado, que nem trouxe você para escolher uma roupa adequada. Se surgisse uma operação ainda hoje, você seria descartada — ela soltou, andando despreocupada entre os corredores cheios de capacetes e acessórios.

Jake estava adiando o inevitável. Talvez esse fosse o seu modo de me proteger desses caras. Do próprio Riv.

Cruzei os braços, tentando acompanhar o raciocínio. Meu olhar passou por uma jaqueta de couro que parecia ter saído de algum filme, cheia de rebites. Será que era isso que eles queriam de mim agora? Que eu me transformasse numa versão mais... aderente ao banco?

Dei uma risada seca, tentando ignorar o friozinho na barriga. 

— Todos vocês seguem o que Riv fala, é isso mesmo? 

Eazy deu de ombros, pegando uma luva de couro e a esticando pra mim como se já soubesse que eu ia acabar usando aquilo de qualquer jeito.

— Algumas coisas mudaram depois que ele chegou. Para melhor, quero dizer, então sim, ele parece saber o que está fazendo. 

— E Doc concorda com isso? — perguntei, ainda tentando entender a dinâmica do grupo. Eazy pescava uma peça de roupa a cada sessão que passávamos, e no fundo, atrás de um balcão, avistei Asaph, o albino,  conversando com um cliente com um capacete entre eles.