73 - Ayrton Senna (PARTE I)

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In Memoriam

"Olhe para as estrelas

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"Olhe para as estrelas. O grande rei olha para elas e nos observa."

***

Eu estava sozinha em casa, imersa naquele silêncio reconfortante que só quem tem um lar pode entender. Não era um silêncio vazio, mas repleto de sentimentos e pensamentos. O som das folhas que se moviam lá fora, o farfalhar do vento na janela, tudo parecia contribuir para aquele momento de paz. Eu sabia que aquele era o tipo de instante que, mais tarde, eu me lembraria com carinho, um daqueles em que tudo parece ter um propósito, onde o tempo parece se estender, como se o universo estivesse conspirando a nosso favor.

A tarde não era qualquer tarde. Ela carregava consigo uma expectativa que eu mal podia explicar, algo que tocava meu coração e acelerava minha respiração. Era o tipo de momento que não podia ser apenas um sonho. Eu sabia que ele estava prestes a se tornar real. Tudo parecia estar se alinhando de maneira perfeita. As horas haviam passado lentamente, como se estivessem preparando o terreno para a revelação. O simples teste de gravidez que eu havia deixado sobre a bancada da cozinha agora parecia carregar um significado muito maior do que um simples objeto.

Eu olhei para o teste, quase sem acreditar. Não era apenas uma simples peça de plástico. Ela representava o futuro, a vida, um novo começo. Eu não sabia exatamente o que esperar, mas uma certeza dentro de mim me dizia o que veria. O plástico branco e a linha rosa, antes simples e sem importância, agora carregavam o peso de uma nova vida, de um novo ser que estava prestes a entrar no mundo, algo que eu e Ayrton criávamos juntos. Eu estava esperando um filho de Ayrton Senna, o homem que, assim como corria nas pistas, amava a vida com a mesma intensidade, com a mesma paixão. Era mais do que um filho. Era uma promessa de futuro, de momentos que seriam eternamente nossos.

Segurei o teste nas mãos, quase sem acreditar no que via. O resultado estava claro, inconfundível: positivo. A alegria foi tão intensa que me senti tonta, como se o mundo girasse lentamente ao meu redor. Tentei controlar as emoções, mas as lágrimas começaram a escorrer sem aviso, como se finalmente a avalanche de sentimentos guardados fosse se libertar. Eu estava carregando nosso filho. O pensamento era grandioso, mas ao mesmo tempo, meu peito apertou de felicidade. Uma felicidade que parecia não caber dentro de mim.

Foi quando a porta se abriu. Ayrton entrou, cheio da energia de sempre, com aquele sorriso que sabia dizer tudo. Ele estava ali, com a mesma vitalidade de sempre, e, ao me ver, a expressão dele imediatamente mudou. Ele me abraçou apertado, e seus olhos brilharam ao me ver, mas logo percebeu algo diferente.

— Oi, amor — disse ele, mas logo percebeu algo diferente. — O que aconteceu? Você está chorando?

Eu sorri, tentando encontrar forças para falar. As palavras estavam presas na garganta, mas a emoção era indescritível.

— Eu... eu fiz o teste — minha voz tremia, mas minha emoção transbordava. Ele olhou para o teste e o mundo ao nosso redor pareceu parar por um momento. O olhar dele se fixou no resultado, e o sorriso se alargou instantaneamente. Seus olhos brilharam com a mesma intensidade da minha felicidade.

— Você está grávida? — Ele perguntou, a surpresa misturada com uma alegria pura. Era como se, naquele instante, o tempo tivesse parado. O momento era nosso, e a sensação de que algo grandioso estava acontecendo tomou conta de tudo.

Eu apenas assenti. Não consegui encontrar palavras naquele momento. Ele me puxou para mais perto, apertando-me contra seu peito. O calor do abraço, a presença dele, tudo me dava a sensação de que, finalmente, estávamos prontos para o que estava por vir.

