74 - Ayrton Senna (PARTE II)

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In Memoriam

"Eu vejo árvores verdes, rosas vermelhas também, vejo elas florescerem para mim e para você, e eu penso comigo mesmo, que mundo maravilhoso

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"Eu vejo árvores verdes, rosas vermelhas também, vejo elas florescerem para mim e para você, e eu penso comigo mesmo, que mundo maravilhoso."

***

A pausa na temporada de Fórmula 1 trouxe um alívio inesperado. Não que eu não amasse a adrenalina das corridas, mas o cansaço de ver Ayrton tão distante, imerso em seu trabalho, nas viagens e na pressão constante, era grande. Ele merecia um tempo para relaxar, para vivenciar algo que não envolvesse os roncos dos motores. Era como se estivéssemos presos em um ciclo incessante, onde o tempo para nós mesmos se esvaía entre compromissos e expectativas. Sabíamos que ele tinha uma vida excepcional, mas isso não impedia que ele fosse humano, que sentisse a necessidade de respirar, de ser apenas ele mesmo por alguns momentos.

Nunca imaginei que uma pausa traria uma surpresa tão emocionante. Eu estava na cozinha, preparando o lanche para o bebê, quando Ayrton entrou com um sorriso misterioso. Seus olhos estavam radiantes, como uma criança prestes a revelar um segredo. O sorriso dele tinha algo de mágico, algo que eu não via há muito tempo. Eu sabia que ele estava com um plano, mas o que poderia ser? Ele nunca gostou de ser previsível, sempre gostou de guardar seus gestos e surpresas para os momentos mais inesperados.

— Tenho uma surpresa para você — disse ele, com entusiasmo. — Se você gostar de magia, vai adorar.

— Magia? Onde vamos? — perguntei, curiosa, tentando entender o que ele tinha em mente. Os olhos dele brilharam mais ainda com a minha reação. Ele balançou a cabeça, mantendo o mistério e prolongando ainda mais minha ansiedade.

— Você vai ter que esperar. Mas amanhã a gente pega um voo, e eu prometo que será inesquecível.

Na manhã seguinte, o segredo foi finalmente revelado. Eu nunca teria imaginado que a surpresa fosse algo tão encantador. Ayrton me entregou um envelope com as passagens para Orlando, na Flórida, para visitarmos a Disney. Ele sempre falara sobre esse sonho, sobre como aquele lugar mágico representava mais do que diversão, mas a liberdade longe da pressão das pistas. Ele falava da Disney como uma espécie de refúgio, onde poderia ser ele mesmo, onde não teria que ser o "Ayrton Senna, o piloto", mas apenas um homem comum, com sua família, buscando viver algo leve e descomplicado. Isso me tocou profundamente. Ele, que tinha alcançado tudo no mundo das corridas, queria se perder na magia de um lugar tão simples, longe dos holofotes, de volta à essência do prazer puro.

— Você está me dizendo que vamos para a Disney? — perguntei, incrédula, tentando processar a informação. A Disney nunca parecia estar no radar dele, alguém tão imerso em seu universo de competição e desafios. O gesto de escolher aquele destino, por mais simples que fosse, dizia muito sobre ele.

— Sim — respondeu, sorrindo de maneira suave, como se, finalmente, ele estivesse se permitindo ser apenas um homem comum, vivendo um sonho com a família. Era um sorriso cheio de cumplicidade, como se ele já soubesse o quanto aquilo significava para nós.

A viagem foi mágica. Ao chegarmos em Orlando, a emoção de Ayrton era palpável. Ele se comportava como uma criança, encantado por cada detalhe dos parques. Seus olhos brilhavam diante da grandiosidade e da magia que permeavam aquele lugar. O bebê, ainda pequeno, não entendia muito, mas o brilho nos olhos de Ayrton ao vê-lo observar o colorido dos parques era o suficiente para aquecer meu coração. Era impressionante como a simples presença de nosso filho podia transformar até o ambiente mais incrível em algo ainda mais especial. Ayrton estava vivendo algo que ele jamais havia experimentado dessa forma: o prazer de compartilhar esse momento com a sua família, sem as pressões que costumavam moldar sua vida cotidiana.

Passeamos pelos parques, e era impossível não ver a transformação de Ayrton. Ele não era mais o piloto focado nas corridas, mas um homem feliz, de mãos dadas comigo e com nosso filho, rindo e se encantando com cada atração. Cada sorriso dele parecia carregar uma alegria genuína, uma pureza que eu não via há tempos. O ritmo frenético da sua vida, a pressão imensa de ser sempre o melhor, pareciam ter sido deixados para trás, ali, naquele pedaço do mundo onde o único objetivo era aproveitar o momento. O bebê estava descobrindo um mundo novo, e nós, como pais, estávamos redescobrindo a felicidade simples que muitas vezes deixamos passar, atolados na rotina.

A risada dele ecoava por todo o parque, e eu não conseguia deixar de sorrir ao ver como ele estava leve e puro. Ele, que sempre fora sério e imerso no mundo das competições, agora estava ali, se entregando ao prazer das pequenas coisas, como se o tempo tivesse parado. Aquele dia foi um lembrete de que, por mais que a vida fosse agitada, havia beleza nos momentos simples. Às vezes, a felicidade estava em um sorriso compartilhado, em um olhar trocado entre pai e filho, na sensação de estar ali, juntos, em um lugar que significava mais do que qualquer corrida ou vitória.

No final do dia, assistimos ao show de fogos de artifício no Magic Kingdom. O céu iluminado, o castelo de Cinderela, e a música que acompanhava os fogos nos envolviam em uma magia indescritível. Era como se tudo se alinhasse perfeitamente. Ayrton me puxou para perto, e com o brilho nos olhos, sussurrou:

— Eu sempre quis viver isso, mas viver com vocês é melhor do que qualquer sonho.

Essas palavras, ditas com tanta sinceridade, foram a verdadeira surpresa da viagem. O homem que sempre parecia carregar o peso do mundo nos ombros, que tinha conquistado tudo que podia no esporte, agora se via realizado de uma maneira simples: vivendo uma experiência que o fazia sentir-se, pela primeira vez em muito tempo, verdadeiramente livre.

Aquelas férias, aquelas poucas horas de magia e simplicidade, se tornaram um marco na nossa vida. Ayrton havia me mostrado, de uma forma suave e encantadora, que, por mais que a vida nos desafie, sempre há espaço para a leveza, para a beleza de uma pausa, para o prazer de estar ao lado de quem amamos. O que poderia parecer apenas uma viagem para um destino turístico se tornou uma experiência de vida que guardamos no coração.

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Continua...

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