75 - Ayrton Senna (FINAL)

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In Memoriam

"Sempre vai haver outra montanha, eu sempre vou querer movê-la

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"Sempre vai haver outra montanha, eu sempre vou querer movê-la. Sempre vai haver uma batalha difícil, às vezes você vai ter que perder. Não se trata de quão rápido eu chego lá, não se trata do que está esperando do outro lado. É a subida."

***

Era uma manhã ensolarada, e a casa estava tranquila. O bebê dormia pacificamente, embalado por sua rotina, enquanto eu aproveitava o silêncio, aquele silêncio raro e reconfortante. A rotina com ele, embora cansativa, tinha se tornado uma fonte constante de felicidade. Cada momento, cada olhar, cada sorriso. Eu me sentia plena, completa. O calor do sol que entrava pela janela da cozinha, iluminando o ambiente, parecia refletir o que eu sentia por dentro. A vida era boa, a vida era simples, e eu estava profundamente grata por isso.

Mas naquela manhã, algo estava diferente. Algo no ar, uma tensão leve que não conseguia explicar. Era um pressentimento, um toque de expectativa, que fazia com que a paz do momento fosse, de alguma maneira, interrompida. O telefone tocou. O som da campainha soou, quebrando o ritmo pacífico da casa. Eu o ouvi atender, sua voz firme e baixa, como sempre, enquanto falava com alguém do outro lado da linha. De repente, ele apareceu na sala com um sorriso tão largo que não conseguia esconder a emoção. Ele não precisava dizer nada. Era visível em sua expressão, em seu corpo, a alegria transbordando de dentro dele. Mas as palavras finalmente vieram, rápidas e cheias de entusiasmo:

— A Ferrari... — ele murmurou, como se ainda estivesse tentando processar a magnitude daquilo. — Finalmente vou correr pela Ferrari.

Eu fiquei sem palavras. Meu coração acelerou, o mundo pareceu se expandir por um momento. Desde o início de sua carreira, Ayrton sempre falara sobre a Ferrari com um brilho nos olhos. Era o sonho dele, o lugar onde ele sabia que poderia se superar e escrever sua história de uma maneira única. Ele sempre falou com tanta paixão sobre a Ferrari, sobre a história, a tradição, a grandeza daquela equipe. Para ele, não era apenas uma equipe de Fórmula 1, mas algo quase mítico, um símbolo de tudo o que ele sempre desejou alcançar em sua carreira.

A Ferrari não representava apenas um contrato, mas sim uma jornada, uma etapa que ele sabia que tinha que viver. Era o ápice de uma vida inteira dedicada ao automobilismo. A chance de fazer história com uma das equipes mais icônicas da Fórmula 1. Ele sabia que essa oportunidade não aparecia todos os dias. E, para ele, estar ali, vivendo aquele momento, era mais do que a realização de um sonho. Era a consolidação de tudo o que ele havia feito até ali, de todas as vitórias e derrotas, de cada sacrifício que o trouxe até aquele ponto.

Nos dias seguintes, a preparação começou. Viajamos para a Itália, onde a equipe da Ferrari o recebeu com toda a pompa e celebração que a ocasião merecia. Quando chegamos à fábrica da Ferrari, ele parecia um menino em sua primeira corrida. Estava radiante, empolgado, como se cada pedaço da história da equipe fosse um combustível para sua paixão. Ver Ayrton na fábrica da Ferrari, andando pelos corredores históricos, era como ver um filho retornando para casa, um lugar onde ele sempre pertenceu, mesmo antes de estar lá fisicamente. Ele respirava aquele ambiente com uma intensidade que era impossível ignorar. A paixão dele pela Ferrari estava em cada gesto, em cada olhar. Ele estava em seu elemento, e isso transparecia em cada palavra que dizia.

