Choro

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Hoje era o grande dia

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Hoje era o grande dia. O primeiro dia de Pablo na escolinha. Eu sabia que, em algum momento, isso teria que acontecer, mas agora que o momento havia chegado, o peso da responsabilidade e da emoção parecia maior do que eu esperava. Acordei cedo, tentando me preparar mentalmente para o que viria, embora soubesse que seria mais difícil para ele do que para mim. Ou talvez para mim também.

Entrei no quarto de Pablo e o vi dormindo tranquilamente, seu pequeno corpo encolhido debaixo das cobertas, respirando devagar. Parecia tão frágil ali, com o cabelo bagunçado e o rosto sereno. Queria que ele soubesse que tudo ficaria bem, mas sabia que a transição seria complicada. Com um toque suave, acariciei seus cabelos e o chamei:

"Pablo, está na hora de acordar, campeão."

Ele se mexeu lentamente, abrindo os olhos com dificuldade. Eu sorri para ele, tentando manter o clima leve. "Vamos, hoje é um dia especial. Seu primeiro dia na escolinha."

Ainda sonolento, ele se esticou e se levantou, esfregando os olhinhos. Com a mesma rotina de sempre, o levei para tomar café da manhã. Preparei algo leve – uma torrada com geleia, leite com chocolate, e frutas. Ele comeu devagar, parecendo ainda um pouco desorientado.

Depois do café, fui com ele até o banheiro, onde escovamos os dentes juntos. Era algo que eu sempre fazia com ele. Quando terminamos, levei-o ao quarto para vesti-lo. O uniforme da escolinha estava ali, dobrado com cuidado. Era uma blusa azul clara e uma calça azul escuro com duas listras claras na lateral, simples e adorável. Coloquei nele com todo o cuidado, como se estivesse me despedindo de uma fase da vida.

"Olha só você, todo arrumado," comentei, sorrindo enquanto ajeitava o a blusa e arrumava seu cabelo. Ele me olhava com aquele olhar inocente, talvez sem entender completamente a importância daquele momento. Mas a expressão no rosto dele mudava de curiosidade para nervosismo à medida que a manhã avançava.

Ajeitei os cadarços dos tênis novos que havia comprado especialmente para esse dia e coloquei a mochilinha nas costas dele. A mochila parecia enorme em suas costas pequenas, um lembrete visual de como ele ainda era tão pequeno, embora estivesse dando seus primeiros passos rumo ao mundo exterior.

"Tudo pronto, campeão. Vamos lá."

Peguei-o no colo e o levei até o carro. Durante a viagem até a escolinha, tentei distrair Pablo, apontando para as coisas na rua e falando sobre as outras crianças que ele conheceria. Ele me respondia com acenos de cabeça, mas era óbvio que a ansiedade estava crescendo. Suas mãos pequenas estavam inquietas, mexendo na alça da mochila enquanto olhava para a janela.

Quando chegamos, estacionei o carro e olhei para Pablo. Ele me devolveu o olhar, mas agora seus olhos estavam maiores, como se começasse a entender que algo importante estava para acontecer. Desci do carro e fui até a porta dele, estendendo a mão. Ele segurou minha mão com força e desceu do carro com passos hesitantes. A caminhada até a entrada da escolinha foi silenciosa, exceto pelo som dos pequenos passos de Pablo ao meu lado.

À medida que nos aproximávamos da entrada, percebi que sua mãozinha apertava a minha com ainda mais força, como se ele não quisesse soltar de jeito nenhum. Olhei para baixo e vi seus olhinhos castanho-esverdeados começarem a brilhar de lágrimas. Ele estava com medo, e meu coração se partiu em mil pedaços naquele momento.

Quando chegamos à porta, a professora estava ali para recebê-lo, uma senhora simpática, com um sorriso acolhedor. Ela se abaixou para ficar na altura de Pablo e estendeu a mão, convidando-o a entrar.

"Oi, Pablo! Que bom que você veio hoje. Vamos lá, tem muitas crianças querendo te conhecer."

Mas Pablo não se mexeu. Ele olhou para mim, as lágrimas escorrendo silenciosamente pelo rosto, e se agarrou à minha perna com força, como se eu fosse a única coisa que o mantinha seguro no mundo naquele momento. Era como se ele estivesse dizendo, sem palavras, que não queria me deixar.

"Está tudo bem, filho," sussurrei, tentando manter a calma enquanto abaixava para ficar ao nível dele. "Eu vou estar aqui quando você sair, eu prometo. Você vai se divertir muito, e quando o dia acabar, eu venho te buscar, tá bom?"

Ele não disse nada, apenas me abraçou com ainda mais força. Meu coração doía por vê-lo tão assustado, mas eu sabia que precisava ser firme. A professora se aproximou mais uma vez, tentando suavemente puxá-lo para dentro. Pablo relutou, segurando minha mão até o último segundo, e quando finalmente soltou, começou a chorar de verdade. Aquela cena partiu meu coração em pedaços.

"Vai ficar tudo bem," tentei sorrir, mas minha própria voz estava embargada pela emoção. "Eu te amo, Pablo. Eu volto logo."

Com muito custo, a professora conseguiu levá-lo para dentro, e eu fiquei ali parado na porta, observando-o enquanto ele desaparecia no corredor. As lágrimas continuavam escorrendo pelo rosto dele, e, por um instante, pensei em correr atrás dele e levá-lo de volta para casa. Mas eu sabia que isso não era o melhor para ele. Ele precisava dessa experiência, e eu precisava confiar que ele seria forte o suficiente para lidar com essa nova fase.

Saí da escolinha com o peito apertado, mas sabendo que esse era apenas mais um passo na nossa jornada. Afinal, ser pai também é aprender a deixar ir – um pouco de cada vez.

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