Isís 🌪️
Isís: Qual foi mãe, tô dormindo cara. - Resmunguei sentindo sua mão balançar meu ombro, nem me dei ao trabalho de olhar pra ela.
Diana: Isís! Eu vou vim chamar teu pai pra acordar você, tu tem aula garota, adianta! - Falou firme escancarando as cortinas do meu quarto, e deixando o sol bater bem no meu rosto.
Me dei por vencida e sentei na cama, olhando a dona Diana com a cara mais ciníca do mundo inteirinho.
Diana: Bom dia pacotinho, dormiu bem? - Questionou beijando minha testa e eu sorri falsa. Ainda nem raciocinei direito pessoal, calma aí!
Isís: Não queria ir pra aula hoje, só professor chato, e aqueles riquinhos mesquinhos. - Estudar em escola particular, vindo de onde eu vim é foda, moro na favela e estudo no melhor bairro do Rio. A desigualdade social é enorme, eles vivem em uma bolha só deles, e acho que nunca vão sair.
Diana: Teu pai deixou tu faltar ontem, e você sabe, não tá com muita moral com ele não. - Riu da minha cara saindo do meu quarto.
Eu nem fiz nada demais, literalmente, mas como o morro tá sob aviso de invasão e a família sob ameaça, meu pai ficou mil vezes mais protetor, e eu esqueci de avisar que tava indo na casa da minha colega depois da aula, aí ele surtou.
Mas hoje mesmo eu peço desculpas pro meu papaizinho lindo, razão do meu viver! Amo muito meus pais, sou muito grata por todos os esforços que eles fizeram e fazem por mim todos os dias. Minha mãe é uma arquiteta foda, e meu pai, o melhor comandante do complexo.
Sai do meu quarto ainda de pijama e com o telefone na mão, ainda eram 05:45, desci pra cozinha vendo meus amores tomando café na mesa.
Grudei logo no pescoço do meu pai que continuou de cara virada pra mim, me fazendo ter a obrigação de colocar um biquinho na cara.
Coronel: Malandra! - Sorriu de lado e me puxou pra sentar no colo dele.
Isís: Me desculpa, papai. Não fiz nada pra te preocupar por querer, não foi de propósito mesmo! Te amo muito. - Fui sincera e beijei sua bochecha, que concordou com a cabeça e me deu um beijo na testa.
Coronel: Eu sei, mas tu tem que ter mais cabeça neguinha, tu sabe o perigo que corre e a preocupação que eu fico. Não sou qualquer um pô, você sendo minha filha também não é, tem que ter juízo pacotinho. - Falou firme, deixando transparecer a preocupação que ele sentia.
Diana: Ver vocês dois assim, tão carinhosos, da até vontade de fazer mais uma pra te encher a paciência. - Brincou com meu pai e eu fechei a cara, vendo ele sorrir.
Coronel: Eu meto outra em tu hora que tu quiser, gostosa. Doido pra lançar mais uma cria! - Fechei a cara mais ainda e me levantei do colo dele, observando minha mãe rir.
Isís: Ou! Você já não tá satisfeito comigo não, cara? E você eim, quer ter outra filha pra que? - Questionei meus pais deixando bem claro meu posicionamento nessa conversa, e eu estava falando muito sério.
Da onde já se viu? Querer outra cria? Nem a pau.
Diana: Deixa de ser ciumenta, Isís. Amor de filho não divide, se multiplica! - Disse com a voz calma e baixa, que só ela consegue ter. Beijou minha testa e me entregou uma xícara de café. - Vai se arrumar, agorinha o Joca tá passando aí pra te levar pro colégio.
Suspirei e subi pro meu quarto, tomando o delicioso café da minha mãe, que é o melhor que existe.
Isís Castro Silva | 16 anos.