52 | Marina

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O silêncio do quarto parecia mais pesado depois que Roberto saiu, a porta ainda balançando levemente após o impacto da última discussão. O ar parecia denso, como se cada palavra raivosa dita ainda estivesse impregnada no ambiente. Eu ainda sentia o calor do meu rosto, o coração martelando no peito como se tentasse gritar toda a frustração que eu estava segurando.

Passei as mãos pelos cabelos, tentando acalmar a tremedeira nas mãos. Mas não adiantava. A sensação de sufocamento continuava ali, presa no peito, e a pior parte era não poder simplesmente desabar, porque qualquer barulho mais alto e minha mãe perceberia. Ela não sabia o que realmente estava acontecendo entre mim e Roberto. Não podia saber.

Respirei fundo, apertando os olhos com força. A vontade de chorar crescia, mas eu precisava ser forte.

“Nenhum homem pode ter esse poder sobre você”, pensei, tentando me convencer.

Mas o nó na garganta não cedia. Uma lágrima solitária escapou, escorrendo quente pela bochecha. Eu a enxuguei rapidamente com a palma da mão, como se quisesse apagar não só o rastro da lágrima, mas o sentimento todo.

Ficar parada, remoendo tudo, só parecia piorar o nó no peito. Eu me recusava a me sentir fraca por causa dele. Com um suspiro pesado, soltei a toalha que envolvia meus cabelos, sentindo os fios ainda úmidos tocarem as costas. O roupão de tecido macio escorregava levemente pela pele quente após o banho, e por um instante eu hesitei, encarando meu reflexo no espelho. O rosto corado, os olhos levemente inchados de quem segurava o choro, e a marca do sol realçando ainda mais o contraste da pele bronzeada.

Sacudi a cabeça, irritada comigo mesma, e fui até a mala que Gabriel havia trazido, puxando as primeiras peças que encontrei. Um short jeans curto, uma camiseta branca leve e sandálias simples. Vesti-me com pressa, sentindo o tecido fresco contra a pele. Por fim, ajeitei o cabelo úmido, prendendo-o em um coque alto, e encarei o espelho mais uma vez.

Eu estava tentando parecer controlada, mas os olhos não mentiam. Meus olhos ainda estavam levemente vermelhos, mas eu parecia controlada. Pelo menos o suficiente para não levantar suspeitas.

Saí do quarto, respirando fundo. Eu precisava distrair a mente. Explorar o lugar parecia a melhor opção. A casa de Bárbara era enorme e, até agora, eu tinha visto pouca coisa além do quarto e da área comum onde almoçamos.

Desci as escadas devagar, o som dos meus passos ecoando no piso de madeira polida. Quando alcancei o andar de baixo, a visão de Layla e o namorado esparramados no sofá me fez hesitar por um segundo. Ele, como sempre, estava afundado no celular, os dedos rolando a tela com desinteresse. Layla, por outro lado, estava de pernas cruzadas, um copo de suco nas mãos, me observando com um meio sorriso que eu não sabia decifrar.

Respirei fundo e decidi ser a mais madura naquela situação. Caminhei até a sala, me aproximando, mesmo sentindo meu estômago revirar com o desconforto.

— Posso falar com você rapidinho? — perguntei, mantendo o tom neutro.

Layla ergueu uma sobrancelha, claramente surpresa com a abordagem. Ela colocou o copo na mesinha de centro e deu de ombros.

— Claro.

O namorado dela nem ergueu os olhos do celular.

Engoli em seco antes de continuar.

— Eu… — Cruzei os braços, tentando encontrar as palavras certas. — Queria pedir desculpas pelo que minha mãe falou no almoço. Sei que ela foi grossa e… passou dos limites.

Layla inclinou a cabeça, analisando meu rosto como se tentasse entender se eu estava sendo sincera. Depois de um momento, soltou um suspiro e assentiu.

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