— Eu sabia que esse seria o melhor momento da minha vida, mas tê-lo com você... torna tudo perfeito — disse ele, com a voz embargada, mas cheia de significado. O sonho de ser pais, de construir uma família, tomava forma diante de nós, e tudo parecia finalmente se alinhar. Nós dois, finalmente, estavamos começando uma nova jornada.

Os meses que se seguiram foram intensos. Entre os compromissos de Ayrton nas pistas e os preparativos para o bebê, cada dia trazia uma nova descoberta. Ele estava tão envolvido, tão presente em cada momento, que se tornou ainda mais claro o quão profundamente ele desejava ser pai. Ele fazia questão de estar em todas as consultas de ultrassom, perguntando sobre cada detalhe do desenvolvimento, ansioso para ver o rostinho do nosso filho. Ele até ajudava a escolher os móveis para o quarto do bebê, algo que eu nunca esperaria de um homem tão focado, tão imerso em sua carreira.

— Será que nosso filho vai gostar de velocidade? — brincou uma noite, enquanto montávamos o berço, rindo ao ver a complexidade dos móveis e acessórios que escolhíamos para o quarto do bebê. — Ou será mais tranquilo como você?

— Acho que vai gostar de desafios, como você. Mas espero que ele escolha uma vida menos perigosa — respondi, rindo, mas com um tom mais sério, já imaginando como seria o futuro.

Ayrton parou por um momento, o sorriso diminuindo um pouco. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, como se a ideia de ser pai estivesse mexendo com ele mais do que ele imaginava.

— Eu penso nisso todos os dias. Quero estar aqui para ele. Quero ser o pai que ele merece — disse ele, com uma sinceridade que me emocionou.

— E você será — disse, apertando sua mão, a certeza de que ele seria o melhor pai possível, alguém que se entregaria à paternidade com o mesmo coração que entregava à sua carreira. — Você sempre encontra uma forma de ser o melhor em tudo.

Os dias seguintes passaram rapidamente, até que o grande momento chegou. O clima na sala de parto estava tenso, mas cheio de esperança. Eu estava exausta, mas o amor que sentia pelo nosso filho, que ainda não havia nascido, me dava forças para suportar a dor das contrações. A cada respiração, eu sentia mais perto de viver um dos maiores momentos de minha vida. Ao meu lado, Ayrton segurava minha mão com firmeza, seu rosto refletindo uma mistura de preocupação e felicidade. Ele estava ali, forte, mas vulnerável diante da situação. Ele não sabia o que esperar, mas seu apoio incondicional me dava coragem.

— Eu te amo — ele sussurrou, com a voz cheia de carinho, seu olhar transmitindo toda a intensidade dos sentimentos que ele carregava. — Você vai ser a melhor mãe do mundo.

Eu sorri, entre as contrações, com o peito apertado, mas com o coração transbordando de amor.

— E você, o melhor pai — respondi, com a confiança de quem sabia que nosso filho tinha sorte de ter dois pais que o amariam com todo o coração.

O choro do bebê ecoou pela sala, e o tempo pareceu parar. Naquele momento, tudo o que existia era o som daquele choro, a presença de Ayrton ao meu lado, e a realização de que nossa vida acabava de mudar para sempre. Quando a enfermeira entregou nosso filho a Ayrton, ele olhou para ele, com os olhos marejados, e disse, com um amor imenso:

— Vou ensinar nosso filho a nunca desistir dos seus sonhos, assim como você me ensinou a nunca desistir dos meus.

Aquelas palavras ficaram gravadas em minha alma. Elas representavam o compromisso de Ayrton de ser o melhor pai que ele pudesse ser, de transmitir ao nosso filho a mesma paixão pela vida e pela luta por seus sonhos que ele sempre teve. E, naquele instante, soube que, juntos, seríamos capazes de ensinar a ele o que realmente importa na vida: nunca desistir, sempre acreditar e viver cada momento com intensidade.

***

Continua...

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