Eu observava ele, absorvendo a grandiosidade daquele momento, e sentia meu coração se aquecer. Eu sabia o quanto aquilo significava para ele. Quando o vi pela primeira vez com o macacão vermelho da Ferrari, com o cavalo rampante estampado em seu peito, foi como se o mundo parasse por um instante. Sentir a energia daquele momento era algo que me tocava profundamente. Aquele momento não era apenas um marco na carreira de Ayrton. Era a materialização de todos os seus sonhos, de todas as suas ambições, das horas intermináveis de treino, dos altos e baixos da vida de piloto. Ele não era mais apenas um piloto. Ele era parte de uma história maior, parte de uma equipe que simbolizava a excelência e a tradição.

A primeira corrida com a Ferrari chegou, e o clima estava eletricamente carregado. Todos sabiam que essa seria a corrida que marcaria um novo capítulo na sua carreira, e a expectativa era enorme. As pessoas falavam sobre isso nas ruas, na mídia, nos corredores dos boxes. Ayrton parecia ainda mais determinado do que nunca. Ele sabia o que a Ferrari representava, sabia da pressão que viria, mas isso não o assustava. Ele estava pronto. Ele sabia que aquela era sua chance de fazer história, e ele estava determinado a aproveitar ao máximo cada segundo.

Quando ele entrou no carro pela primeira vez, parecia que a pista era uma extensão do seu próprio corpo. Cada curva, cada aceleração, cada frenagem, ele dominava tudo com a maestria que só os grandes pilotos possuem. Não era apenas habilidade. Era a paixão pela corrida, a conexão com o carro, com a equipe, com o público. Ele estava em casa. Ele estava realizando seu sonho, mas, mais importante, ele estava fazendo aquilo de uma maneira que só ele sabia fazer. Não era apenas sobre velocidade, sobre ultrapassagens ou vitórias. Era sobre viver e respirar a corrida, sobre fazer parte de algo muito maior que ele mesmo.

Quando cruzou a linha de chegada, o troféu em mãos e o som das comemorações ao fundo, eu vi uma expressão no seu rosto que jamais esqueceria. A felicidade não estava no troféu. Não estava na celebração imediata. A felicidade estava na realização de um sonho que ele carregou por tantos anos. Ele estava ali, no topo, mas não era apenas por ele. Era por todos nós. Ele sabia que esse momento não era só dele. Era o reflexo de todas as pessoas que o apoiaram, que acreditaram nele, que estiveram ao seu lado em cada passo da jornada.

Mais tarde, enquanto conversávamos sobre o que tinha sido aquele dia, ele estava mais tranquilo, mas com uma serenidade imensa no olhar. Ele olhou para o troféu na mesa, com um sorriso suave nos lábios. Era como se, ao olhar para aquele troféu, ele estivesse refletindo sobre o que significava aquele momento, sobre tudo o que ele passou para chegar ali.

— Sempre corri por mim — ele disse, olhando para o troféu. — Mas agora, corro por nós.

Aquelas palavras, ditas com tanta sinceridade, com tanto carinho, resumiram tudo o que ele sentia. Para ele, a carreira nunca foi apenas sobre conquistar vitórias e títulos, mas sobre compartilhar esse sonho com as pessoas que amava. Ele sabia que tudo o que ele havia alcançado era possível porque tinha ao seu lado pessoas que acreditavam nele, que o apoiavam incondicionalmente. Eu estava ali, com ele, compartilhando não só aquele momento histórico, mas a vida inteira que construímos juntos.

Aquela vitória foi única, sem dúvida. Era o reconhecimento de uma carreira imensa, de uma dedicação incansável. Mas o maior prêmio que ele podia conquistar, o maior troféu, não estava nas corridas. Estava naquilo que ele tinha construído ao longo dos anos: no amor, na família, na confiança mútua que compartilhávamos. E, ao olhar para ele naquele momento, com o troféu em mãos, soube que, para nós, o verdadeiro sonho já tinha se tornado realidade: estávamos juntos, vivendo cada dia ao máximo, superando desafios, celebrando conquistas e aprendendo a cada passo.

O maior troféu, naquele momento, não era o de primeiro lugar. Era o amor que sentíamos, a alegria de estarmos juntos, e a felicidade de ver nossos sonhos se entrelaçando. Estávamos vivendo o nosso maior sonho, e nada poderia ser mais valioso do que isso.

***

Fim!

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