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Paramos lá na barraca da Dona Neide e sentamos em uma mesa mais afastada de todo mundo. Mesmo que o morro tivesse quase vazio, ainda tinha algumas pessoas por aqui.

Joca: Vai querer o que? - Perguntou com a cara enfiada no cardápio e eu pensei um pouco, olhando o que estava na minha mão.

Isís: Hm, pode ser um português desse, por favor. - Decidi e ele concordou, dizendo pra moça o pedido dele em seguida e pedindo uma coca.

X: Certinho, logo trago o pedido de vocês. - Sorri agradecendo e ela virou as costas, indo para trás do balcão.

Joca: Eae, beleza? - Perguntou me encarando e eu balancei a cabeça.

Isís: Um pouquinho de dor de cabeça. - Murmurei e ele franziu a sobrancelha.

Joca: Quer vazar? Te levo pra tua casa. - Neguei e ele continuou me olhando.

Isís: Jamais, e eu deixar meu lanche pra você comer? Nunquinha, Joquinha. - Brinquei e ele riu me mostrando dedo.

Joca: Tô achando que quem vai comer o meu, vai ser tu. - Dei língua e ele continuou rindo, fazendo graça com a minha cara.

Isís: Todo cheio das graça, devia enfiar foguete no cu e soltar. - Joca fez cara de ofendido e colocou a mão no peito.

Joca: Qual foi, feiosa? Enfiar um foguete é no teu cu! - Riu e eu mostrei dedo pra ele.

E enquanto aguardávamos os lanches, ficamos trocando uma ideia, ou melhor, quase trocando tapa. Joca é bem maneiro de conversar, apesar de não termos lá aquela intimidade, ele é bem tranquilo.

Os lanches chegaram, nós comemos e tomamos coca bem em paz, quer dizer, o Joca ficou falando lorota e eu continuei mastigando e rindo dele.

Isís: Eu pago, não tem problema. Tô te fazendo de uber particular, não precisa pagar mais meu lanche. - Falei o óbvio e ele fechou a cara, tirando a carteira do bolso.

Joca: Se liga, otaria. Vai pagar de outra forma depois! - Soltou a piadinha dele e eu sorri de canto, entendendo o duplo sentido. E ele se levantou antes mesmo de eu poder responder, filha da puta.

(...)

Isís: Obrigada, Joca. Prometo que o próximo lanche, é na minha conta. - Pisquei pra ele que balançou a cabeça e eu saí do carro, entrando na minha casa.

Daqui eu sentia o cheiro de maconha, o que é estranho aqui em casa, meu pai só fuma aqui quando a mente dele tá bagunçada.

03:47, bem no horário.

Subi devagarzinho até a laje e vi ele sentado lá, olhando reto, como se nem tivesse ali.

Isís: Oi papai, tudo bem? - Perguntou me sentando do lado dele que só me olhou, calado. - O senhor quer conversar?

Coronel: Tô tranquilo, pacotinho. Problemas de gente grande. - Riu fraquinho e eu sorri de canto também, deitando a cabeça no seu ombro. - Divertiu?

Isís: Não, na verdade. A festa foi um saco, muitos riquinhos metidos e sem noção em um condomínio só, mas pelo menos o Joca me pagou um lanche. - A última frase fez meu pai me encarar, e franzir a sobrancelha enquanto tragava sua maconha. - Não teve nada demais, pai, foi só um lanche.

Coronel: Não disse que tinha, pacotinho. - Riu baixinho e eu suspirei vendo a graça do velho.

Isís: Mas tá com essa cara aí. - Fiz um biquinho e ele beijou minha testa.

Coronel: Tô gastando, tá muito nova pra vim com papo de namorar, ainda mais meu melhor soldado. - Fiz uma careta, mesmo achando o pretinho um gostoso.

Isís: Ai que nojo, pai! Não quero o Joca, e o Joca não me quer, vamos parar né. - Botei a língua pra fora demonstrando meu nojo e ele revirou o olho.

Coronel: Tua mãe também era novinha quando virou minha. - Contou e eu sorri, eu sei muito a trajetória dos meus pais pra chegarem aonde estão, e é muito linda!- Ela foi a mulher mais linda que eu já tinha visto, na moral, tua mãe me tira o juízo até hoje.

Isís: Minha mãe não é de se jogar fora, gostosa toda a vida né. - Sorri vendo ele concordar, e concordar muito. - Pai, você acha que a minha mãe, é o amor da sua vida? - Eu já sabia a resposta, mas sempre gostei de ouvir meu pai falando.

Coronel: Tua mãe é a minha vida, pacotinho. Ela é a melhor coisa que me aconteceu, ela não é só o amor da minha vida, ela é meu tudo pô, e sem tua mãe eu não fico. - Guardou o cigarro na orelha e eu sorri, vendo o quanto meus pais são minha meta de vida. - Não vai dormir?

Isís: Tô sem sono. Queria viajar, pai, o que você acha?

Coronel: Tô querendo. Por mim nós ia amanhã, agitava lá em Angra, tô esperando a resposta da tua mãe. - Me animei e eu sabia que iríamos, minha mãe nunca recusa uma viagem.

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