𝟢𝟢𝟥- 𝖡𝖴́𝖲𝖲𝖮𝖫𝖠 𝖣𝖠 𝖲𝖮𝖱𝖳𝖤 pt 2

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𝐀𝐖

— Não acredito que eles me deixaram aqui! — JJ chuta uma árvore do nosso lado. John B nos trouxe até um farol porque acredita que esse lugar pode esconder uma pista sobre a bússola e consequentemente sobre seu pai, mas levou só a Kiara para o farol, enquanto JJ, Pope e eu ficamos aqui.

— Ah, você é mais especial?— Pope pergunta com ironia — Que merda, hein...

Olho para o farol, bem mais alto que nós, mas não vejo nada. JJ e Pope começam a brincar com a chave da Kombi e eu tiro um cigarro do bolso, mas escuto um barulho de uma sirene. JJ e Pope correm e eu vou atrás.

John B nos passou uma regra clara: caso aconteça alguma coisa, devemos ir até a casa dele. Então fazemos isso. Abro a porta da Kombi com dificuldade e JJ dirige ela com rapidez.

— Que merda! — Pope grita — A gente deixou eles pra trás!

— A gente vai voltar? — JJ pergunta mantendo o pé firme no acelerador.

— Gente! — grito e passo a mão no bolso. Eles me olham assustado e JJ quase bate a Kombi — Eu perdi meu baseado!

— O quê?! — Pope pergunta indignado — Que porra, Alyssa, você quase me matou de susto! — JJ me olha pelo retrovisor e eu dou um sorriso envergonhado.

Passamos o caminho inteiro pensando em voltar, mas não voltamos. Ao contrário, vamos até a casa de John B, assim como ele pediu. Me jogo no sofá da varanda e JJ vem atrás. Pope para na entrada da casa como um fantasma e eu me assusto.

— O que foi?

— Vou embora. — ele fala — Vou embora agora, cansei das maluquices do John B.

— Pope! — JJ grita, mas ele já está longe. Me ajeito no sofá e JJ ergue a mão. Tem um baseado nela, e eu fico genuinamente triste, porque me lembro que perdi o meu.

— Quer fumar, né? — ele pergunta sorrindo.

— Quero, mas aqui não. — ele faz uma expressão confusa, então me levanto e ele vem atrás. A casa de John B é muito perto da praia e não demoramos muito para chegar. Está vazia e fresca, com um clima gostoso.

Nos sentamos na areia e JJ finalmente acende o baseado. Quando ele traga, consigo sentir instantaneamente o cheiro de maconha invadindo minhas narinas. Ele passa pra mim e imito o seu gesto.

— Kiara e John B se beijaram hoje. — ele fala olhando para o mar.

— O quê?

— Quando a gente 'tava fugindo. — entrego o baseado pra ele — Eu vi eles se beijando atrás do farol. Eu achei melhor a gente não voltar lá por causa disso.

— Você ficou chateado? — sei que JJ gosta de Kiara e sei que ficou chateado, mas sei que vai mentir respondendo minha pergunta — Você gosta muito dela?

— Eu não gosto dela. E obviamente não fiquei chateado. — ele puxa rapidamente, depois passa pra mim de novo — Acho que ela gosta mesmo do John B. Que bom.

— Parece que vocês estão em uma grande disputa pela Kiara. — solto a fumaça e deixo uma risada sair. JJ olha pra mim curioso — Desde quando a gente era criança vocês disputavam a atenção dela. Engraçado, sempre achei que você fosse ganhar, mas quem ganhou foi o John B, né?

— Eu não disputava a atenção dela. — entrego o baseado para ele — Eu só precisava da sua.

Olho para o mar e um vento calorento vem até mim. JJ me olha como se entendesse o que eu sinto.

Ele sempre foi um bom amigo. Pope e eu nos conhecemos primeiro, minha vó e seu pai são ótimos amigos e minha vó chegou até a fazer seu parto. Ela sempre me disse que Pope é um garoto bom, e ele é mesmo. Um ótimo garoto e ótimo amigo. JJ não é como Pope, mas eu também o amo muito. O amo porque ele me entende muito bem. Mesmo Pope sendo compreensível, ele tem uma família boa e pais que o amam, mas JJ e eu não.

Eu costumava a dizer que JJ, John B e eu somos órfãos.

— Você quer entrar na água? — JJ pergunta. Concordo com a cabeça e ele joga o baseado no chão. Estou usando short jeans e uma blusa que me incomoda, então simplesmente os tiro. Não é diferente, já que JJ sempre me viu de biquíni, então não fico envergonhada.

Ele tira a blusa e fica só de bermuda, então entramos. Ele joga água em mim e eu a sinto bater na minha barriga como se fosse uma pedra de gelo. Está escuro e mal consigo enxergar JJ.

Nós avançamos ainda mais e a água começa a bater no meu pescoço. Ele é mais alto que eu e está mais longe.

— Vem!

— Não me dá pé! — JJ vem até mim, pega minha mão e me guia para o fundo. Em um momento fica difícil que continuemos assim, então ele segura minha cintura. A água nem começou a bater no seu pescoço, mal chegou no peito, mas ele não vai mais para o fundo.

Seus olhos encontram o meu e de repente fico com muito frio.

— Eu quero sair. — um vento gelado bate na minha nuca — 'Tá muito frio aqui.

— Eu não quero sair. — ele sussurra. Seus dedos sobem da minha cintura até meu ombro, então param na minha nuca. Sua mão está muito gelada e eu mal suporto seu toque.

— JJ. — o chamo, mas ele me ignora. Nossos lábios se tocam e ficam assim por alguns segundos. Ele pede espaço com a língua e eu deixo, mas quando percebo o que está fazendo, o afasto — JJ. — o chamo de novo. Ele me encara com uma expressão de coitado, como se estivesse triste.

Me sinto envergonhada também. JJ acabou de me beijar. Eu gostei, mas não queria que isso acontecesse. Não queria, mesmo.

— Alyssa, me desculpa. — ele pede. Sua mão voltam pra minha cintura de novo e eu sinto uma vontade imensa de nadar de volta pra areia.

— Tudo bem. A gente fumou quase o dia todo. — ele olha pra baixo — É, vamos sair, então. — sorrio falso — Preciso de um banho urgente.

Ele concorda e me guia de volta até um lugar onde eu consiga nadar sozinha. Nós vamos até a areia e de repente me sinto envergonhada de estar quase sem roupa. Pego meu short e minha blusa, vestindo elas rapidamente. Quando pego meu celular que estava no meu bolso, percebo que tenho várias ligações.

Abro a caixa de recados do celular e coloco para escutar.

A gente 'tá indo pro cemitério. Achamos uma pista. — é a voz de John B. JJ se aproxima.

A gente achou um gravador. — abro outra mensagem.

A gente 'tá indo aí. Não sai daí, Alyssa. Não sai!

𝐋𝐀 𝐑𝐄𝐆𝐋𝐀 - 𝗃𝗃 𝗆𝖺𝗒𝖻𝖺𝗇𝗄Onde histórias criam vida. Descubra agora