Kaylee Roy
Pego a minha blusa e engulo a raiva pronta para sair daqui, pronta para deixar ele para lá pois isso é a merda de um caso perdido. Mas quando tento passar ele segura a minha mão.
Olho para ele, demora um tempo para que ele olhe para mim. Mas ele o faz. E quando faz eu percebo que assim como eu, ele não é a mesma pessoa. Ele foi quebrado em um milhão de pedaços pela vida da forma mais cruel o possível e eu nem sei se quero comparar as dores dele e as minhas, sinto que eu não faria nem ideia de como alcançar ele.
— Isso é graças ao meu pai, é o que acontece quando eu não sigo as regras dele, quando eu decido fazer algo que não vai de acordo com o que ele quer. — o Ryan se aproxima..
Ele leva a minha mão até o ombro dele e ele se vira. Vejo os curativos nas suas costas e algumas feridas mais pequenas que não foram cobertas. Passo a mão de raspão por cima, sem acreditar. Coloco a mão na boca e ela está tremendo, ao mesmo tempo que partes de mim se despedaçam e transformam em uma espécie de empatia dolorosamente fodida.
— O que aconteceu desde a última vez que eu vi você? — eu pergunto.
— Assim como todos naquele maldito baile ele viu a gente e também viu uma ameaça a seus planos da minha parte, então ele fez o que faz sempre que eu não faço o obedeço, eu só voltei para casa na madrugada de sábado por causa do aniversário da minha irmã.
Aniversário em que ele nem viu a irmã por minha causa.
Talvez eu entenda um pouco mais ele agora, talvez eu possa ver qual é o tipo de dor que o moldou. O pai dele faz isso quando quiser porque todo mundo sabe que ele não é de seguir as regras.
— Como é que... você vive assim? — minha voz falha conforme pergunto.
Reparo agora nos pulsos dele, ele tem a tatuagem de dois aros feitos de linhas pretas desde que o conheço, então se eu não prestasse atenção nunca repararia nas marcas de queimaduras neles. Causada pelas correntes.
Ele fez comigo o que o pai dele faz com ele.
Talvez porque foi obrigado.
Talvez porque me odiava.
Ou quem sabe porque é bom quando existe alguém que conhece a dor das suas cicatrizes mais profundas.
Um doentio ato de vilões eu diria.
Se deixar levar por um coração estilhaçado é do caralho mesmo.
Ele se vira de volta para mim. — Não há lá muita escolha quando o seu pai é tão poderoso quanto o meu é, principalmente se ele for um doente psicopata.
Passo os braços em volta do pescoço dele e o abraço, não apenas porque ele precisa, mas porque depois de tudo eu também preciso. Que palavra é que resolve isso? Que frase é que muda uma vida inteira de tortura?
Eu já sofri muito fisicamente, mas nunca assim por causa do meu irmão, do meu pai ou da minha mãe. Fecho os olhos e mantenho as lágrimas para mim. Minha família me protegeria, não me mataria um pouco toda vez que eu fizesse algo errado.
— Isso está tão errado. — eu digo.
— O que a gente fez com você também. — ele retribui o abraço — Eu nunca deveria ter deixado o meu pai me convencer a fazer aquilo com você, eu sabia bem o quanto tudo aquilo doeria, o quanto machucaria você, Angel.
— Nós... éramos inimigos... eu não esperava que me tratasse docemente. — eu digo a verdade — Eu também teria feito coisas ruins com você se tivesse tido a chance.
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Bad boys - Alvorecer
ActionVersão 1 "Me mate me destrua, faça o que quiser mas eu não me ajoelho para ninguém." Kaylee Roy, filha de um criminoso, irmã do chefe da gangue Las Serpentes, foi torturada e colocada em abstinência da própria gangue. Era suposto ser a segunda no co...